Sobre vícios, castelos e comida

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`Prato que o celebrado chef Alain Ducasse serve em seu restaurante Plaza Athénée. em Paris. Foto - redes sociais
`Prato que o celebrado chef Alain Ducasse serve em seu restaurante Plaza Athénée. em Paris. Foto - redes sociais

Adoro maratonar séries históricas. Aqui em casa andam dizendo que é vício. Né nada! Pra tudo há uma explicação. Até pra pra essa minha quedinha por castelos, heroínas e vilões.

A Pamela B. Rutledge, especialista em Psicologia da Mídia, me tranquilizou. Ela garante que os dramas de época nos permitem experimentar emoções extremas sem a ameaça existencial. Ela diz que os personagens são frequentemente arquetípicos, sejam eles heróis, parceiros ou o vilão. E tem mais. Uma boa história permite que o espectador, no caso euzinha aqui, seja transportado para a narrativa e experimente a cena de dentro, identificando-se com o personagem.

Diz a Pamela que as histórias criam uma sensação de presença, de “estar lá”. Isso faz com que a gente se sinta um participante e não apenas um observador da cena.

Dito isso, desde que conheci a Pamela passei a me inserir, sem medo de ser feliz, como personagem em cenas épicas, românticas e gloriosas. Até já me permiti, acredite, banquetear em Versalles, em um dos magníficos banquetes servidos ao rei Luís XIV.

E vamos à historia: naquela época, século XVIII, sempre que sentava à mesa, o Rei Sol tinha a sua disposição de 30 a 50 iguarias. De peixes de água doce a carnes de caça e aves de todos tipos. Nem os pavões e cisnes escapavam da gulodice do Louis XIV e dos seus súditos. Mas nem só de carne vivia a realeza. Os legumes da horta real eram acompanhamentos para as carnes. O destaque ficava para a ervilha. O rei era viciado nessa leguminosa.

Mas é só história? Que nada! Saiba que hoje, século XXI, em Paris, no restaurante Ore, em pleno Palácio de Versailles, o chef Alan Ducasse assina o cardápio de um jantar privativo que reproduz não só o cerimonial, como também os cardápios, a louça, o serviço e a decoração dos tempos do Louis XIV. Só pra esclarecer, não se trata propriamente de um jantar. Na verdade, o que se tem é uma verdadeira experiência histórica e gastronômica.

Tudo começa quando o maitre, como exigia o protocolo no século XVII, grita a plenos pulmões:

  • Messieurs, à la viande du roi ! (Senhores, vamos para a carne do Rei!)

A partir daí, os garçons, usando perucas e uniformes da época, começam a servir o banquete de 44 pratos. São quatro entradas: caldo de ervas, legumes ao natural, croquetes de rã, lagostinhas com caviar e cogumelos recheados.

Na sequência, mais três pratos principais: peixe ao molho holandês, patê quente de carnes de caça, galinha com lagostinhas. Depois, mais dois pratos menores: tortas de trufas brancas e pretas e guisado de cogumelos selvagens. E pra finalizar, três sobremesas: groselhas com água de rosa, bolo Fontainebleau com morangos do mato e o famoso bolo de chocolate Louis XIV.

Dito tudo isso, você deve estar aí se perguntando com qual personagem eu mais me identifico. É com o rei? Ou quem sabe com o chef Alan Ducasse (quem dera!)? Vai ver que é com garçom? Na, na, na, não. Sou uma das convidadas e estou sentada à direita do Rei.

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