De volta às horinhas de descuido

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Imagem - Pixabay
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Há alguns dias uma amiga querida mais que demais me alertou numa mensagem de whatsapp:

  • O que você tem lido, Gi? Estou sentindo falta dos seus comentários.
    Pois, é!  A Lucianara tem toda razão. Tenho lido menos mesmo. Sai da pandemia com uma sensação de cansaço absurda. O retorno ao mundo real não tem sido exatamente um mar de rosas. Além dessa exaustão ainda tenho me desencontrado do relógio. Descompasso total.  Ando brigando com o tempo, inclusive, para colocar a leitura em dia. E como ela me pediu que voltasse a dar dicas de bons livros, recorri a um que li ainda no início da quarentena.

“Mulheres sem nome” é um romance extraordinário. Foi escrito pela publicitária Martha Hall Kelly. E é sempre assim. Quando me encanto com um livro tenho dificuldade de me desapegar. Isso com direito a micos e flagras:

  • Tia Gisele, chorando de novo?
  • Ah, Bernardo, é esse livro. Ele tá me tirando do eixo.
  • Tia Gisele, você é a única pessoa que passa a madrugada inteira lendo. Não conheço mais ninguém assim.

(Ops! Olha o relógio aí de novo.)

  • Ah, Bê, daqui a pouco a tia vai dormir. Vou ler só mais uma página.

Voltando ao livro, “Mulheres sem nome” é inspirado em protagonistas reais da II Guerra Mundial. Os capítulos são narrados pelas próprias personagens. São elas que conduzem o leitor por uma narrativa ambientada na Polônia, Estados Unidos, França e Alemanha.

Só mais um spoiller: o livro narra com riqueza de detalhes a história das “Coelhas de Ravensbrüik, mulheres usadas como cobaias pelos nazistas em terríveis experiências com sulfonamida.

Recomendo muito.

Por falar em relógios lembrei de um post do Osley José, um chef que admiro muito. Ele diz que o constante movimento dos ponteiros pode ser aflitivo se medirmos nossa vida exclusivamente pelo relógio. E dá uma dica de ouro: “O que passa é também tempo vivido e por bem e sempre pelo bem, devemos passar… bem.”

Osley tá mais que certo. Mira no alvo e acerta bem aqui quando diz que “afeitos à boa passagem do tempo, os momentos de partilha são aqueles em que a dança dos ponteiros não interessa, pois os olhos, as mãos e o coração, estão juntos, na eterna quadrilha do carinho.”

E como o Osley também é que nem eu e compartilha tudo que é bom, encontrou tempo para criar esse bolo batizado por ele de “Mais que depressa, um carinho”.

Segue a receita:

Unte e enfarinhe uma forma de furo central e já coloque o forno para aquecer a 180 graus.

Então, coloque no copo do liquidificador, nesta ordem: 3 ovos, 3/4 do copo de leite, 1/2 copo de óleo de milho, 1 maçã com casca, sem sementes, partida em 4 pedaços, 2 copos de açúcar, 2 1/2 copos de farinha de trigo, 1 colher sopa de fermento em pó, 1 colher de amido de milho, 1 pitada de canela em pó. Bata por 3 minutos, coloque na forma e asse por cerca de 45 minutos. Ou então use o truque que as nossas avós nos ensinaram: enfie um palito. Saiu seco, tá pronto.

Aí é só não perder tempo. Enquanto o bolo esfria e perfuma a casa inteira, coe um café. Ficou pronto, vá degustando, agora sem pressa. Comemore o seu dia, faça valer cada minuto do seu cotidiano e tudo que ele nos oferece de bom. Aproveite para retomar a leitura daquele livro que você deixou pela metade. Essa é mesmo uma boa hora.

Ah, e por falar em livro, “Alice no País das Maravilhas” é sempre uma boa opção para um retorno aos clássicos da literatura. A menininha que caiu em um buraco teve muitos embates com o relógio.

“Quanto tempo dura o eterno? Às vezes, um segundo.”

É assim mesmo. E é nesse segundo, tipo momento do café com bolo, nas famosas “horinhas do descuido roseanas” é que a gente encontra essa tal felicidade.

Mas voltando à Alice, em determinado trecho do livro ela diz que “a gaveta da alegria já está cheia de ficar vazia”. Pois, é! Nós, da geração pandêmica, também estamos com essa sensação. Mas, vá por mim. Foque no simples. Que tal se espelhar no chef Osley e se fazer “mais que depressa, um carinho”? Café com bolo já é um bom começo.

11 COMMENTS

  1. Amei!!!! Muitas verdades em poucas palavras!!!!Vou ler o livro e me deliciar com a receita desse bolo………❤️

  2. “E quando acaricio a cabeça de meu cão – sei que ele não exige que eu faça sentido ou me explique.”

    Sei que cada
    dia é um dia
    roubado da
    morte.

    Clarice, apesar de um certo pessimismo existencial, sabia que cada dia é fundamental e merece ser bem vivido. E que a resposta está nas coisas simples.
    Mande sua receita de broa de fubá. Vc usa cravo e erva-doce? Leia sempre, mas não esqueça que dormir também é importante.

    • Sobre dormir, até que tento. Há dias que dá certo; em outros, não. Mas vou tentando. Uma hora consigo as tais 08 horas recomendadas pro nove entre dez médicos.
      Vou resgatar uma receita de bolo de fubá de um caderno centenário que era da minha avó. Como fico trocando de casa , de cá pra lá, de lá pra cá, vou procurar em qual estante está e lhe passar no detalhe. Nessa receita vai, sim, erva doce e canela.
      Enquanto isso, faça esse bolo que não tem como dar errado. faço com frequência. Todos amam.
      Bolo de milho com requeijão
      • 1 lata de milho verde (sem água da conserva)
      • 1 lata (a mesma do milho) de flocos de milho pré-cozidos (Milharina) ou flocão
      • 3 ovos
      • 1 lata de açúcar
      • 1/2 lata de leite
      • 1/2 lata de óleo
      • 1 pitada de sal
      • 3 colheres de sopa rasa de farinha de trigo
      • 1 colher de sopa rasa de fermento em pó
      • 1 copo de requeijão cremoso consistente (ideal que não seja light)
      Modo de Preparo
      1. Bata tudo no liquidificador.
      2. Unte uma forma com um buraco no meio e polvilhe com Milharina, despeje metade da massa e coloque, em colheradas, todo requeijão e, por último, despeje o restante da massa.
      3. Asse em forno pré-aquecido a 180°C por aproximadamente 40 minutos (até ficar bem corado).
      Fica delicioso. Perfumado, saboroso e fofo.
      Obrigada por estar sempre por perto.

  3. Para mim seus textos,sua maneira clara e íntima de lidar com elas são um carinho.E vindas com sugestão de bolo e receita é a fórmula perfeita para completar ou começar a encher a “gaveta da alegria”
    Obrigada pelo carinho,pelo tempo,por você ❤️

    • Obrigada, minha querida, por me guardar no seu coração e na sua vida. Sua presença por aqui me enche de alegria. Beijo.

  4. Obrigada, minha querida, por me guardar no seu coração e na sua vida. Sua presença por aqui me enche de alegria. Beijo.

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