A história inspiradora da Neide e de seu projeto Vida Corrida

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Neide anima a criançada do Capão Redondo, que participa do projeto Vida Corrida, ação social que vem transformando a vida de crianças e mulheres do bairro. Foto - Facebook-Projeto Vida Corrida
Neide anima a criançada do Capão Redondo, que participa do projeto Vida Corrida, ação social que vem transformando a vida de crianças e mulheres do bairro. Fotos - Facebook-Projeto Vida Corrida

Marineide Santos Silva, 58, ou apenas Neide Santos, como é conhecida, teria todos os motivos do mundo para achar que a vida não vale a pena. Saiu de Porto Seguro (BA) com 6 anos de idade, quando sua mãe decidiu entregá-la para adoção. Na viagem, ela conta, foi vítima de seu primeiro abuso. Foi morar numa oficina de costura no Brás, onde não estudava, não brincava. Só trabalhava e sofria abusos, situação que durou até os dez anos.

Já adulta, mudou-se para Capão Redondo, um bairro da região Sul de São Paulo, conhecido por altos índices de violência. Ficou grávida aos 18 anos e se casou. Dois anos após o casamento, o marido foi assassinado por um policial militar, outra tragédia na sua vida, mas não a última. Casou-se novamente e teve mais dois filhos. Em 2000, o primogênito, Mark, com 21 anos, casado e pai de dois filhos, foi assassinado por um adolescente de 14 anos.

Transformando vidas

Neide Santos, que é também costureira, criou o projeto Vida Corrida para ajudar as crianças da comunidade onde vive.
Neide Santos, que é também costureira, criou o projeto Vida Corrida para ajudar as crianças da comunidade onde vive.

Mas a costureira Neide não desistiu da vida. Ao contrário, encontrou forças para criar o Vida Corrida, um projeto de esporte que, há 20 anos, vem transformando vidas na comunidade do Capão Redondo. Apaixonada por corrida desde os 14 anos, ela começou a correr pelo bairro, já na fase adulta, para ajudar uma vizinha que queria fazer uma atividade física e não parou mais.

Outras mulheres foram se juntando ao grupo e em 1999 Neide decidiu que o foco principal do projeto deveria ser as crianças da comunidade. “Meu filho me dizia que se a gente não adotasse as crianças da comunidade alguém iria adotar. Se a gente não ocupasse o tempo ocioso delas, alguém iria ocupar”, declarou Neide em entrevista à Agência Mural de Jornalismo das Periferias.

Hoje, o Projeto Vida Corrida atende mais de 700 pessoas, a maioria mulheres e crianças, todas do Capão Redondo. Além dos treinos de atletismo, os participantes também fazem treinamento funcional, sempre no Parque Ecológico Santo Dias, antes um espaço usado para consumo de drogas.

Neide revela com orgulho que em 20 anos de projeto, apenas duas alunas adolescentes ficaram grávidas, o que é um indicador considerado muito bom, já que, no Brasil, a cada mil meninas com idade entre 15 e 19 anos, 68 engravidam, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Outro motivo de orgulho para Neide: 30% das mulheres do projeto hoje têm nível superior. Isso porque ela começou a fazer parceria com universidades para que as alunas tivessem oportunidade de continuar estudando.

“Escolhi viver com amor”

Neide acolhe no Vida Corrida crianças de todas as idades

E, graças ao projeto Vida Corrida da Neide, o Capão Redondo ganhou também atletas profissionais. É o caso de Julio Cezar Agripino Santos, atleta fundista paraolímpico, e Jonathan Santos Rocha, promessa para equipe de atletismo das Olimpíadas em 2020, ex-alunos do projeto.

Neide dos Santos, com uma penca de motivos para reclamar e até desistir da vida, fez do projeto social o seu principal combustível e, com seu trabalho, ajuda e inspira centenas pessoas. “Tinha todos os motivos do mundo pra dar errado, mas eu escolhi viver com o amor. Eu sou carregada no 3G: gratidão, generosidade e gentileza”.

A bonita história da Neide e do projeto que ela criou passou a contar com o patrocínio da Nike, que fez um filme sobre o Vida Corrida que está está sendo exibido em todo o mundo. Veja abaixo:

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