Costelada no chão: o sabor quem dá é a amizade

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Costelada no chão é bom motivo para reunir amigos

Sempre fui de colecionar afetos, amigos, boas histórias. Hoje mesmo, enquanto conversava com uma nova amiga, me dei conta de quantos bons amigos eu tenho. Sim! Para contá-los, me faltariam dedos nos pés e nas mãos. Já ouvi muitas vezes: “Ninguém tem tantos amigos assim. Não podemos confiar em todos…”. Claro que não!

Nós (eu e eles) somos falhos, incompletos, insatisfeitos, incoerentes. Natural que, eventualmente, a decepção se faça presente. Faz parte do processo fazer ajustes nas relações, assim como fazemos em nossos carros. Amizades não se mantêm por décadas sem manutenção, sem uma renovada na pintura. Sabe aquela tradição do avô, de lavar o carro no sábado antes do almoço? Amizades também exigem tradições e eu as mantenho e cultivo “para saber quem eu sou” (Oscar Wilde).

No fim de semana passado, comemoramos o aniversário de um amigo querido — Fava — e mais uma costelada foi organizada — a 12ª desde o início da tradição. Em uma turma de amigos que existe há pelo menos duas décadas, para alguns, esse é o único momento do ano em que é possível estar presente.

Amigos reunidos observam a costelada no chão | Fotos: Thiago Jacinto Penas

O preparo começa na noite anterior. A lenha é cortada e organizada para formar um círculo. Simbólico, já que tudo começou com um elo, amigos preparando juntos o alimento que nutrirá a todos.

A costela é salgada com sal grosso e espetada no chão, e o tempero é apenas esse. Precisa de mais? Quantos sacos de sal temperaram a maturidade de uma amizade de 20 anos?

À medida que o fogo consome a lenha, forma um cinturão de calor. A gordura e a saudade vão sendo derretidas com as labaredas que sobem e os amigos que chegam. Ateamos fogo às 3h da madrugada, começamos a comer às 15h de sábado. Nessas 12 horas de espera, a tradição da família paranaense do Fava foi dando espaço a outra tradição.

As costelas e as brasas depois das 12 horas

As bebidas coloridas e mortais do Geleia, as músicas de descer até o chão da Natália e da Valeika, as piadas ácidas de Bibila, Presunto, Zé, Luciano e Virgínia que dão gosto ao molho da vida.

A lealdade e a energia dos “caçulas” Rafa e Agnes. O humor amigável do Fava e do Dan. A memória de elefante da Lara que revive aqueles detalhes mais “esquisitos”, que a gente finge esquecer. Os registros (a seguir) do Diehl que eternizam nossos momentos na vida e na cozinha.

A doçura do Penas e da Carol, sempre com um sorriso e um abraço gratuito para dar a todos nós. Tia Selvina, Vó Nair, Tia Nara e Nelson… quantos já aguentaram essa turma de malucos. Acho que, no fim, essa carne é temperada com muito mais que sal.

Nas últimas costeladas, tivemos ainda um sabor doce de quem vai dar sequência ao nosso caminho e tradição. Nossos filhos interagindo, brincando de fazer milk-shake de chocolate e terra (não é, tia Naty?). E como não falar dos maridos e das mulheres? Nossos parceiros corajosos que enfrentam essa maratona insana conosco!

Costela na faca para celebrar as amizades

Agosto é um mês fresco aqui no Triângulo e não estamos acostumados com esse vento frio que costuma bater na beira do rio Uberabinha. Talvez por isso a costelada seja feita no aniversário do Fava, assim a gente aquece o corpo, o estômago e o coração.

Para os amigos residentes, sábado é dia de cerveja. Para os que viajaram de volta, “qualquer dia a gente se vê”. E, quando quiserem voltar, saibam que aqui sempre será um lar.

Costelada no chão

Tempero: Sal grosso e paciência.

Para reproduzir a técnica em casa, encontrei um vídeo com algumas adaptações bem bacanas que conseguem reproduzir a fogueira. Basta dividir um tambor ao meio e adaptar com um calço. A ideia é que a costela fique espetada na vertical e seja aquecida nos dois lados, como na figura abaixo. Quando acaba a brasa, costela pronta.

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Confira as crônicas e as receitas de Marina Cunha na coluna Cozinhas Gerais!

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