Histórias guardadas no armário

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Imagem - Pixabay
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Entre a cruz e a caldeirinha. Ou seria entre a cruz e a espada? Ah, sei lá! A verdade é que quando abro a porta do meu armário cai roupa para todo lado. Se fecho a porta sem descartar uma peça sequer, aí não da outra. Bate uma culpa enorme. Para que é que eu guardo tudo isso? Preciso desapegar.

Sabe aquele conceito sobre mobilização tantas vezes repetido? “Mobilizar é mais que convidar; é convocar vontades. É migrar do conhecimento para a ação”. Pois, então! Bernardo Toro estava (e está) coberto de razão. Eu tenho que querer verdadeiramente. Só a partir desse desejo é que me movo em direção àquilo que preciso realmente fazer. Sou o próprio desafio que o conceito impõe. Sei que tenho que desapegar. A questão é que amo cada pecinha guardada ali dentro, algumas com tantos anos de uso que já nem sei.

Para você ter ideia, tenho peças que datam de mais de duas décadas. Como sou chegada num clássico, não estão fora de moda. São todas usáveis e ainda têm história e pegada vintage que é para agradar aos “mudernos”.

  • Nossa, Gisele! Que roupa linda!

Nada de dizer “que nada! Essa roupa é velha. Tem para mais de vinte anos”.  Diga apenas que é linda mesmo. Diga que ama, que essa peça guarda um tanto de memória, que é impossível se desfazer dela.

Essa memória pode ser um beijo, um abraço, parte de uma viagem inesquecível, um encontro inesperado, um almoço ou um jantar em família ou uma voltinha pela cidade em um dia qualquer.

Por falar nisso, adoro flanar pelas ruas, sem agenda, sem compromisso, com paradinhas para um café, um pão de queijo, um croissant, um pedaço de torta. Tipo aquela história de “sem lenço, sem documento”. Foi num desses meus bordejos pela Savassi que em um primeiro dia de raras férias decidi tomar uma taça de espumante em plena tarde de quarta-feira em um determinado shopping. Foi nessa horinha de descuido que conheci uma pessoa muito especial. Encontro inesperado que rendeu inúmeras histórias. Algumas inconfessáveis; outras, nem tanto. Se durou muito tempo? Não. Só o necessário para se tornar inesquecível. Ficaram as lembranças dos bons momentos, a roupa que ainda visto com frequência e a trilha sonora que minha família não aguenta mais ouvir.

  • Não vai me dizer que você está ouvindo Virgínia Rodrigues de novo, Gisele!

“Pro meu grande amor, meu amor …” Adoro. Se você ainda não ouviu Virgínia Rodrigues não sabe o que está perdendo. É muito linda a interpretação dela pra essa canção eternizada pelo suingue e pelo vozeirão de Tim Maia.

Ah, voltando ao armário superlotado, há pouco tempo, numa incursão não programada pelos cafundós do dito cujo, “achei” um vestido de couro belíssimo. Criação do meu tio Maneco Resende, estilista que marcou época, uma das referências do Grupo Mineiro da Moda. Apesar de ter sido criado há décadas, o modelito é atemporal. Esse eu tirei do armário. Virou presente especial para a minha sobrinha Ana Dulce.

Se a limpeza do armário (que já foi chamado de guarda-roupa, tipo alpendre que virou varanda) tem data para acontecer?  Não vai ser hoje, não. Qualquer dia faço isso. Por enquanto ainda não estou mobilizada para desapegar. Fico devendo.

4 COMMENTS

  1. Obrigada, minha querida! Na verdade, esse texto tem um que de metafórico. A minha cabeça e a minha alma andam bem assim. Desarrumadas. Bagunçadas. Beijo para vc.🌹

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