O que é melhor? Isto ou aquilo?

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Imagem - Pixabay
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Gosto mais de bosques que de florestas. Não é que eu desgoste delas. Simplesmente prefiro. Isso também vale para riachos e mares, colinas e montanhas, borboletas e cobras, pássaros e aranhas. Contrapontos? Escolhas? Sei lá. Abro exceção apenas para pessoas. Nesse caso, admito que tenho preferência, sim. Por aquelas de bom coração. Para as solidárias, generosas e leais.
Em dezenas de anos – são tantos que nem sei quantos – entre idas e vindas de Conceição do Pará a Belo Horizonte, conheço de cor cada detalhe da estrada. De olhos fechados, só pelo sacolejo, pelas curvas e declives, reconheço a Serra da Boa Vista, a planície que se estende depois de Pará de Minas.
Sei dos ipês que se exibem desavergonhados. É quando abro os olhos. Há anos sei que no início da temporada surgem os de cor roxa. Tem também aqueles que se vestem de rosa; depois de amarelo e, por último, o branco. Presentes de Deus para olhares como os meus, cansados de tanto concreto urbano. Uma pena que a florada dure tão pouco. Sobrevive apenas por uma semana. É a conta do meu ir e vir. Sete dias depois os ipês pedem uma trégua. Hora do meu coração ficar apertado.

– E se algum desavisado acha que a árvore secou e resolve dar um fim nela?

Essa angústia se prolonga até que chega o momento em que o ipê se cansa de hibernar. Finalmente se veste de verde. Pausa para o sofrimento. Hora de voltar a me encantar. Dessa vez são as buganvílias vermelhas. Lindas, exuberantes. Uma enfeita a porteira da fazenda perto do Pacal. Logo depois, surgem outras buganvílias igualmente lindas. Amarelas e alaranjadas. Antes, tem a ponte sobre o Rio Pará. Logo depois, a curva onde enterrei parte do meu coração. Assunto para outro momento.
Pensando bem, por esse caminho não há floresta. Só bosques. Não há mar. Nem mesmo de montanhas. Só colinas pontilhadas por árvores, paraíso de pássaros e refúgio das borboletas.
E não é que toda essa conversa me lembrou um poema fantástico? Aquele que Cecília Meireles escreveu para o público infantil e que todo mundo sabe quase de cor:
“Ou se tem chuva e não se tem sol, /ou se tem sol e não se tem chuva! Ou se calça a luva e não se põe o anel, / ou se põe o anel e não se calça a luva! / Quem sobe nos ares não fica no chão,/ quem fica no chão não sobe nos ares./ É uma grande pena que não se possa/ estar ao mesmo tempo nos dois lugares!/ Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,/ ou compro o doce e gasto o dinheiro./ Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…/ e vivo escolhendo o dia inteiro!/ Não sei se brinco, não sei se estudo,/ se saio correndo ou fico tranquilo./ Mas não consegui entender ainda/ qual é melhor: se é isto ou aquilo.”
Adoro como a Cecília Meireles fala com as crianças sobre as escolhas. De forma lúdica, essa poeta que muitas vezes me traduz, conta para os pequenos que as escolhas são obrigatórias. Não se pode ter tudo o que se quer. Muitas situações (e como eu sei sobre isso) que se apresentam no nosso dia a dia não nos permitem fugas. Mesmo que sejam escapadelas temporárias. Não se pode ter tudo. É por isso que sofremos com as escolhas. A incompletude traz sofrimento. Mas assim é a vida, né mesmo? Sempre assertivo, Fernando Pessoa acertou no alvo: “navegar é preciso. Viver não é preciso”.
Um desejo? Ah! Vários! Um deles, talvez o principal, é que nessa viagem em direção a um porto seguro eu seja guiada por pessoas boas, generosas, gentis. Nesse caso, tenho escolha, sim. É só saber enxergar com o coração. Tá aí o Renato Teixeira que não me deixa mentir:
“A amizade sincera / É um santo remédio, é um abrigo seguro/ É natural da amizade/ O abraço, o aperto de mão, o sorriso/ Por isso, se for preciso/ Conte comigo, amigo, disponha/ Lembre-se sempre que, mesmo modesta/Minha casa será sempre sua/ Amigo/ Os verdadeiros amigos/ Do peito, de fé, os melhores amigos/ Não trazem dentro da boca/ Palavras fingidas ou falsas histórias/ Sabem entender o silêncio/ E manter a presença mesmo quando ausentes/ Por isso mesmo, apesar de tão raros/ Não há nada melhor do que um grande/ Amigo”.

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