O despertar de um tsunami de lembranças!

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"Vendas" ainda são comuns no interior de Minas. Foto - Pinterest

Há poucas semanas, aqui nesse nosso minifundio, falei sobre um causo ocorrido na Venda do Tisnado. Foi o bastante pra despertar um tsunami de lembranças. Todo mundo tinha algo pra contar.

Aqui em casa todo mundo lembrou da “Venda do Seu Dimas”, uma espécie de prima antiga de uma “loja de departamentos”. Marcou a história de Conceição do Pará. No primeiro cômodo o Seu Dimas vendia bebidas que dividiam o espaço com uma mesa de sinuca e com o primeiro aparelho de TV da cidade. Uma novidade que atraia muita gente. No cômodo seguinte ficavam os tecidos, as fitas, linhas e adereços. E, no último, as ferragens e os sacos de mantimentos. Todo mundo comprava lá.

Sobre a “Venda do Tisnado”, a Maria Viana comentou que o local fez parte da adolescência dela:

  • Minha prima morava no casarão coladinho na “Venda do Tisnado”. Adorava entrar na venda e procurar os produtos.

A Astrid Freitas prometeu dividir outros causos conosco. A mãe testemunhou vários:

  • Minha mãe tem umas histórias dessa venda e morre de rir quando conta. Ela também morou ao lado da venda.

A Judith Viegas abriu logo o verbo e lembrou de um fato memorável. Contou de quando o escritor Paulo Mendes Campos levou um grupo de amigos pra conhecer Pitangui. O roteiro incluía, obviamente, uma visita à Venda do Tisnado. Uma das amigas queria comprar panelas de pedra. Foram todos para o Tisnado. Foi aí que desabou um temporal. Era tanta água que desmanchou uma parede de rapadura. O melado se misturou aos sapatos, roupas, fumo de rolo, fitas, adereços e afins. Tudo devidamente molhado e adoçado.

A Lourdinha Viegas, que é amiga de uma das filhas do Tisnado, encaminhou o texto pra ela e depois contou que a moça ficou emocionada e a conversa entre as duas rendeu outras boas histórias.

Conversa vai, conversa vem, é causo que não acaba mais. Até que alguém começa a citar que nos grotões das Minas Gerais ainda hoje há muitas outras “Vendas do Tisnado”.

Aqui, bem pertinho, nas fraldas da Serra da Saudade, em Estrela do Indaiá, a Venda do Marinho ainda hoje disputa clientela com a Venda do Seu Joaquim. E, pasmem, o Marinho não faz a menor questão de vender o estoque. Gosta mesmo é de ficar por ali admirando os arreios, as bacias, os potes, aquele canivete que você achava que só o seu avô exibia orgulhoso. Herança de família. E as cachaças, então? De vez em quando alguém dá sorte e é premiado com uma garrafa. Haja poeira e teia de aranha pra enumerar os anos que a preciosidade ficou envelhecendo ali nas prateleiras do Mazinho.

Em outra região, lá pros lados da Mantiqueira, há anos, durante uma viagem a trabalho, passei por São José das Três Ilhas, uma lugarejo encantador que mais parece cenário de filme. Aliás, me contaram que Lavoura Arcaica e o Menino Maluquinho foram filmados ali.

As pessoas que visitam o lugarejo se encantam com o casario colonial e com a Matriz de São José. A igreja foi erguida com recursos cedidos por três barões do café e é datada do final do século XIX. Com a abolição da escravatura as obras foram interrompidas. Só foram retomadas anos mais tarde. A partir dai as pedras utilizadas na primeira fase da obra foram substituídas por tijolos de barro, mais leves e mais barato. Afinal, não havia mais a mão de obra escrava. Mas aí já é assunto pra outro dia. E se eu cheguei até aqui é pra contar que lá em São José das Três Ilhas garimpei mais uma “Venda do Tisnado”.

Se eu resisti ao maço de macarrão Liane? É aquele mesmo que a gente comia na infância. Comprido, grosso, embalado em papel azul. É claro que não. Mal pude acreditar quando vi o macarrão na prateleira. Uma verdadeira relíquia. Saudosismo? Que nada. É saudade mesmo.

Se aí na sua cidade também tem uma “Venda do Tisnado”, conte pra nós. Certamente vai render muita prosa boa. Lembrando que eu me alimento de histórias. Acredito que você também.

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