Não sou eu quem me navega

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Pxabay
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Ah, o amor! É faca afiada. Eta coisa que mexe com a gente. Tira do sério. Move montanhas. Transpõe fronteiras. Desalinha.

Até eu ando mexida por causa desse tal de amor. Flechada na alma por dois livros magistrais.

“Tudo é rio” foi escrito pela querida Carla Madeira. Pela força narrativa e pela sensualidade da escrita deixou marcas profundas. Quase perdi o fôlego.

Com “Dois rios”, da surpreendente Tatiana Salem Levy, não foi diferente. Ambos desaguaram em mim como cabeças d’água. Vieram em borbotões. Impossível parar de ler. Com gosto de quero mais.

Mesmo que os tempos sejam distintos, cenários e histórias, idem, nas duas obras o amor liga Lucy, Dalva e Venâncio, de “Tudo é Rio”, à Joana, Antônio e Marie-Ange, de “Dois Rios”. O amor é o fio condutor.

“Um monte de gostar. Gostar de falar, gostar de tocar, gostar de cheirar, gostar de ouvir, gostar de olhar. Gostar de se abandonar no outro. O amor não passa de um gostar de muitos verbos ao mesmo tempo.”

E num é que é? A Carla crava na veia. Essa moça sabe das coisas. Fecho com ela.

Eu, por exemplo, gosto de bolos. De gente, já gostei mais. Ah, gosto de muitas outras coisas. A lista é extensa. Gosto do por de sol, por exemplo. Me perco de amores por essa hora que a Carla descreve como “a mais triste das tardes. É quando a saudade parece apertar o coração do mundo.”

Por isso, a hora do lusco-fusco não é recomendada pra quem ficou orfão do amor. É tristeza na certa. “Perder amores é escurecer por dentro, uma memória do corpo que o entardecer evoca quando tinge o céu de vermelho. Para quem está sozinho depois de ser amado, o fim do dia é muito triste”.

Dói mesmo. E se aquele amor ficou marcado que nem tatuagem, pior ainda. “Amor entranhado pertence a lugares em que a gente não manda mais.”

Ah, e não venha você querendo fugir do amor. Dora, Venâncio e Lucy bem sabem disso. Joana, Antônio e Marie-Ange, também. “… logo me dou conta de que você era meu caminho de casa, e sozinho, não sei como voltar”, lamenta Antônio, recortado aqui só pra ilustrar o tamanho do problema.

E pra concluir essa conversa toda sobre esse tal de amor, tá cravado lá na obra da Tatiana: “na vida, ao contrário do que acontece nos livros, o fim vem sempre no fim; o começo, no começo. Pudéssemos inverter a ordem das coisas, muitas histórias não existiriam.”

É bem assim mesmo. Será que a Carla concorda?

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