Gastronomia: evolução, história e espiritualidade

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Receita do bolo de mel

Fico fascinada com o tamanho do universo cultural que é a alimentação. Através do alimento, podemos estudar a evolução do Homo sapiens, dos povos, dos impérios, da cultura e, por que não, da espiritualidade.

Quando o homem pré-histórico desenvolveu ferramentas (há 2,6 milhões de anos) e descobriu o cozimento (há 500 mil anos), pôde ampliar sua dieta e incluir nela proteína animal. Antes disso, chegávamos a mastigar 15 milhões de vezes por dia para processar as raízes que eram base da nossa alimentação.

A busca por especiarias que permitiam que os alimentos fossem conservados por mais tempo, ampliaram as possibilidades de expansão e conquista de novos territórios. Quem não conhece a história (talvez um mito) da cerveja India Pale Ale? Para suportar as longas viagens até as Índias, os ingleses aumentaram a concentração de lúpulo e álcool que funcionam como conservantes naturais.

A influência da culinária árabe nos povos da península ibérica também se deu de forma significativa e recebeu o nome de gastronomia do al-Andalus durante o período da Idade Média (711-1492). Os doces a base de amêndoas e mel, muito comuns na região da Andaluzia, são fortes evidências desta influência.

E a relação da comida com a espiritualidade? Adão e Eva e o fruto proibido, os feriados de Páscoa, Natal, Dia de Graças! As oferendas aos exigentes e diferentes orixás. A colaboração da cozinha hindu com sua potência de sabores picantes e ousados, com sua variedade de malaguetas. Nela, qualquer planta, raiz, semente, folha, casca, bulbo, fruto ou hortaliça é transformado em condimento: bétele, assa-fética, açafrão, cúrcuma, gengibre, cardamomo, cominho, feno-grego, tamarindo, as possibilidades são infinitas.

Leis que chegam a delícias

As leis higiênicas da cozinha judaica , ao proibir o consumo de porco, crustáceos, leite e carne numa mesma refeição, desafiaram a criatividade dos cozinheiros que nos presentearam com os latkes (bolinhos/panquecas de batata), burekas (pastéis judaicos sefharadim) ou o lekach cake (bolo de mel).

Todos sabem que minha referência gastronômica é vovó Maria, ela está presente em quase todos os meus textos e sei que sou repetitiva para falar dela, peço perdão. Mas essa minha paixão foi nutrida por nossas longas conversas sobre culturas que ela nunca conheceu pessoalmente, e nunca foi intimidada pela distância ou pela impossibilidade de viajar para tantos lugares. Livros e alimentos eram nossa janela para o mundo.

Me despeço de vocês com a receita desse bolo de mel, para reverenciar a cultura judaica e agradecer por sua colaboração no universo da gastronomia.

Receita do lekach cake – bolo de mel

Ingredientes

  • 170 gramas de mel de abelha
  • 140 gramas de manteiga sem sal
  • 85 gramas de açúcar mascavo
  • 30 gramas de fermento biológico (dois tabletes)
  • 2 ovos
  • 200 gramas de farinha de trigo
  • 1 colher (café) de bicarbonato de sódio
  • 1 colher (sobremesa) de fermento químico
  • 1 colher (sobremesa) de canela em pó raspa de laranja

Modo de preparo

Em uma tigela, misture os ingredientes úmidos (mel, manteiga, ovos, raspas de laranja).

Em outro recipiente, misture os ingredientes secos (açúcar, trigo, bicarbonato, fermento, canela).

Misture todos os ingredientes até obter uma massa homogênea.

Asse a 180 ºC por cerca de 35 minutos.

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