Marta e outras considerações sobre o futebol feminino

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Marta foi eleita a melhor jogadora do futebol feminino

É para aplaudir de pé a conquista de Marta no futebol feminino, única pessoa que pratica futebol nesse planeta que tem seis prêmios de melhor do mundo – um a mais do que Cristiano Ronaldo e Messi, só para informar. Isso aí todo mundo sabe e não é nenhuma novidade. Mas por que será que, mesmo alguns dias depois da eleição dos melhores do mundo, agora pomposamente chamada de The Best, eu ainda estou falando sobre o tema?

Exatamente porque se passaram poucos dias e ninguém mais toca no assunto. A conquista de Marta, espetacular, fez os olhos de todos no Brasil se voltarem rapidamente para o futebol feminino e, em um instante, apareceram vários entendedores do tema. A efemeridade do sexto troféu não ocupou o espaço mais do que um ou dois dias.

Na minha opinião, o prêmio em si, importante, claro, merece destaque, mas é preciso aproveitar esse momento para colocar outros assuntos em pauta. Marta é uma vencedora, um ícone do esporte e merece tudo o que tem. Mas os mesmos que aplaudem a conquista são aqueles que pouco sabem sobre o futebol feminino.

Era o momento ideal para voltar a colocar em discussão o futebol feminino no Brasil. Não fosse pela repercussão da conquista de Marta, talvez poucos saberiam que ela ajudou o Brasil a conquistar a Copa América e, com isso, garantir uma vaga no próximo Mundial. Muitos, aliás, sequer sabiam que Marta joga nos Estados Unidos, uma das maiores potências do mundo na modalidade, inclusive.

Entendo a dificuldade de acompanhar o futebol feminino, com pouco espaço nas grades das emissoras esportivas. Normalmente, quem vê as meninas jogarem espera pelos eventos de porte, como as Olimpíadas, Pan-Americanos ou Mundiais. Aliás, em ocasiões como essas, a resposta do público é bem interessante. No Pan de 2007, no Rio de Janeiro, um Maracanã lotado acompanhou de perto o time de Marta, que também esteve presente em outro sucesso de público, desta vez no Mineirão, pela Olimpíada de 2016. Pela TV, muitos costumam ficar de olho nas transmissões em ocasiões como essas.

Exceções feitas, poucos conseguem se informar ou acompanhar os times e as competições nacionais femininas, até mesmo pelo fato de o calendário não ser muito regular. E, tem, claro, quem prefira focar apenas nas competições masculinas, que sempre tiveram um espaço garantido. E, obviamente, a divulgação é péssima.

Vale vaga na Libertadores

A partir do ano que vem, por uma determinação da Conmebol, os clubes que se classificarem para a Copa Libertadores precisarão manter uma equipe feminina, caso contrário, não poderão participar da principal competição de clubes sul-americana. Uma atitude interessante que pode servir para impulsionar o futebol feminino, mas que só será feita pelos clubes por obrigação e nada mais.

Não temos como saber sobre a real organização ou se serão apenas parcerias nas quais o clube empresta seu nome a equipes já feitas. É um passo, de qualquer forma. Vamos ver agora como será a divulgação e se todos que se interessem vão conseguir ver.

Hoje, é bem mais fácil conseguir espaço para uma transmissão. Com sites específicos, páginas no Facebook e canais no YouTube, o futebol feminino pode ter seu lugar e construir um público fiel. É um caminho que a Uefa, que organiza a Champions League feminina anualmente, pretende seguir em seus diversos canais, por exemplo.

Mais carinho com o futebol feminino

Fato é que o futebol feminino no Brasil precisa ser tratado com carinho por seus organizadores, não apenas para ser mostrado ao grande público, mas principalmente dar condições para as atletas se desenvolverem, para que os clubes tenham a capacidade de oferecer o mínimo para as esportistas que desejarem seguir esse caminho.

Falar de futebol feminino só quando tem uma representante brasileira no topo não é solução. Lembrando que os prêmios conquistados por Marta foram fruto de seu trabalho fora do país (como foi com Romário, Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho e Kaká, mas em outro contexto). Parabéns, Marta! Vida longa para o futebol feminino no Brasil.

Modric, um mito croata

O feito de Modric, eleito o melhor jogador de futebol do mundo, também merece muitos aplausos. A Copa do Mundo teve um peso fundamental nessa eleição e o fato de ser o condutor da Croácia à final do Mundial conta mesmo muitos pontos. Além disso, foi uma das peças principais da engrenagem do Real Madrid tricampeão da Champions League.

Alguns podem discordar, o que é plenamente aceitável. Para mim, Cristiano Ronaldo foi mais decisivo na competição europeia e tem números espetaculares. Salah, o outro candidato, bateu recorde de gols no Campeonato Inglês, o melhor torneio nacional do mundo. Enfim, eram concorrentes de peso e cada um tem suas justificativas para falar sobre seu preferido.

Uma pena é que vários jogadores foquem tanto nos prêmios individuais que parecem não saber perder quando não escolhidos. Cristiano Ronaldo não foi à festa de premiação de seu ex-colega de clube. Achei deselegante. Assim como acho excessivo o foco exagerado de Neymar nesta premiação. Ser multicampeão, a meu ver, é muito mais legal do que vencer um prêmio individual. Mas em tempos de celebridades, nada mais natural.

Com toda sua simplicidade, Modric dedicou o prêmio a todos que gostam de futebol. O gostar de futebol foi o que o ajudou a chegar onde chegou. A trajetória dele também não foi nem um pouco fácil. Perdeu o avô, assassinado por rebeldes sérvios na época da guerra que dissolveu a antiga Iugoslávia, cresceu em uma zona rural da atual Croácia e foi um refugiado de guerra depois que sua casa foi incendiada. Ainda assim, não deixou de jogar futebol. Foi o esporte que o fez permitir fugir um pouco da cruel realidade que vivia. É um herói croata. Merece demais o prêmio.

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