Equipe da UFMG descobre 2 novas espécies de tamanduaí

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Nova espécie de tamanduaí, um tipo raro de tamanduá, foi descoberto por pesquisadores da UFMG. Foto - Flávia Miranda - Divulgação

Uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) descobriu duas novas espécies de tamanduaí, um tipo raro de tamanduá, com cerca de 50 centímetros, que vivem nas margens dos rios Xingu, na Amazônia, e Madeira, em Rondônia. A descoberta é resultado de uma pesquisa feita ao longo de dez anos e está registrada na tese de doutorado da veterinária Flávia Miranda.

O orientador da pesquisa, o professor-doutor Fabrício Santos, do Departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG (ICB), explica que o resultado é mais amplo. Ele descreve três novas espécies (sendo que duas delas nunca haviam sido vistas) e também eleva à categoria de espécie três subespécies de tamanduaí.

O primeiro resultado prático da descoberta é que esses animais descritos, bem como seu habitat, poderão receber mais proteção por parte do estado. Até então, só se conhecia uma espécie do animal (Cyclopes didactylus), que vive no norte da Amazônia, entre as Guianas e o Maranhão, e na região da Mata Atlântica, no Nordeste do Brasil.

Pesquisadores da UFMG colhem amostra de sangue de tamanduaí para análise no laboratório da universidade.
Pesquisadores da UFMG colhem amostra de sangue de tamanduaí para análise no laboratório da universidade. Foto – Flávia Miranda

Mas a descoberta mostra também, segundo o professor Fabrício, que há ainda muito para se conhecer sobre a biodiversidade brasileira, que é uma das mais ricas do mundo. “As pessoas acham que está tudo estudado e conhecido sobre a biodiversidade. Não está. Pesquisas como essa mostram quais as áreas precisamos conservar, uma vez que se não conservamos, corremos o risco de ver extinta uma espécie, como deve ter ocorrido já com várias”, assinala o professor Fabrício.

Mais proteção

Ao longo de dez anos, foram realizadas 19 expedições na região amazônica e da Mata Atlântica em busca de amostras de sangue da única espécie de tamanduaí até então conhecida. “Queríamos saber se as espécies encontradas na Amazônia eram as mesmas que habitavam a região da Mata Atlântica, mas encontramos três espécies até então desconhecidas. Além disso, por meio de análises, conseguimos reclassificar alguns animais, elevando outras três subespécies à categoria de espécie”, contou a veterinária Flávia, segundo boletim divulgado pela assessoria de imprensa da UFMG.

O material colhido foi submetido a análise de DNA no laboratório de Genética do ICB e foi desenvolvido também um extenso estudo morfológico, que buscava observar as características físicas dos animais. De acordo com a veterinária Flávia, foram comparados cerca de 300 animais guardados em coleções de diversos museus espalhados pelo mundo.

“Observamos a coloração do dorso, membros anteriores e posteriores, a coloração da cauda e o tamanho e formato do crânio. Encontramos cerca de 10 características morfológicas que, aliadas às características genéticas verificadas em laboratório, possibilitaram a descrição das novas espécies”, conta Flávia Miranda.

Com as descobertas, os pesquisadores já entraram em contato com o governo brasileiro e com organizações internacionais de conservação da natureza, pedindo que seja iniciado um processo para avaliar o status de ameaça a essas novas espécies. “Precisamos investigar a distribuição geográfica desses tamanduaís, coletar mais material para análise e elaborar estratégias de conservação para aqueles que estejam ameaçados”, assinala a veterinária Flávia.

Os tamanduás brasileiros

Até o início da pesquisa, eram reconhecidas apenas três ­espécies de tamanduás no Brasil: bandeira, que vive no solo, o mirim, que vive entre o solo e árvores, e o tamanduaí, que é arborícola, ou seja, vive em árvores. “Os bichos também têm suas frescuras”, brinca o professor Fabrício. No caso das duas novas espécies descobertas, elas vivem em matas ribeirinhas – no rio Xingu e Madeira.

Todos os tamanduás pertencem ao grupo dos Xenarthra, que inclui outros mamíferos como os tatus e o bicho-preguiça. O tamanduaí é um mamífero pequeno, de hábitos noturnos, que vive nas copas das árvores e se alimenta de formigas. Com a conclusão do estudo realizado pelo grupo de pesquisadores brasileiros, agora estão descritas sete espécies de tamanduaís. Por enquanto, as novas receberam apenas nomes científicos.

Grupo de tamanduaís empalhados, usados pelos professores da UFMG como material de pesquisa. Foto – Marco Schetino

O trabalho dos pesquisadores da UFMG resultou em um artigo publicado no Zoological Journal of the Linnean Society, de Londres. Assinam o artigo (Taxonomic review of the genus Cyclopes Gray, 1821 (Xenarthra, Pilosa), with the revalidation and description of new species), além do professor Fabrício e da veterinária Flávia Miranda, Daniel Casali, Fernando Perini e Fábio Machado.

 Link para o artigo:

https://academic.oup.com/zoolinnean/advance-article-abstract/doi/10.1093/zoolinnean/zlx079/4716749?redirectedFrom=fulltext

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