Um mais um é sempre mais que dois

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Vivo nesse vai e vem entre Conceição e Beagá. Na quarentena até que, como se diz por aqui,  aquietei o facho. Desloquei menos. Mesmo assim, se for somar a minha quilometragem, acredito que daria umas mil voltas em torno do planeta. Ou será mais? Engraçado. Nunca fiz a conta. Sou ruim de número. Meu gosto é mesmo pela escrita.

Pra fazer essa conta, acho que tenho de somar o número dos anos que mudei pra Beagá, multiplicar o resultado pelo número de fins de semana, depois pelo número de quilômetros rodados. Será que essa conta dá certo? Deixa pra lá. Vou pedir aos entendidos da família pra que resolvam essa equação aritmética complicadíssima. Depois conto pra vocês.

Voltando às idas e vindas, nesse último domingo resgatei um velho hábito. Voltei pra Beagá de ônibus. Desci na Rodoviária. Há anos não fazia isso. Gostei da viagem. Foi tranquila. Protocolos respeitados, veículo limpo. Nem o matraquear das janelas mal ajambradas, das luzes que não funcionavam e do excesso de paradas, nada disso me incomodou. Rezei pra Santa Maria e vim. Como se diz, vim de boa. Aproveitei os dez minutos de parada em Pará de Minas ( será redundância? Parada em Pará? Ah, deixa pra lá.) pra adiantar a releitura de “As vinhas da ira”, obra prima de John Steimbeck. Tô relendo bem devagar. Degustando. Cada frase é um deleite. Quase morri de tanto encantamento. Acho que quando li a primeira vez não tinha maturidade. Pensando bem …

O livro é um presente do Paulinho, mezzo amigo, mezzo irmão que frequentemente me surpreende com um mimo.

  • Trouxe pra você. Vi na Internet. Achei a sua cara
    Não resisti.

É assim. É dessa forma despretensiosa que o Paulinho um dia desses chamou no portão de casa para me entregar essa preciosidade. “As vinhas da ira” rendeu um Pulitzer a Steimbeick. O escritor também já foi agraciado com um Prêmio Nobel de Literatura

Nessa obra, o autor retrata o confronto do homem com as adversidades. A trama se passa nos Estados Unidos, durante a Grande Depressão de1930. Nada diferente de hoje. Infelizmente, esse enredo a gente conhece de cor e salteado. No livro, milhares de famílias vítimas da crise econômica e de uma seca persistente, deslocam-se dos campos de algodão de Oklahoma para tentar a sobrevivência como bóias-frias nas plantações de frutas na Califórnia.

Além de denunciar as mazelas vividas pela população, Steimbeck também desnuda uma verdade: sozinhos nada somos. Lembra do Beto Guedes? Já falei dele aqui. “Um mais um é sempre mais que dois”. Aí a gente puxa pela memória e lá vem o João Cabral de Melo Neto “Tecendo a manhã”.

“Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.”

5 COMMENTS

    • Sempre. Sabe sobre ninguém largar a mão de ninguém? Pois, é! É desse jeito. Beijos abraçados pra quem está sempre por perto. ⚘

  1. Querida, achar a quantidade de quilometragem é muito simplório diante do valor desses quilômetros!! Tem mais história nessas idas e vindas que um mero número poderá desvendar!! São memórias , são segredos, são alegrias, são saudades… e pra tudo isso não tem preço nem medida!
    Fiz suas viagens, como sempre, e me encontrei em algumas!
    “Um mais um é sempre mais que dois!” E será sempre assim quando você puxar suas memórias nessas idas e vindas! Não terá medida, não terá solidão!
    Parabéns!! Você se retrata e nos leva junto!👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻❤️🌹

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