Precisamos falar sobre Montmartre

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Montmartre
Vista da Sacre Coeur Museu Dorsay | Fotos: Marina Cunha/Arquivo Pessoal

Se você nunca sentiu que pertence a um lugar desconhecido, talvez precise conhecer Montmartre. Sempre me achei um tanto desconectada. Talvez por ter uma alma progressista, dada às artes sem censura, por gostar do avesso, crescer em uma cidade pequena tenha me trazido um desconforto. A vida tranquila, os pequenos prazeres, como poder tomar um café na casa de uma tia ou avó no meio da tarde, me encantam na cidade onde cresci e vivo, mas sempre senti falta de algo.

Em abril, tive o privilégio (e a palavra é bem essa) de conhecer Paris. Ver a Torre Eiffel, passar horas no Museu D’Orsay (dica do Lucas, um amigo querido), absorta pelo impressionismo de Monet, Renoir, Cèzanne, Manet, Gustave Caillebotte e Van Gogh. Almoçar no Restaurant Le Voltaire, localizado em frente ao Louvre, no prédio onde Voltaire morreu em 1778. Sentir a força de Simone de Beauvoir no Cafe de Flore (aproveito aqui para convidá-los a assistir ao filme “Les amants du flore”).

Ainda que toda Paris pareça um cenário constante da sétima arte, um lugar específico tirou meu coração pela boca. Conheci Montmartre em um dia cinza, melancólico e que insistia em chuviscar. A sensação de pertencimento dava uma poesia que eu não havia vivenciado em nenhum lugar da viagem até então.

Carrossel de Amélie Poulain e a Sacré Coeur, em Montmartre

Enquanto caminhava em direção à Sacré Coeur, tropecei no charmoso bistrô La Boite Aux Lettres, do chef Frédéric-Paul Cartier. O atendimento impecável de Antonin nos proporcionou várias risadas e uma escolha de menu impecável: sopa de ervilha para entrada, vieira com musseline de cenoura e uma carne com molho de foie gras chamada onglet de boeuf — onglet é um corte bovino, localizado abaixo do filé mignon.

As vieiras com musseline de cenoura, do bistrô La Boite Aux Lettres

A primeira vez que comi vieiras, foi em 2012, no Festival Gastronômico de Araxá, no festim de Claude Troigros (ceviche de vieiras com carpaccio de pupunha). Relembrar esse sabor, em outro contexto e com outras texturas, foi surpreendente e, definitivamente, foi o melhor prato dessa viagem. Meu sincero agradecimento ao chef Frédéric por ter eternizado essa memória de sabor.

Me despeço com um pouco da magia das ruas de Montmartre.

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Para ler as crônicas e as receitas de Marina Cunha, acesse a página da coluna Cozinhas Gerais!

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