A proposta desta coluna é indicar, a cada semana, três livros de um determinado tema. Livros que podem se agrupar em um assunto, uma expressão, uma ideia. E que fujam das listas dos mais vendidos e das resenhas publicadas com frequência em jornais, revistas e blogs.
Para começar, seleciono títulos de três autoras brasileiras que estão produzindo um trabalho criativo. São escritoras com estilos diferentes e que retratam o Brasil e seus inúmeros questionamentos.
Anatomia do Paraíso, de Beatriz Bracher
Aqui, estamos em São Paulo, terra da escritora. “Anatomia do Paraíso” (Editora 34) é urbano, com os dilemas próprios de quem vive em uma grande cidade.
Um estudante de classe média está escrevendo uma dissertação de mestrado sobre “Paraíso Perdido”, o poema épico de John Milton. Por meio de histórias cruzadas, a autora descreve a vizinha do rapaz, que divide seu dia entre trabalho, estudo e os cuidados com uma irmã mais nova, e também essa adolescente.
Os temas do poema de Milton, como sexo, violência, culpa e traição, vão surgindo nas vidas e experiências das suas personagens.
Quarenta Dias, de Maria Valéria Rezende
A escritora foi freira e professora no passado e hoje mora na Paraíba, onde faz trabalhos sociais e escreve. Em “Quarenta Dias” (Alfaguara), ela coloca em choque o Nordeste e o Sul do país.
Alice é uma professora aposentada, moradora de João Pessoa, e que recebe um convite da filha, que mora em Porto Alegre: mudar-se para o sul a fim de começar a se preparar para uma futura gravidez.
Ao chegar lá, descobre que a história é um pouco diferente e se vê sozinha numa cidade desconhecida e muito distante da vida que costumava levar. Até assumir um projeto muito especial e sair andando pela Porto Alegre desconhecida. O relato que se segue é uma das grandes descrições das diferenças existentes do Brasil.
Enterre Seus Mortos, de Ana Paula Maia
A escritora é uma das grandes forças da literatura brasileira. Com um estilo cru, por vezes violento, ela traduz o universo do chamado Brasil profundo, aquele espaço onde as regras e comportamentos são muito próprios.
Em “Enterre seus Mortos” (Companhia das Letras), a autora narra a história de dois homens que vivem de recolher animais mortos e abandonados em estradas. Até que um dia eles encontram uma pessoa e não sabem o que fazer com o corpo.
A partir daí, o livro questiona ética e mostra como essas pessoas que vivem à margem, com empregos considerados miseráveis, vivem e sobrevivem.