Num espaço de mais ou menos um metro quadrado, onde antes estava plantada uma árvore, bem em frente ao prédio do Ministério Público do Estado, a menos de 20 metros da entrada principal da Assembleia Legislativa, região nobre da capital, nasceu uma mini-horta. No pequeno quadrado, o lavador de carro Wellington Damião, 35 anos, também morador de rua, plantou couve, alface, salsinha, cebolinha, tomate e pimentão.
Para quem aparentemente não tem nada na vida, como um teto para morar, Wellington, sempre alegre, deixa claro que não perdeu a dignidade, a esperança de que viverá dias melhores e dá uma demonstração de generosidade que não se vê com muita frequência nos dias atuais. A despeito das dificuldades que enfrenta todos os dias, como a incerteza de um prato de comida, ele pretende dividir com os amigos e com a vizinhança rica, caso queira, a colheita das verduras.
Sua expectativa é que em poucos dias ele possa já colher algumas folhas de couve para fazer no jantar, num fogão improvisado em uma lata, cujo combustível é o fogo gerado por pedaços de madeira e papelão que ele encontra na rua. “Fazer na janta uma couve refogada pra comer com um bife é bom demais”, diz Wellington com um largo sorriso.
Ele conta ao Boas Novas que teve a ideia de plantar a pequena horta, cerca de dois meses atrás, porque no espaço havia uma árvore que foi derrubada por um vendaval. A prefeitura ficou de plantar uma outra, mas como demorou, Wellington avaliou que aquele minúsculo pedaço de terra poderia abrigar uma hortinha, enquanto aguarda a próxima árvore. Conseguiu terra numa obra da vizinhança, um pouco de adubo, comprou sementes de couve num supermercado da região e fez o primeiro plantio.
“Tem que ter mão boa”
Regando duas vezes ao dia, em poucos dias as primeiras mudas já começaram a surgir na terra. O resultado deixou Wellington tão entusiasmado que ele decidiu diversificar a plantação. Comprou sementes de alface, tomate, salsinha, cebolinha, pimenta, pimentão, que estão todas viçosas.
O Boas Novas quis saber de Wellington qual o segredo para o bom resultado do plantio. “Tem que ter mão boa”, brinca ele, que espera para breve a colheita da alface, do tomate e das outras hortaliças, para o seu consumo e de alguns amigos que aparecerem para o jantar, mas também para compartilhar com os moradores da redondeza.
Está nos seus planos, por exemplo, oferecer um pé de alface e umas folhas de couve para uma vizinha famosa, que mora no prédio em frente da sua mini-horta: Carmen Lúcia, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), com quem ele diz já ter tirado uma foto e de quem recebeu R$ 50.
Como a couve foi a primeira a ser plantada, com um resultado muito bom, muitos vizinhos pediram, e ele deu, com gosto, mudas da hortaliça. Não fizeram falta. Ao contrário, as que ficaram ganharam mais espaço para prosperar.
E assim como espera que as suas hortaliças prosperem, Wellington ainda tem esperanças, apesar de morar na rua há dez anos, de encontrar alguma prosperidade na vida. E ele não quer muito. Um emprego e um lugar para morar bastariam.
História de milhares de brasileiros
Sua história é muito parecida com a de milhares de brasileiros que vivem em situação de rua. Não se entendia com o padastro e decidiu sair de casa. Como não estudou (“não ouvi minha mãe, infelizmente”, lamenta ele), não conseguiu um trabalho e foi morar na rua.
Para a subsistência, começou a lavar carros, que é o seu principal sustento. Tentou por duas vezes morar num alberque. Mas disse que seus pertences eram roubados com frequência e achou melhor voltar para as ruas.
“Sou novo, tenho saúde e disposição para trabalhar. Estudei pouco, só até o terceiro ano primário, mas ainda tenho esperanças de um dia sair da rua”, afirma Wellington. Se tiver a mesma motivação e a disposição que demonstra com sua mini-horta, vai conseguir. O que falta? Talvez alguém generoso como ele, que esteja disposto a lhe estender as mãos.
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