Carol com “K” é o Judas da vez

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Karol durante entrevista para o programa da apresentadora Ana Maria Braga - Foto - TV Globo
Karol durante entrevista para o programa da apresentadora Ana Maria Braga - Foto - TV Globo

Quando criança, nós, irmãos, primos e amigos, esperávamos ansiosos pela “queima do Judas”. Os 40 dias da Quaresma se arrastavam numa lentidão exasperante.

  • Falta muito para o “dia do Judas”?

A pergunta recorrente cansava os ouvidos. Impacientes dos nossos pais, tios e avós:

  • Vá brincar. Ainda estamos na Quaresma. O Judas só vai ser queimado no Sábado de Aleluia.

E assim a vida seguia no ritmo de Conceição do Pará.

Até que finalmente chegava o tão esperado dia. A praça ficava lotava.

  • A camisa é do Fulado de tal, a calça foi doada pelo Sicrano. O Toim da Mariazinha deu o chapéu … Depois que todas as roupas e adereços eram devidamente identificados, para o nosso delírio, o boneco era reduzido a cinzas. Fim da festa, todos voltavam para casa felizes e famintos. Afinal, já estava na hora do almoço e o estômago roncava alto. Vida que seguia. No ritmo de Conceição do Pará.

Sei que você está ai com a pulga atrás da orelha.

  • Por que é mesmo que você está dizendo tudo isso? É falta de assunto? Ou é só porque é Quaresma?

Sim e não. O certo é que a “queima da “Carol com C” provocada pela Karol com K” remeteu de forma dolorosa parte das minhas memórias e me levou a questionar. Por que é que a gente sentia tanto prazer em assistir à queima da imagem de uma pessoa em praça pública?

  • Tô boba! Você assiste o BBB?

Porque o espanto? Eu, você, seu vizinho, cem por cento das pessoas que conheço. Se não se veem pela TV, acompanham pelo Twitter, Facebook, Instagram, grupos de whatsapp … O BBB expôs a miséria humana. É como na cremação do Judas da minha infância.

Se antes a torcida era por mais uma maldade da Karol pra animar “a casa mais vigiada do Brasil”, agora o gatilho está mirando o day after da rapper. E a carreira? E a vida pessoal? Jesus! O que vai ser dessa moça. Sim, “canceladores” de plantão, torço pra que a vida dela seja resgatada. Reinventar-se não é tarefa fácil. Um dia a gente toma um café pra conversar sobre isso.

Mas voltando ao BBB, a Claudia Dornelles, psicanalista que sigo no Instagram, foi na jugular: ” Imagine se todos os seus erros fossem filmados? Ninguém é santo.”

Essa doeu. Não somos santos mesmo. A humanidade faz isso com a gente.

A Cláudia segue cutucando com a vara curta: ” Todo mundo conhece alguém cujo discurso é dissociado da fala. Acabam por assumir a máscara do que querem vender”. No caso da Karol com K, empatia, empoderamento, militância, todas elas “causas que só se sustentam quando transformadas em gestos. A Caroline com “C”, a pessoa, precisa ser apresentada à Karol com “K”, a personagem. Isso é pra ela e pra nós”.

Viu? Eu não disse que ia doer?

“Conka e Caroline podem, se quiserem, reparar os danos. Em paz. A sós. Que a comunicação sobre ela e sobre nós seja a mais aproximada possível daquela que gostaríamos que nos fosse oferecida: com “r” de respeito, “c” de cuidado e “t” de tempo. Se o nosso discurso se transcodificar em reflexão já teremos aprendido algo fora da lacração, da rejeição do narcisismo coletivo que leva à exaustão.”

Que assim seja. Pela Carol com “C”, pela Karol com “K” e por todos nós.

12 COMMENTS

  1. A maquete da realidade desejada pelos olhos do “Brasil” através de um programa de TV, faz com que as pessoas se transportem para o interior da casa e o ato do voto é a própria sentença de cada um. Por sua vez a figura do artista se sustenta pela ilusão criada em torno da sua imagem, agora também de forma virtual. Uma vez quebrada esta fantasia a realidade não se sustenta aos olhos de quem vê e a punição é instintiva e medieval. Essa moça vai ter que reinventar prá reconquistar seus admiradores.
    Bem lembrada a figura do Judas como expressão máxima da ausência do perdão. Parabéns Gisele!

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