O surpreendente sapato fashion da “Venda do Tisnado”

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Fachada da Venda do Tisnado, em Pitangui - Foto - arquivo pessoal/Gisele Bicalho
Fachada da Venda do Tisnado, em Pitangui - Foto - arquivo pessoal/Gisele Bicalho

Moda é um negócio interessante. Mesmo que você na se deixe seduzir, há sempre algo que instiga, que mexe com a gente. Às vezes é só um detalhe; em outras, um corte, uma cor. Aliás, no “mundinho fashion” a escolha da cor leva a uma pergunta recorrente entre os lançadores de tendências:

  • E então? Qual será o pantone do próximo ano?

É aí que começa um corre-corre danado. Várias mentes criativas se envolvem e se descabelam nesse processo. Afinal, a cartela de cores é importante demais. É a partir da escolha da cor que uma cadeia produtiva gigantesca começa a se mover. E olha que não se trata só de roupas. Tem a ver com todo tipo de bens. De máquina de lavar ao carro do momento.

Não acredita, não? Por que será então que nesse ano você se deixou encantar por uma cozinha “candy collor”? Não é só porque os tons são pastéis, delicados. É muito mais que isso. Resumindo, depois de muitas estratégias e estudos, a escolha da cor vai render muito, mas muito dinheiro. E se você prefere um raciocínio menos pragmático e mais sonhador, a cor vai saciar desejos e encantar pessoas como eu, como você.

Por falar nisso, você se deixa seduzir com facilidade ou faz a linha durona? Você é influenciável ou não se deixa levar pelos modismos?

Eu faço a linha mais clássica. Sou mais atemporal nas minhas escolhas. Mas confesso: tenho uma quedinha – ou seria “quedona? – pelos anos cinquenta. Até já pensei em criar um blog com essa referência. Lembra da nossa conversa em Paris, Soraya Ursine? Do sonho que acabou adiado sabe-se lá porquê motivo. Sem blog e sem viagens à Europa, em tempos estranhos ando me encantando é com os figurinos de “The Crown, “Emily em Paris” e de “O Gambito da Rainha”. São lindos. Eu certamente vestiria todas aquelas roupas.

Não por acaso uma das minhas fotos preferidas é a da formatura da Mamãe. Nela, Mamãe e as colegas fazem pose numa escadaria em frente à Matriz de Pitangui. Todas estão vestidas elegantemente. Saias rodadas, cintura e busto bem marcados e os sapatos … Ah, os sapatos ! Lindos clássicos. Mas o da mamãe, obviamente, como não podia deixar de ser, carrega uma história.

Formandas posam para foto na escadaria da Matriz de Pitangui
Formandas posam para foto na escadaria da Matriz de Pitangui

Uma das colegas era uma espécie de “digital influencer” da época. Vestia-se inspirada nas revistas, nos artistas de cinema e nos cantores da Rádio Nacional. Até que um dia apareceu com um sapato maravilhoso. Você não está entendendo. Não era “só mais um sapato”. Era “o sapato”. Foi um tumulto.

Todas queriam saber de onde tinha vindo aquela preciosidade. Para surpresa das colegas, a menina revelou a fonte: era a “Venda do Tisnado”, uma espécie de armazém no qual se vendia de tudo, de querosene, ao fumo de rolo, penico, até mantimentos e …. os sapatos. Estavam encalhados. Estavam, no passado, porque a partir daquele momento foi um entra e sai da “Venda do Tisnado”. O final dessa história todos já sabem. O estoque zerou.

O Tisnado já se foi. Os irmãos Dodô e Madalena, também. O sobrado foi derrubado. No local há apenas um lote vago. Mas quem está vivo e presenciou aquele momento, não consegue entender o porquê da “Venda do Tisnado” ter virado referência das “fashionetes” pitanguienses da época.

3 COMMENTS

  1. Ótima crônica e bela história das nossas Gerais. Nessa venda, meu querido pai também eternizado em linda crônica sua, me contou que já viu várias pessoas entregar a “palha com a rapadura pro Sr. Tisnado”. Mas isto já é outra história. Rs.

  2. 😍!!! Me lembro em Conceição do armazém do Dimas, em frente à praça. Tbem tinha muitas coisas e as sandálias de plástico… deu saudades!!!

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