A aliança pescada no Rio Pará

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1925
Canoa num trecho do rio Pará. Foto - família Bicalho - arquivo pessoal
Canoa num trecho do rio Pará. Foto - família Bicalho - arquivo pessoal

Manoel de Barros, aquele que se autointitula ” o poeta das coisas desimportantes”, diz que o tempo só anda na ida. “Tenho em mim um sentimento de aldeia e dos primórdios. Eu não caminho para o fim, eu caminho para as origens. Não sei se isso é um gosto literário ou uma coisa genética.”

Eu também sou assim. “Procuro sempre chegar ao criançamento das palavras”. Estou sempre remexendo no baú das memórias. Por lá, se acumula muita preciosidade. Há causos tão incríveis que até parecem história de pescador.

Uma delas é sobre o resgate da aliança do Tio Guilherme. A jóia foi perdida durante um passeio no Rio Pará. Nesse dia, um furo provocou um pequeno alagamento na canoa. O que não era exatamente um problema ou um risco. Uma latinha esquecida num canto da embarcação resolveria o problema.

Antes de começar a despejar a água,Tio Guilherme, temendo pelo pior, retirou a aliança do dedo e a colocou em um cantinho da canoa. Enquanto isso, a meninada se esbaldava dentro d’água. Tio Francisco ficava por perto. De olho nelas.

Até que o Tio Guilherme fez um movimento mais brusco. Foi a conta. A canoa emborcou um pouco e lá se foi a aliança pra dentro d’água. Tinha virado comida de peixe. A partir dai, o que era um passeio virou busca ao tesouro. Tio Guilherme se desesperou. A Tia Celma jamais acreditaria que a aliança tinha sido perdida no Rio.

Procura daqui, procura dali, nada de encontrar a aliança. A criançada toda se envolveu na busca. Os tios, também. Afinal, era preciso salvar a pele do Tio Guilherme. A Tia Celma jamais entenderia. Até que a Lulu, exultante, gritou:

  • Achei, Tio Guilherme!
  • Deixa de brincadeira, menina! Isso é coisa séria.
  • Mas eu achei, mesmo. Olha aqui.

E num é que tinha encontrado a aliança? A prova estava ali. O tesouro estava seguro na mãozinha estendida para ele. O sorriso estampado no rosto confirmava o feito.

Inacreditável! Como aquilo tinha sido possível? Pela lógica infantil foi uma tarefa simples. Lulu explicou:

  • Perguntei ao Tio Guilherme como a aliança tinha caído na água. Ele repetiu o movimento e apontou o lugar da queda. Mergulhei a mão na água, remexi a areia e tirei a aliança de lá.

Simples assim.

Vovô Neném duvidou. Muita gente da família, também. Diziam que aquilo era historia de pescador. No caso da Lulu, de pescadora. Mas há testemunhas. Os Tios Guilherme e Francisco sobreviveram ao Vovô. A criançada também. Estão aí pra confirmar que essa historia aconteceu de fato. E quanto à aliança? Certamente está bem guardada.

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