A tradicional revista britânica Nature, uma das publicações científicas mais importantes do mundo, escolheu o cientista brasileiro Ricardo Galvão como uma das dez personalidades mais relevantes para a ciência em 2019. Galvão era presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e foi demitido do cargo após divergências com o presidente Jair Bolsonaro.
O cientista brasileiro, de 72 anos, professor da Universidade de São Paulo (USP), aparece em primeiro lugar na lista da revista “Nature”, que o chamou de “herói nacional”, por ter desafiado o governo brasileiro, e de defensor da ciência.
Ricardo Galvão foi demitido do INPE em agosto após rebater críticas do presidente Jair Bolsonaro aos dados do instituto sobre o aumento do desmatamento na Amazônia. Na época o presidente disse que os dados do instituto, que apontavam um aumento de mais de 80% nos alertas de desmatamento, não eram verdadeiros e parecia que ele, Galvão, estava “a serviço de alguma ONG”.
Mas o cientista reagiu, saiu em defesa dos cientistas do instituto e disse que as palavras do presidente se pareciam com as reações de um garoto de 14 anos. Essa reação é que chamou a atenção da comunidade científica internacional e da Nature. Posteriormente, os dados do INPE foram confirmados.
“Eu fiquei realmente emocionado com as palavras deles. Eu pensei que, no começo, fosse só uma reportagem, mas depois eu vi o nome saindo entre os dez cientistas mais influentes deste ano; isso foi, realmente, emocionante para mim”, declarou o professor.
“Nossa lista explora alguns dos momentos mais importantes da ciência do ano, destacando as pessoas que desempenharam um papel fundamental nesses eventos. Essas histórias vão desde a primeira demonstração de um computador quântico que supera o desempenho de uma máquina convencional até os esforços para combater a mudança climática”, explicou o editor-chefe da revista, Rich Monastakery.
A adolescente Greta Thunberg, que já foi chamada pelo presidente Bolsonaro de pirralha, é outra das personalidades escolhidas pela Nature. Ela já havia sido escolhida pela revista Time como a personalidade de 2019.
As dez personalidades da Nature:
- Ricardo Galvão: o físico brasileiro chamou a atenção da comunidade científica por conta do embate com o presidente Jair Bolsonaro a respeito dos dados de desmatamento na Amazônia.
- Sandra Díaz: a ecologista argentina foi presidente de um painel com 145 especialistas para produzir a avaliação mais completa até agora sobre a biodiversidade da Terra. A pesquisa mostrou que um milhão de espécies estão ameaçadas de extinção pela ação do homem.
- Greta Thunberg – A adolescente sueca e ativista vem criticando países desenvolvidos e em desenvolvimento por fazerem muito pouco para desacelerar as mudanças climáticas.
- Victoria Kaspi: a astrofísica viabilizou um telescópio no Canadá com a capacidade de coletar dados ainda melhores sobre explosões de raios gama e flashes de radiação.
- Nenad Sestan: o neurocientista norte-americano desafiou o que sabemos sobre a fronteira entre a vida e a morte e conseguiu “ressuscitar” o cérebro de porcos que haviam morrido horas antes.
- Jean-Jacques Muyembe Tamfum: o microbiologista da República Democrática do Congo liderou os esforços para combater a epidemia do Ebola, que já matou mais de 2,2 mil pessoas.
- Hongkui Deng: o biólogo chinês publicou os primeiros resultados de um ensaio clínico que usa a tecnologia de edição genética Crispr para modificar as células de seres humanos adultos.
- Yohannes Haile-Selassie: o paleontólogo do Museu de História Natural de Cleveland (EUA), descobriu o cérebro de um Australopithecus anamensis com 3,8 milhões de anos, que é o parente humano mais antigo e preservado.
- John Martinis: o físico norte-americano mostrou que um computador quântico de sua equipe poderia fazer um cálculo mais rapidamente do que os melhores computadores de hoje em dia.
- Wendy Rogers: a especialista australiana em ética trouxe evidências de que alguns transplantes de órgãos na China aconteciam sem o consentimento dos doadores.
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