A final mais esperada do mundo: hora de mudar a história

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Final da Libertadores será na Espanha

Uma final de um torneio continental por si só já é um evento histórico. E estamos chegando perto de uma decisão de Copa Libertadores entre Boca Juniors e River Plate, seguramente o maior clássico da América do Sul, o único realmente capaz de mobilizar todo o continente, do Uruguai à Venezuela. Histórico! Monumental! A final das finais! A maior final de todos os tempos!

Boca x River merece todos os adjetivos possíveis, até pelo fato de estarmos falando de clubes que reúnem, juntos, mais de 60% de toda a torcida da Argentina, uma questão relevante quando se trata de um país com tanta representatividade no futebol e com vários outros clubes campeões continentais e mundiais. Chance semelhante para o futebol da América do Sul mostrar o que tem de melhor dificilmente voltará a acontecer.

Mas, se a expectativa era de um show global e de uma festa única, a realidade foi que o confronto trouxe também o que existe de pior no futebol sul-americano. O desfecho certamente ficará marcado para sempre. Um momento para repensar muita coisa por aqui. Infelizmente, uma série de decisões equivocadas fez com que a final perdesse muito de seu brilho.

No próximo domingo, iremos acompanhar a inacreditável final da Libertadores da América na Espanha, um atestado da falência da capacidade de organização de partidas desse porte por aqui.

De cara, um chute no simbolismo. Para quem ainda não sabe, o nome Libertadores vem de uma homenagem feita às pessoas que libertaram a América de seus antigos colonizadores. Nem preciso querer dar uma aula de história por aqui para lembrar que a Espanha colonizou boa parte da América do Sul, inclusive a Argentina, país dos dois finalistas. Já que ficou decidido que era impossível ter o jogo em Buenos Aires, que não fosse exatamente na capital do país colonizador da Argentina.

Última vez em dois jogos

A final entre Boca e River é a última antes da implantação de um jogo único em campo neutro. Em 2019, a Libertadores será decidida em uma partida em Santiago, no Chile. O que era para ser uma despedida sensacional de uma etapa histórica do torneio acabou não acontecendo.

Para começar, o jogo de ida no estádio do Boca, o mítico La Bombonera, foi realizado com torcida única. A segunda partida, como a gente sabe, não foi realizada. Na prática, a torcida do River não conseguiu ver seu time ao vivo, em casa. Alguns mais privilegiados vão acompanhar o jogo na Espanha, mas isso é uma outra história.

Qual o aprendizado desta final da Libertadores?

Muitos erros fizeram com que a final da Libertadores fosse marcada para o estádio Santiago Bernabéu, em Madri. É preciso repensar muitas coisas e tentar tirar lições do que aconteceu para que o futebol sul-americano não perca ainda mais credibilidade.

O que aconteceu com o ônibus do Boca, apedrejado por torcedores do River a caminho do estádio, é um fato lamentavelmente corriqueiro em vários estádios do continente – e não necessariamente com pedras. Vale latas de cervejas cheias e outros vários objetos. Já aconteceu, acontece e vai continuar acontecendo por diversos fatores, entre eles a falta de punições severas. A diferença é que, desta vez, além da visibilidade do jogo, vidros foram quebrados e jogadores, atingidos.

Inúmeros artigos, vídeos e teses já foram publicados e, em comum, denúncias sobre a relação de chefes de torcidas organizadas com pessoas ligadas a quadrilhas de traficantes, envolvimento de políticos e uma série de temas que atestam problemas que assolam os países sul-americanos.

A individualização das penas e processos civis ajudaram a diminuir ocorrências em estádios e ruas da Europa em relação a problemas ligados ao futebol. A turma lá sabe que, se aprontar, a punição será severa. Por aqui, o River vai jogar duas partidas com portões fechados e pagar uma multa de US$ 400 mil, um troco para o milionário mundo do futebol. Passou da hora de repensar isso.

O tribunal também atua com uma regularidade impressionante na América do Sul. É uma liminar atrás da outra, fato permitido por regulamentos com brechas absurdas para a escalação de jogadores irregulares, entre outras presepadas. Fato é que se tornou comum brigas no tapetão que mancham ainda mais as competições por aqui. Simplificar isso também é um caminho.

O marketing é feito ao contrário por aqui por causa das decisões absurdas. Levar a final para um campo neutro em um continente com notórias dificuldades logísticas vai transformar o jogo em si em um grande evento, mas nem de longe resolve problemas. De quebra, joga por terra uma tradição local, de decisão em dois jogos. Assim como faltou sensibilidade ao levar a final para a Espanha. Respeitar a tradição também é importante.

Balanço negativo

Parece que poucos percebem, mas nas últimas três Copas do Mundo a taça foi erguida por uma seleção europeia. E dos seis finalistas, apenas um foi sul-americano, a Argentina, em 2014. Em 2006 e em 2018, todos os semifinalistas eram europeus. Os principais craques, claro, jogam na Europa há anos. E até mesmo o Mundial de Clubes, torneio que interessa muito mais aos clubes sul-americanos, é dominado pelos europeus.

Os reflexos da desorganização e da falta de credibilidade do futebol da América do Sul estão aí, nítidos. Isso sem falar em tão pouco atraente o produto é para outros mercados consumidores. Os torneios daqui estão longe de ter audiência em outros países. A hora de mudar vai ter que chegar mais rápido.

Costumo trazer neste espaço aqui no Boas Novas MG temas positivos, de mudanças relevantes no esporte, ações afirmativas e boas histórias. A de hoje não é, por motivos claros. É uma reflexão sobre um evento que tinha tudo para ser espetacular e que não vai ser. Refletir e apontar sugestões para que a realidade possa mudar, porém, não deixa de ser algo positivo. Seguimos na torcida.

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