ONG Reparação resgata dignidade de famílias carentes

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Reparação foi criada em Bragança Paulista para resgatar dignidade de famílias que vivem em condições degradantes. Foto - Reparação - Divulgação
Reparação foi criada em Bragança Paulista para resgatar dignidade de famílias que vivem em condições degradantes. Foto - Reparação - Divulgação

Qual o significado da palavra reparação? Se o leitor se der ao trabalho de consultar um dicionário vai constatar que o verbo reparar tem vários significados. Pode ser, por exemplo, o ato ou efeito de reparar, colocar em bom estado de funcionamento o que estava estragado. Mas pode ser também notar, observar, além de outros sinônimos.

Mas em Bragança Paulista, cidade do interior de São Paulo, a palavra reparação ganhou uma definição mais ampla: ela significa solidariedade, generosidade, compaixão, altruísmo, amor ao próximo ou qualquer outro adjetivo que sirva para qualificar o trabalho de um grupo de voluntários que decidiu dar dignidade a famílias que viviam em condições subumanas.

Reparação, em Bragança, é o nome de uma ONG, criada no final de 2013 pelo  jovem arquiteto Leonardo Finamor, na época com apenas 23 anos, para reformar casas em áreas de grande vulnerabilidade social na cidade, que não ofereciam condições mínimas de habitabilidade e que, portanto, não deveriam abrigar seres humanos.

Trabalho gigante

Quase cinco anos depois de formada, a ONG já conseguiu reformar 12 casas de pessoas muito carentes da cidade. A 13ª será reformada no próximo final de semana, dias 10 e 11 de novembro. Pode parecer um resultado modesto, mas, na verdade, o trabalho que a Reparação vem fazendo é gigante.

Mais do que as 13 famílias beneficiadas diretamente, o trabalho tem um impacto direto na vida dos voluntários que atuam na ONG. Mais do que ajudar as famílias e os voluntários, a Reparação é hoje inspiração para pessoas de várias cidades do país, que querem replicar o modelo em suas comunidades. No sábado e no domingo, um grupo de 26 observadores, de diferentes estados, vai acompanhar o trabalho em Bragança para tentar multiplicar a ideia em suas cidades.

Abaixo, vídeo da 12ª ação realizada pelo grupo Reparação:

Retribuição

Leonardo Finamor, hoje com 29 anos, conta que a ideia de fundar a ONG nasceu em novembro de 2013. Recém-formado, ele celebrava um ano excepcional como arquiteto na sua empresa Finamor Arquitetura. O trabalho ia tão bem que ele achou que precisava retribuir de alguma forma, embora não soubesse exatamente como.

Como arquiteto, e já com uma experiência em trabalhos voluntários, que aprendeu com os pais, ele havia identificado que muitas famílias na sua cidade viviam em condições degradantes.

“Acordei numa madrugada já sabendo o que deveria fazer. Fui para o computador e comecei a disparar e-mails para familiares e amigos para contar a novidade e pedir ajuda. Decidi que ia fazer reparos em casas de famílias que precisavam muito”, conta Leo em entrevista ao Boas Novas.

Mais do que dar um lar para pessoas que viviam em situação extremamente precária, sua intenção era também ajudar a recuperar a dignidade dessas famílias. “Como arquiteto, sempre achei que a casa é um lugar imprescindível para o bem-estar das pessoas. A Reparação nasce, então, fundamentada no sonho de que todas as famílias possam ter um lar digno para viver, que funcione não somente como uma barreira física, mas que seja também um invólucro emocional de um mundo tão desigual”, assinala Leonardo.

Leonardo Finamor e a mulher, Daniela Finamor, com o filho de 1 ano, que já vestiu a camisa da Reparação. Foto - Arquivo pessoal
Leonardo Finamor e a mulher, Daniela Finamor, com o filho de 1 ano, que já vestiu a camisa da Reparação. Foto – Arquivo pessoal

Primeira reparação

O primeiro apoio para a empreitada foi dado por Daniela, designer de interiores, hoje sua esposa. No dia seguinte, 11 de novembro, Leonardo faria a primeira reunião com um grupo de amigos e familiares para explicar melhor a ideia.

Exatos 33 dias depois, no dia 14 de dezembro, o Reparação atendeu a primeira família: um casal com quatro filhos, sendo que a mais nova, com 2 anos de idade, nunca havia tomado um banho de chuveiro, pois não tinha ligação hidráulica na casa. Para fazer os reparos necessários na casa, a ONG contou com a ajuda de 40 voluntários.

Com cerca de cinco anos de vida, a entidade hoje não consegue absorver a quantidade de pessoas, de vários cantos do Brasil, que se inscrevem para ajudar. Para o trabalho de reparação nos próximos dias 10 e 11, mais de 200 pessoas queriam atuar como voluntários. Só havia lugar, entretanto, para cerca de 100.

Ação localizada

ONG sem fins lucrativos, sem vínculos religiosos ou partidário, a Reparação se dedica a reformar casas em bairros de baixa renda, exclusivamente no município de Bragança Paulista. Por ano, a entidade consegue realizar até três ações, uma vez que a equipe de organização é totalmente voluntária, além das limitações de recursos financeiros e de materiais para a execução das obras.

As casas que serão reparadas são indicadas pela assistência social do município, por integrantes da própria família a ser beneficiada ou por voluntários. Para a escolha do imóvel, são adotados alguns critérios: a família precisa ter a posse do imóvel, não ter condições de sair da situação de risco por meios próprios, as condições de saúde de familiares, idade avançada ou presença de crianças entre os moradores, condições de vida insalubre.

O processo é concluído após uma visita para avaliação das condições socioeconômicas da família e de viabilidade técnica da obra. Em média, o trabalho demora cerca de quatro meses, desde a identificação do imóvel e da família a ser beneficiada, até a execução da obra.

Aproximadamente 15 dias antes do Dia D, o grupo começa a fazer o trabalho estrutural. Na sexta-feira à noite, os voluntários recebem um treinamento e informações detalhadas da ação, previamente definida pelo grupo da organização, e no sábado e domingo é concluída a obra.

Grupo de voluntários pouco antes de iniciar os trabalho de reforma de mais uma casa.
Grupo de voluntários pouco antes de iniciar os trabalho de reforma de mais uma casa.

Corrente do bem

“É uma emoção indescritível quando terminamos a obra para entregar à família”, conta André Prata, da diretoria da ONG, que começou como voluntário e já está na sua sétima reparação. Mais do que a emoção, sempre acompanhada por muitas lágrimas dos envolvidos, os participantes saem com a convicção e a força necessárias para fazer a próxima ação.

Aliás, como ressalta André, outro objetivo da ONG é buscar a transformação dos voluntários através do envolvimento social, do trabalho em equipe, disseminando a corrente do bem e motivando as pessoas a criar outros grupos que possam realizar trabalhos similares em outras cidades do país.

A ação de número 13 da ONG vai beneficiar, nos próximos dias 10 e 11 de novembro, um casal de idosos que vive em um barraco de um cômodo construído com telhas onduladas. O piso é de terra e os dois são obrigados a tomar banho de caneca com água aquecida em fogão a lenha, fora da moradia.

Imagem da casa de um casal de idosos, construída com telhas onduladas, que será reformada nos dias 10 e 11 de novembro.
Imagem da casa de um casal de idosos, construída com telhas onduladas, que será reformada nos dias 10 e 11 de novembro.

“As condições são muito precárias”, conta André, que revela ainda que essa edição de número 13 tem um diferencial em relação às anteriores. Dessa vez, a ONG teve que construir do zero a nova casa, uma vez que nada pode ser aproveitado. O trabalho começou cerca de 30 dias atrás e, no final de semana, será concluído pelos voluntários que, mais que um teto ao casal de idosos, vão resgatar a dignidade de dois seres humanos.

Quem teve a oportunidade de participar das atividades da ONG nos seus cinco anos de vida não tem dúvidas em afirmar que recebem mais do que doam. “A Reparação não repara apenas casas, mas constrói histórias, repara corações e estimula constantemente o conceito de que nada, nem ninguém, é descartável e que tudo pode ser reparado”, escreveu Leonardo em uma rede social.

“As construções se deterioram com o tempo – acrescenta o empreendedor social Leonardo -, assim como as pessoas serão sempre suscetíveis a erros. É preciso acreditar no poder da reparação física e emocional de tudo e de todos que nos cercam. Nestes tempos tão estranhos, tão intolerantes e radicais, que a gente possa manter a serenidade, encher o coração de esperança e sempre prestar auxílio àqueles que necessitam”.

Vida longa para a ONG Reparação e que iniciativas semelhantes se multipliquem país afora.

Como ajudar

Segundo o presidente da ONG, André Prata, em cada ação de reparação são gastos entre R$ 20 mil e R$ 25 mil. Na edição 13, serão consumidos cerca de R$ 40 mil, já que a construção teve que ser feita praticamente do zero. Todos os recursos, bem como o material para as obras, o mobiliário, utensílios domésticos, são doados.

Como o trabalho da ONG é permanente, ela recebe contribuição em dinheiro, que pode ser feita pelo Pay Pal ou por meio de crédito em conta corrente da instituição. Para quem quiser e puder ajudar, seguem os dados bancários:

Banco do Brasil

  • Ag. 0167
  • C/C 48.173-4
  • Razão Social: Reparação
  • CNPJ: 20.840.053/0001-28

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