Uma dica para incrementar a Data Fifa na América do Sul

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Os jogos da Data Fifa atrapalham os clubes brasileiros

Sou um apaixonado pelo futebol, como já deixei bem claro aqui várias vezes. E sempre que chega aquele período da Data Fifa, quando as seleções se reúnem, eu, que deveria achar o maior barato, fico de uma certa forma incomodado com o que acontece no Brasil. Ao invés de simplesmente usar esse espaço para reclamar, vou falar de uma boa ideia que pode funcionar muito bem na América do Sul.

Enquanto a seleção brasileira mediu forças contra os Estados Unidos e a inexpressiva equipe de El Salvador nos últimos dias, as grandes potências europeias tiveram bons encontros marcados nas mesmas datas. Além de, obviamente, ser muito melhor e mais produtivo testar uma equipe contra um adversário mais forte, quando está valendo, tudo fica ainda mais atrativo.

E por que isso aconteceu? A Uefa, entidade responsável pelo futebol europeu, decidiu criar um novo torneio que não ocupa datas extras do calendário do esporte. Como assim? Ao criar a Liga das Nações, a Uefa fez com que amistosos inexpressivos ou caça-níqueis fossem trocados por uma competição que, além do título em si, serve também como uma eliminatória para a Eurocopa, o segundo torneio de seleções mais importante do mundo, atrás apenas da Copa do Mundo.

Os efeitos são extremamente positivos. Primeiramente, há a questão da identificação da seleção com seus torcedores. Enquanto a seleção brasileira se deslocou para os Estados Unidos para fazer dois amistosos — um deles, inclusive, no feriado da independência do Brasil —, as seleções europeias jogaram em casa, diante dos seus fãs. Já não basta a equipe comandada por Tite ser formada basicamente por jogadores que não atuam no país, o time quase não joga no Brasil.

Outro ponto positivo é a questão técnica. Ao dividir seus 54 membros em quatro divisões, a Uefa permitiu que seleções de um mesmo nível, de acordo com o ranking da entidade, se enfrentassem, deixando de lado amistosos de qualidade técnica duvidosa. Portanto, enquanto o Brasil goleava El Salvador e vencia os Estados Unidos, tivemos os seguintes jogos no Velho Continente: Inglaterra x Espanha, Portugal x Itália, França x Holanda, Espanha x Croácia e Alemanha x França.

Para o leitor entender melhor, a “Liga A”, a primeira divisão da Liga das Nações, é dividida em quatro grupos com três seleções cada, reunindo os 12 melhores colocados do ranking europeu. Todos jogam no sistema de ida e volta. O campeão de cada chave se classifica para a semifinal, enquanto o último vai jogar a Liga B na próxima edição, quando serão substituídos pelos quatro melhores da segunda divisão. E assim, sucessivamente, até a quarta e última divisão. A competição termina em junho de 2019.

Outros fatores

Óbvio que não é possível repetir, proporcionalmente, a divisão na América do Sul, mas a ideia de uma competição que possa realizada nas Datas Fifa seria fundamental para o futebol do continente. Entendo a importância dos acordos comerciais, mas outros fatores precisam ser colocados na balança e um bom exemplo como o da Liga das Nações pode ajudar bastante.

O Brasil, por exemplo, vai seguir longe de seus torcedores em outubro, na próxima Data Fifa. Vai jogar na Arábia Saudita contra os donos da casa e contra a rival Argentina. Imaginem se, por exemplo, essas datas fossem ocupadas por uma competição efetiva. Ou, pelo menos, que em uma dessas datas um jogo com alguma importância fosse marcado, permitindo ainda a realização de um amistoso para atender os mais diversos interesses.

Uma alternativa, por exemplo, seria unir todas as Américas, do Sul ao Norte, em uma competição semelhante, também dividida por categorias. A chance de vermos um Brasil x Chile ou um Uruguai x Argentina seria bem maior do que voltarmos a ver amistosos contra equipes inexpressivas da Ásia, da África ou mesmo da Europa.

Valor dos clubes

A meu ver, os clubes são mais importantes do que as seleções. É deles o trabalho de fomentar, revelar e pagar o salário dos jogadores — sem falar que 95% do calendário é ocupado por competições entre clubes, sejam elas nacionais, internacionais ou regionais. A paixão de qualquer torcedor por um clube é bem maior do que a dedicação a uma seleção, tanto que aqueles que se livram do ufanismo exagerado e não associam a defesa da pátria a um jogo de seleção optam por curtir e acompanhar selecionados de outros países numa boa.

O atual caos do calendário do futebol brasileiro, especialmente, é mais um fator que afasta os torcedores da seleção. Deixar que sejam convocados jogadores importantes que atuam no país, estrangeiros inclusive, sem mexer no calendário, prejudicando a participação dos atletas em competições relevantes de clubes, só acirra esse sentimento. Hoje em dia, é comum os torcedores vibrarem quando os jogadores de seu clube não são convocados. É impressionante a CBF não parar seus campeonatos quando a seleção joga, como é em todo o mundo. O caso desta semana com os jogadores envolvidos na semifinal da Copa do Brasil é lamentável. Isso para não falar de atletas que desfalcaram seus clubes em rodadas importantes do Brasileirão.

Uma competição nova, equilibrada, associada a um calendário decente, poderia trazer benefícios incalculáveis para o futebol brasileiro e muitas dessas mazelas que citei poderiam pelo menos ser amenizadas. A Europa deu mais um exemplo, uma boa ideia, uma boa nova. Copiar boas iniciativas não custa nada e não é feio. Fica a dica!

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