O “banho de floresta” (shinrin yoku), uma terapia integrada ao serviço de saúde pública do Japão há 40 anos, é um poderoso antídoto para a depressão. Quem garante é o professor japonês Yoshifumi Miyazaki, da japonesa Universidade de Chiba, que já comprovou cientificamente os benefícios dessa técnica que é bastante simples: basta caminhar em meio à natureza e contemplá-la.
Desenvolvido no Japão, o “banho de floresta” (shinrin yoku) tem como objetivo reduzir o estresse e melhorar a saúde física e mental. Desde 2021, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Instituto Brasileiro de Ecopsiologia (IBE) tem promovido estudos mais aprofundados sobre essa terapia no Brasil.
A iniciativa brasileira chamou a atenção do pesquisador japonês Yoshifumi Miyazaki, que se ofereceu para colaborar com a Fiocruz e o IBE na implementação da terapia no Brasil. Miyazaki é conhecido por suas extensas pesquisas sobre o shinrin yoku, que incluem centenas de pessoas.
Em 1990, ele realizou a primeira medição de regulação dos efeitos do banho de floresta, analisando o nível de cortisol nas pessoas. Ao longo dos anos, a pesquisa abrangeu 63 locais e 756 participantes, constituindo a maior base de dados sobre o assunto no mundo. Miyazaki explica que a pesquisa se baseia na compreensão da relação entre o ser humano e a natureza e na interação entre ambos.
Segundo o professor, o ser humano, por seis ou sete mil anos, evoluiu dentro da natureza. No entanto, desde a Revolução Industrial, com a urbanização e a artificialização do nosso entorno, as pessoas passaram a sofrer com o estresse. Entretanto, O quadro se agravou nos últimos três anos, com a chegada da Covid-19 – que só no Brasil matou mais de 700 mil pessoas.
Banho de floresta no Brasil
Para Yoshifumi, o estresse faz parte da vida do homem contemporâneo, mas ele acredita que o ser humano foi feito para se adaptar à natureza. Ao fazer o banho de floresta, diz o professor, o ser humano se integra à mata e entra em sincronia com esse ambiente. Como resultado, acontece um relaxamento fisiológico, há uma redução dos níveis de estresse e a imunidade passa a funcionar melhor. “É o que chamamos de efeito medicinal de prevenção, ou seja, não cura a doença, mas previne que o corpo adoeça”, explicou.
No Brasil, o banho de floresta começou a ser debatido em 2017, durante um evento promovido pelo Instituto Chico Mendes. A Fiocruz tem se dedicado a compreender as relações entre saúde e meio ambiente, e esse conhecimento acumulado levou a instituição a ir além do suporte a políticas públicas, desenvolvimento científico e formação de profissionais, considerando a importância da relação entre saúde, natureza e vida.
O presidente do Instituto Brasileiro de Ecopsicologia (IBE), Marco Aurélio Bilibio Carvalho, em entrevista recente ao jornal Folha de S. Paulo, citou uma pesquisa desenvolvida pela renomada Universidade de Stanford, que revelou que as árvores têm efeito sobre o nosso cérebro, inclusive em regiões associadas à depressão. O que significa que o contato com as árvores funciona como um antidepressivo.
Terapia no SUS
Marco Aurélio, que também presidente a Sociedade Internacional de Ecopsicologia, citou ainda pesquisa feita por um hospital da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Ela revelou o caso de pacientes de um mesmo andar do hospital, mas de ambulatórios distintos, que se recuperaram de forma diferente. O grupo que se recuperava numa sala com vista para uma floresta tinha menos dor e menos necessidade de analgésicos em comparação com o outro grupo, cuja janela dava para uma parede de tijolos.
A pesquisa em andamento entre a Fiocruz e o IBE visa reunir informações e evidências sobre o banho de floresta, a fim de que o Sistema Único de Saúde do Brasil possa incluir essa terapia como prática integrativa e complementar, proporcionando assim seus benefícios à saúde da população.
Todavia, Aurélio enfatiza que a maioria das pesquisas sobre o banho de floresta se concentra no hemisfério norte, enquanto o Brasil possui uma vasta biodiversidade, com seis biomas distintos. Ele ressalta a importância de compreender os efeitos do banho de floresta nos biomas brasileiros e destaca que os resultados da pesquisa poderão contribuir para a formulação de políticas públicas de saúde, uma vez que a saúde humana está intrinsecamente ligada aos ecossistemas e ao bem-estar do planeta.
Dicas para um banho de floresta
O banho de floresta é uma terapia segura e eficaz que pode ser realizada por pessoas de todas as idades. Para realizar a terapia, basta escolher um local com árvores e plantas, e caminhar lentamente, prestando atenção aos sons, cheiros e sensações da natureza.
Aqui estão algumas dicas para realizar um banho de floresta:
- Escolha um local tranquilo e com árvores.
- Caminhe lentamente, prestando atenção aos sons, cheiros e sensações da natureza.
- Respire profundamente e deixe o ar fresco entrar nos seus pulmões.
- Feche os olhos e concentre-se na sua respiração.
- Repita a técnica quantas vezes puder e quiser.
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Com informações da Fiocruz e jornal Folha de S. Paulo