Experiência sensorial x algoritmo

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Imagem de mohamed Hassan - Pixabay
Imagem de mohamed Hassan - Pixabay

Já pensou que ao comer uma fatia de abacaxi você pode estar vivendo uma verdadeira experiência sensorial? Os neurocientistas dizem que a simples lembrança da fruta aciona um gatilho chamado de “mãos da mente”: você é capaz de sentir a textura espinhenta da fruta, enquanto mentalmente é capaz de sentir seu cheiro e o sabor doce e ácido.
Pois, então! Andei lendo sobre o tema e vi que a coisa evoluiu muito. Atualmente, não dá para a gente se contentar com uma mão cheia. Dizem os neurocientistas que outros 21 sentidos já foram identificados. Para dar conta de tudo isso há até a um recorte da Neurociência. É a Neurogastronomia.
Pois, então! Os neurogastrônomos chegaram à conclusão de que, além da combinação de sabores e texturas de um prato, há outros fatores que condicionam o nosso desejo de consumi-lo. Isso nada mais é do que a nossa memória afetiva gritando. A minha, por exemplo, não pode ver um arroz doce que fica histérica. O da Vovó Cocota era o melhor do planeta. Tem também o arroz de forno, o manjar branco, a gelatina cor de rosa e a torta de amendoim da Mamãe …. Ah, infinitas delícias.
Mas, saindo da cozinha e indo direto para o quarto. o olfato é outro sentido que dá as cartas na minha vida. Alfazema Garrão me leva direto para a adolescência. Hoje, sou fã do Doce& Gabanna Light Blue, mas ainda uso o Garrão quando, para fugir das tempestades, peço abrigo no tempo da delicadeza. Tem também o Chanel Nº 5. Esse me devolve ao colo da minha mãe. Dona Nely amava esse clássico.
Ah, e por falar em clássicos, pode esquecer. Daqui a pouco, mais que vintage, serão parte de um passado que não volta mais. O futuro chegou na velocidade da luz. Li um artigo escrito pela jornalista e pesquisadora em futurologia, Lidia Zuin, no qual ela conta que na Suécia a perfumaria No Ordinary Scent ou NOS, usa a inteligência artificial para criar fragrâncias personalizadas a partir da análise de imagens.
Traduzindo para nós leigos, os perfumistas da NOS criam fragrâncias pessoais baseadas em emoções, sentimentos e visões. Só que usando algoritmos. Pode isso, Arnaldo?
Não só pode como parece ser muito simples. O cliente, além de nomear o perfume, ainda pode escolher até três imagens que ditarão o “tom” da fragrância. “A recomendação é que seja mais de uma foto. É para que o perfume tenha um cheiro mais complexo. O cliente é encorajado a enviar imagens que trazem memórias. Isso, segundo a Lidia, acrescenta mais uma camada de sentido à fragrância personalizada.

“Para associar esses elementos com as imagens, o algoritmo da NOS analisa as imagens enviadas pelos clientes a partir de suas cores, tonalidades, leveza, a existência de elementos da natureza, pessoas, animais e outras”.
A conclusão dessa história toda é que o futuro já chegou e com ele a possibilidade de cada um, claro que com a ajuda da NOS, criar o seu próprio cheiro e o seu “gatilho” de memória afetiva.
Ah, a Lidia, que além de jornalista também é mestre em Semiótica, doutoranda em Artes Visuais, palestrante, professora e escritora de ficção científica, ou seja, entende bem do babado, quis, como São Tomé, ver pra crer e testou o modelo da NOS.

A fragrância chama-se “Sehnsucht”, saudade em alemão e nome de uma música da banda Einstürzende Neubauten. As fotos são de pessoas das quais ela sente saudades. O resultado foi “um perfume de base âmbar, grão tonka e amêndoas assadas; coração composto por pêssego, troncos salgados e almíscar metálico; e cabeça de pimenta rosa. Senti que a fragrância era um pouco mais doce do que estava acostumada (prefiro perfumes frescos), mas ainda assim o fundo amadeirado deu um equilíbrio que me fez pensar na palavra “agridoce” —um termo que me parece muito bem casado com saudade”.
Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem, mas, como diz o Amaral lá de Divinópolis, num vô querê, não. Podexá. Passa mais tarde. Tô precisada, não. Tá bom do jeitinho que tá. Mais pra frente, quem sabe?
OBS: se você ficou curioso e quer ler o artigo da Lidia Zuin, clique aqui.

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