Faltou azeitona no bacalhau

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Azeitona verde - imagem - Pixabay
Azeitona verde - imagem - Pixabay

Aprendi no Prédio 13  da PUC Minas a importância da Semiótica. É nessa Ciência que está a explicação  para o que é simbólico.

E não há campo mais fértil que a Semana Santa pra esse despertar do significado daquilo que se esconde por trás dos sentimentos. É nessa época que muitos objetos, imagens, sons e cheiros remetem ao que está mergulhado lá no escondido da memória.

Para quem mora ou tem raiz na “Minas profunda” essa conexão é ainda maior. A proximidade deixa tudo muito a flor da pele. Tudo mexe com a gente.  Como hoje, quando a imagem de um ramo de oliveira me levou para bem perto de uma memória que fluiu como uma cachoeira.

Muito antes dos netos nascerem, quando os filhos ainda eram bem pequenos, Vovô Nenen plantou um pé de azeitona no quintal. Durante anos a árvore ficou ali, impávida, linda, viçosa, mas, surpreendentemente, estéril. Apesar da idade e da maturidade, nem um frutinho sequer brotava daqueles galhos. Até que um dia, sem mais nem menos, apareceu uma azeitonazinha. Uma só. A preciosidade passou a ser cuidada com todo zelo pelo meu avô.

  • Cuidado. Nada de mexer com a azeitona. Deixa ela crescer! Vovô ditava a ordem, ciente da autoridade que exercia sobre os netos.

Mas quem é que pode com um bando de crianças? Em um dia qualquer, numa fração de segundos, uma mãozinha sorrateira alcançou a azeitoninha. Sem nem olhar pros lados,  o desejo venceu o medo e a Gyslaine botou a frutinha verde na boca..Certamente imaginou que seria tão saborosa como as azeitonas que a Vovó Cocota colocava no bacalhau da Páscoa. Mas foi a conta de uma mordida e lá veio uma cuspida. A coisa era danada de ruim. Amargava que nem fel.

  • “Comeram a minha azeitona?”, lamentou o meu avô assim que descobriu o malfeito. Uma  ladainha passou a ser entoada por dias, seguida, é claro, de uma pergunta que nunca foi respondida:
  • “Quem comeu a minha azeitona”?  Ah, se eu pego esse danado”.

Hoje, e lá se vão algumas décadas, toda essa cena se tornou presente. “Presente”? Taí uma palavra instigante.  “Presente” tanto pode ser verbo quanto substantivo. Se é tempo verbal,  o presente caracteriza a ação ocorrida exatamente no momento em que se fala (agora); é aquilo que é comum ao tempo presente; se é substantivo masculino é aquilo que se oferece a alguém como agradecimento ou retribuição.

Pode ser também um intervalo de tempo localizado entre o passado e o futuro; ou, ainda, o momento atual. “Presente” tem ainda sinônimos e antônimos. “Presente” é sinônimo de lembrança, de recordação, de agradecimento. E também o contrário de esquecido, passado, duvidoso, ausente, futuro, obscuro, de incerto.

Concluindo, por aqui, passado ou presente, tudo faz sentido. Como na Semiótica.

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