Para aquecer o Deus menino

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Imagem - Pixabay
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Com o Natal pertinho, o coração da gente parece ganhar vida própria. Bate tão forte que quase sai do peito. É um tal de “baticunduparacundum” que não acaba mais. Lembranças demais. Uma avalanche delas. Quase soterram a gente. E muito amor resgatado.

Lá pra outubro o Natal já começa a pautar as conversas daqui de casa.

  • E o Natal, heim? Tá pertinho, diz uma das irmãs.
  • É mesmo, né? Confirma a outra.
  • Ihhhh, esse vai ser mais um ano de lembrancinhas. Êta fase dificil! Nos últimos anos tem sido assim.
  • Que pena, lamenta a terceira.
  • A mais pragmática diz: Temos que começar a pensar na montagem da árvore, nos enfeites da casa, na ceia.

Pra ceia nem precisa, uai!  O cardápio é o mesmo desde que a gente se entende por gente.
Todas riem da afirmação. É quase uma piada familiar.

  • E você nem ouse excluir a farofa de biscoito cream cracker e o tutu de feijão. Isso vai dar briga na certa. O Beto e o Bernardo não vão nos perdoar, orienta uma das seis irmãs.

Papai entra na conversa e diz que na ceia tem que ter pernil e frango assado. É de lei. Afinal essa é uma família mineira.

  • Ah, a sobremesa fica comigo. Vou fazer a mousse de vinho de novo. Na nossa família, todo mundo ama, né? Não pode faltar, lembra uma sobrinha.

E ainda tem as frutas, as castanhas, as bebidas … Precisamos fazer uma lista, alguém palpita.

A partir daí os dias passam a correr acelerados até que novembro chega e com ele o Advento. Fim do planejamento.  Hora de botar a mão na massa de fato.

Papai se preocupa com as luzinhas da varanda. A Denise, com a árvore. Ela ainda está aborrecida. Acha que a árvore é pequena. Queria uma bem grandona como aquelas dos filmes da sessão da tarde. Bobagem. A nossa nem é tão pequena assim. Tem mais de um metro de altura. Tá de bom tamanho. 

Com a árvore montada, os galhos começam a ganhar vida. Os enfeites são lindezas que herdamos da mamãe. Pedacinhos de saudade. Outras peças vieram na mala. Recortes de uma viagem inesquecível.  Impossível deletar da memória a visita à Feira de Natal de Salzburgo. E não é só a feira. A Áustria inteira  parece mesmo um presépio. Por lá tudo é muito lindo. Não resisti à delicadeza dos enfeites de madeira pintados à mão. Comprei alguns.

A árvore ficou linda. Mas falta o toque da Jacq. É pra ficar mais encantadora ainda. Já sabemos que ela vai colocar aquele monte de urso para compor a cena.

  • Aí, me Deus! Rezando aqui pra Jacq  esquecer daquele bem grandão. Acho que não vai caber, receia a Denise. Desconfio que esse irmão vai “tomar chá de sumiço” por alguns dias. A conferir.

O presépio também  já foi instalado. Está em um lugar de destaque na casa. Estratégia pra ninguém esquecer do sentido da festa. O Menino Jesus permanece deitadinho na manjedoura. Mas, tadinho! Deve estar mortinho de frio.  Continua à espera das palhas que não virão. Tem sido assim desde que crescemos. Quando crianças, a cada boa ação realizada, a cama do Menino Jesus ganhava mais uma palha.  Idéia de gênio da Mamãe pra trazer um pouco de paz à família. E dá-lhe palha. No Natal era tanta palha que mal se via o Jesus Menino, praticamente soterrado. Mamãe, irônica que só ela, elogiava:

–  Filhos de ouro. Uma legião de “anjinhos”. Só que com data de validade.

Até tentamos resgatar a tradição com os sobrinhos. Nada feito. São outros tempos. Fomos vencidos pelos Robloxs, K-pops…. Sem drama. E assim mesmo.

Só como curiosidade, bora fazer uma busca na internet pra conferir os preços das cestas de Natal, outra tradição da família. Impossível. Preços nas alturas. Fica pro ano que vem.  Nesse, a exemplo do ano passado,  nada de cestas.  Tem problema, não. Vamos nos fartar com as lembranças das cestas da nossa infância. Presentes do Tio Chico. Vinham lá do Rio de Janeiro.

Chegavam pelo Correio dias antes do Natal. Vovô Nenen fazia desse presente mais um ritual. No dia 25, logo após o almoço, abria a cesta em uma uma mesa com banquinhos instalada à beira do rio Pará. A gente se embolava ali com os brinquedos que Papai Noel tinha deixado na árvore e haja doces, biscoitos, castanhas pra dar conta de tanta gula … Tudo era uma delícia. Tudo era mágico. Como o Natal.

Ah, e já que estamos no espírito natalino, que tal uma receita de família guardada a sete chaves? Pra vocês, a Mousse de Vinho, um clássico das nossas ceias:

Mousse de Vinho

Igredientes
1 lata de Creme de Leite 
1 lata de Leite condensado 
2 latas de Vinho tinto suave 
2 envelopes de Gelatina incolor sem sabor

Calda
1 lata de Vinho Tinto 
150 gramas de Açúcar
Cravo-da-Índia a gosto
Anis-estrelado a gosto

Canela a gosto
Modo de fazer a mousse:
Bata os ingredientes no liquidificador por 4 min. Coloque em uma forma e leve para gelar. Nã hora de servir, desenforme. Cubra com a calda.

Modo de fazer a calda:
Cozinhe a calda até engrossar. Depois de fria, cubra a mousse.

7 COMMENTS

  1. Em todos os Natais, prioridade é não deixar o aniversariante fora da festa, na calçada porque, com tantos preparativos, às vezes nos esquecemos Dele.

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