Alguém tem um ombro amigo aí?

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O prazer maior não está na festa, mas no convívio com os amigos”. Essa frase não é de hoje. Foi escrita pelo filósofo Cícero no ano de 65 A.C.

Feliz de quem tem amigos, ombros pra chorar e colo pra aninhar, né mesmo? Sempre soube disso. A certeza veio quando, em um dia qualquer, daqueles que não prometem nada além da rotina, entrei distraída em um táxi. Murmurei o meu endereço. Sequer ergui os olhos. Só queria abstrair.

  • “Você nem imagina o quanto uma separação é difícil”, ouvi o motorista dizer. Era praticamente um lamento.

No início, fiquei surpresa. Conferi no retrovisor se era alguém que eu conhecia. Nunca tinha visto. Pra não ser deselegante, me obrigue a fazer alguns comentários, todos evasivos. Mas, por pouco tempo.

Logo, logo aquele bichinho que vive em quem é repórter pra sempre começou a me picar. Como jornalista, me alimento de histórias. Não consigo me distanciar de quem se dispõe a contá-las. Em segundos, passei a ouvi-lo com interesse e comoção. Era praticamente um monólogo. Ele relatava. Ele mesmo comentava.

Em pouco mais de sete minutos, o taxista discorreu sobre a separação recente, lamentou a imaturidade da ex-mulher – “ela não consegue lidar sozinha com a filha; é tão adolescente quanto ela”- sobre tê-la perdoado, mesmo se sentindo traído, sobre o pedido que ele diz ter feito à ex-esposa para que não terminasse um casamento de mais de quinze anos .

A corrida terminou. Eu ainda fiquei ali, na porta de casa, comovida, praticamente despida da minha porção jornalista, tentando dizer alguma coisa que pudesse consolá-lo. Por fim, nos despedimos como velhos amigos que nunca fomos. Ele agradeceu e se foi.

Amigos fazem falta. E como!

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