3 livros-reportagens que prendem o leitor até a última página

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Quem gosta de livro-reportagem tem três opções

Um bom livro-reportagem é capaz de prender a atenção do leitor como se fosse um romance policial, com mistérios e histórias a serem desvendadas.

Nesta semana, separei três obras escritas por jornalistas do primeiro time, de temas diversos: há a questão religiosa no Afeganistão, que compromete a vida de crianças; o erro num julgamento nos Estados Unidos; e uma investigação no submundo de Tóquio.

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As Meninas Ocultas de Cabul, de Jenny Nordberg

No Afeganistão, famílias que não conseguem ter filhos homens sofrem preconceito e podem ser excluídas da sociedade. Para evitar esse tipo de problema, os pais transformam as meninas em meninos, ainda crianças, com seus 6 anos. Dessa forma, são aceitos e conseguem respeito. A questão é que essas crianças acabam por se transformar psicologicamente também.

A volta ao gênero, anos depois, por conta da maturidade física, é traumática. Muitas não querem voltar a ser mulheres, pois não terão mais liberdade de agir, brincar, andar nas ruas. Os homens podem tudo, enquanto as mulheres têm inúmeras restrições, que ultrapassam a indumentária.

A jornalista norte-americana disseca essa história em “As Meninas Ocultas de Cabul” (Companhia das Letras), um livro tocante e revelador. Conhecemos as vidas dessas famílias e dessas crianças, as chamadas bacha posh. É uma reportagem que, mais do que colocar um pouco mais de fé no jornalismo, mostra o quanto o mundo ainda está longe de encontrar um equilíbrio que permita a vida em comum.

Nó do Diabo, de Mara Leveritt

Quem assistiu à série documental “Making a Murderer” (disponível na Netflix) vai identificar semelhanças com este livro da jornalista americana. Na TV, a história tratava do caso de um homem julgado e condenado por um crime que não cometeu. Em “Nó do Diabo” (Record), vamos ler sobre o mesmo problema, um erro judicial que condenou três jovens por um crime que eles não cometaram.

A investigação da jornalista mostra como Jessie, Damien e Charles foram condenados pelo assassinato brutal de três crianças em 1993, em West Memphis, no Arkansas. No cardápio, satanismo, investigações fora dos padrões éticos, uma análise forense precária, preconceito e costumes culturais de uma área dos EUA propensa a enxergar cenários deturpados. Leveritt conta a história do começo ao fim, do momento logo após a descoberta dos corpos, passando pelas primeiras investigações até chegar ao momento em que a decisão é revertida.

É um obra de fôlego – são 422 páginas, com dois posfácios, mais 60 páginas de notas explicativas. Esse caso ganhou grande repercussão quando artistas se juntaram à causa, como Johnny Depp e Eddie Vedder. A história também ganhou um documentário de três partes, lançado em 2012. É um livro para quem gosta de jornalismo e investigação policial. Uma vez que você começa, fica difícil parar até chegar ao seu final.

Tóquio Proibida, de Jake Adelstein

Imagina-se que Tóquio, capital de primeiro mundo, esteja imune a certos crimes. Jake Adelstein fez o possível para provar que essa sensação não corresponde à realidade.

Em “Tóquio Proibida” (Companhia das Letras), o jornalista norte-americano de origem judaica desce ao submundo japonês para relatar casos de tráfico de mulheres, ações da Yakuza, a máfia local, e as relações com o poder.

Adelstein foi estudar no Japão e aprendeu a ler e escrever japonês. Com esses requisitos, buscou uma vaga no principal jornal do país. Surpreendeu-se ao ser chamado para trabalhar.

O livro começa narrando essas primeiras aventuras. Depois, ele vai mais fundo, ao ser escalado para cobrir bairros boêmios pela editoria de polícia. Vai conhecer a noite japonesa e seus meandros. Prostituição, casas de acompanhantes, pornografia, fetiches, até chegar ao tráfico de mulheres, Adelstein passa por tudo isso para compor suas reportagens.

Nessa fase, chega à Yakuza. E seu faro de repórter fala mais alto quando descobre que um figurão da máfia conseguiu entrar nos Estados Unidos para fazer um transplante de fígado. Ele vai investigar a fundo e tocar num vespeiro. Sua vida é ameaçada e ele se vê abandonado pela mídia japonesa. Só consegue algum tipo de segurança quando publica a história no “Washington Post”. O livro revela então um desconhecido, para derrubar estranhamentos.

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Gostou da seleção? Se quiser acrescentar um livro à lista ou sugerir um tema para a coluna, deixe um comentário. Aproveite e leia mais indicações da coluna Bússola.

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