O Instituto Butantan pretende iniciar em abril os testes em humanos da vacina 100% nacional que está desenvolvendo contra a Covid-19, chamada ButanVac. Para iniciar as testagens, o instituto aguarda apenas autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Se tudo sair como o planejado, essa nova vacina poderá começar a ser aplicada em brasileiros a partir de julho.
“Os resultados dos testes pré-clínicos se mostraram extremamente promissores, o que agora nos permite evoluir para testes em voluntários já em abril, desde que a Anvisa autorize’, informou o diretor do Butantan, Dimas Covas. A expectativa é produzir, até o final do ano, 40 milhões de doses da ButanVac.
O instituto prevê que serão realizados, inicialmente, testes em um grupo de 1.800 voluntários. Nessa fase, são avaliadas a segurança e a capacidade que tem o imunizante de produzir anticorpos contra o vírus. Posteriormente, a vacina deverá ser aplicada num grupo de cerca de 9 mil voluntários, quando será checada a sua eficácia.
O otimismo em relação ao prazo curto para a realização dos testes, algo como três meses, tem uma explicação. De acordo com Dimas Covas, para a produção da ButanVac o instituto usa uma tecnologia que já é aplicada na fabricação da vacina contra a gripe comum, portanto bastante conhecida.
O diretor ainda ressalta que o conhecimento adquirido com os testes da Coronavac no Brasil, que foram coordenados pelo Butantan, também ajudarão a acelerar a fase de testes da vacina brasileira. “É uma segunda geração de vacina contra a Covid-19; pode haver uma análise mais rápida”, assinalou Covas.
A ButanVac está sendo desenvolvida por um consórcio internacional liderado pelo Butantan, que ficará responsável pelo fornecimento de 85% da vacina, caso ele se confirme eficaz. Participam desse consórcio o Vietnã e a Tailândia, onde o imunizante também será testado.
Tecnologia da ButanVac
A vacina Butanvac vai utilizar a mesma tecnologia da vacina contra a gripe, que também é fabricada pelo Instituto Butantan. De acordo com Dimas Covas, o vetor utilizado é um vírus chamado Newcastle, que infecta aves.
Os pesquisadores injetam nesse vírus os genes da spike do coronavírus, como é chamada a proteína que se encaixa nas células humanas para promover a infecção. Depois de modificar o vírus Newcastle com a proteína do coronavírus, ele é introduzido em ovos de galinha, onde se multiplica.
“É uma vacina produzida em ovo embrionário, mas ela se utiliza da estrutura básica de um vírus, de um vírus que infecta aves, chamado Newcastle. Esse vírus foi modificado geneticamente e ele expressa a proteína S”, explicou Covas.
“Só que essa proteína S é uma super proteína S. Ela desenvolve imunidade de uma forma muito mais efetiva que essas outras vacinas no mercado que usam a proteína S”, acrescentou o diretor do Butanta
O Butantan, um dos maiores produtores de vacinas da América Latina, responsável no Brasil pela produção da chinesa Coronavac, fornece hoje mais de 80% das doses contra a Covid ao Programa nacional de Imunização. A fabricação da ButanVac, conforme assegurou Covas, não vai afetar a produção da Coronavac.