Amarelinha, dormideira e vagalumes

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Criança brincando com o jogo das amarelinhas numa calçada pública
Criança brincando com o jogo das amarelinhas numa calçada pública

Passada a eleição, definidos os resultados, os ânimos acalmados, a gente até poderia jurar que voltamos à rotina. Isso se não fosse a pandemia e por um desejo incontrolável de uns e de outros, todos ávidos por mudar o mundo. Nesse caso, os eleitos. Principalmente aqueles que vão assumir o primeiro mandato. Os bem intencionados, é claro.

Dias desses, numa conversa informal na varanda de casa, respeitando, é claro, as regras de isolamento social – máscara, um metro e meio de distância, sem abraços e sem cumprimentos pela vitória – um dos novos vereadores, entre assustado e orgulhoso da empreitada que se avizinha, contava sobre as inúmeras sugestões que vem recebendo para melhorar o município.

Minha língua coçou pra começar a discursar sobre papéis no exercício do poder, sobre a diferença entre legislar e executar. Mas, como prudência e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém, me contive.

Mas, confesso, o entusiasmo dele me contagiou. Também tive vontade de propor. Afinal, tenho um cesto enorme, lotado de sugestões pra oferecer a quem vai assumir o Executivo e propor a quem vai legislar. Claro que com funções definidas. Prefeito executa, vereador cria leis e fiscaliza.

Que tal ter um novo olhar para os passeios públicos? Que tal fazer desse prosaico local de caminhar um espaço lúdico? Como? Fácil e barato. Proponha ao prefeito eleito que pinte o “jogo da amarelinha” sobre os passeios.

Ah, não acredito. Você não sabe que jogo é esse? Nunca brincou de “amarelinha”? Então vou resumir: você joga uma pedrinha ou outro objeto em uma das casas numeradas. Na sequência, percorre todo caminho traçado sem pisar na casa marcada. Isso tudo pulando numa perna só. Na volta você recolhe a pedrinha. Duvido que alguém – criança ou adulto – vai passar batido se botar o olho “nessa obra”. O que vai ter de gente grande brincando. É só pagar pra ver.

Meus outros “projetos” seguem essa mesma linha de raciocínio. Se você é do meu time vai entender. Vai ver que láaaaa atrás a gente já tentou atrair vagalumes entoando o “vagalum tum tum, seu pai tá aqui, sua mãe tá aqui …” Ou, quem sabe, já passamos horas importunando um galho de “dormideira”, repetindo o “Maria abre a porta que o boi já vem”, na esperança que o arbusto saísse de sua dormência e abrisse as folhinhas pra nós.

Ihhh, aqui estou eu, mais uma vez, abstraindo e divagando. Saudosismo? Efeito da pandemia? Pode ser, né?

Enquanto isso, sem aulas, Bernardo está totalmente imerso no Robox. A Juju se diverte com o Tik Tok e a Gabriela brinca com a “Maria Clara e o JP”, Marsha e afins. Em Beagá, a Lorena se inspira nos desenhos para criar brincadeiras. E em Brasília a Isabela surpreende com discursos inacreditáveis. De quem mesmo? Difícil acreditar, mas são falas de personagens de “Carinha de Anjo” e do “Carrossel.

Sem passeios pintados com amarelinha, sem dormideira e sem vagalumes. Se faltam passeios lúdicos e brincadeiras, sobram telas de TV, smartphones e tablets.

É, acho que tá na hora de marcar um horário na agenda do novo prefeito. Ando fervilhando de ideias improváveis. Vai que ele se entusiasma.

E sobre o sumiço dos vagalumes e das dormideira … Ah, melhor deixar pra depois. Conto em outro momento.

1 COMMENT

  1. Se as crianças de hoje soubessem como é tão bom largar os smartphones e brincar de amarelinha, pega-pega, roda e outras brincadeiras de nossa infância. Eles veriam o mundo de uma outra forma. Talvez a inocência voltasse.

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