O mineiro Vamberto Luiz de Castro, de 62 anos, de Belo Horizonte, é o primeiro paciente brasileiro a ser submetido, com sucesso, a um tratamento inovador contra o câncer. A nova terapia modifica o DNA das células do próprio paciente para enfrentar a doença. Os resultados em Vamberto foram surpreendentes: em menos de 20 dias após o início da tratamento, ele não apresenta mais sinais da doença.
Funcionário público aposentado, Vamberto foi diagnosticado com linfoma não Hodgkin de células B, já em estágio avançado, em 2017. Desde então, se submeteu a quatro rodadas de tratamento, que incluiu quimioterapia, radioterapia e imunoterapia, mas sem sucesso. Não havia mais perspectivas para o doente, considerado terminal e sofrendo com fortes dores e perda de peso.
Pedro Castro, filho do paciente, descobriu que o médico Renato Guerino Cunha, pesquisador do Centro de Terapia Celular da USP (CTC), estava desenvolvendo no Hospital das Clinicas de Ribeirão Preto o método conhecido como CAR-T, que associa a imunoterapia à engenharia genética. É como se o paciente recebesse um medicamento personalizado para o tratamento da sua doença.
“O filho dele me procurou porque ficou sabendo que eu tinha ganhado um prêmio da Associação Americana de Hematologia para desenvolver a CAR-T aqui”, conta o médico Renato Guerino. O tratamento teve início 30 dias atrás e Vamberto, que até então, segundo os médicos, não teria mais do que um ano de vida, deve receber alta do hospital amanhã (12). Com a nova medicação, em 20 dias o paciente não apresentava mais sinais da doença.
“Tratando-se de câncer, ainda é cedo para dizer que ele está curado, mas ele não apresenta mais sinais da doença e era um paciente que já estava em cuidados paliativos”, afirma o hematologista Dimas Tadeu Covas, coordenador do Centro de Terapia Celular (CTC) do Hemocentro do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCRP). “Esse era um paciente que precisava de morfina para controlar as dores e tinha nódulos grandes pelo corpo todo. O resultado é incrível”, comemora Covas.
“O que falta para fechar o diagnóstico de remissão é o PET-CT [exame de tomografia], que deve nos dar os dados mais seguros daqui a 60 dias”, completa o médico Renato Cunha.
Tratamento pelo SUS
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Os primeiros usos comerciais da técnica chamada CAR-T foram aprovados há cerca de dois anos pela FDA, agência reguladora de alimentos e remédios do governo americano, e as taxas de sucesso do tratamento são de 80%, em média. Desenvolver a CAR-T no Brasil é um objetivo considerado estratégico pelos pesquisadores por causa do seu potencial de cura.
A tecnologia também é cara, com tratamentos que custam centenas de milhares de dólares. Sendo desenvolvida no Brasil, os custos serão reduzidos e a intenção é que o tratamento esteja disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Por enquanto, o novo tratamento é feito somente no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, ainda assim para pacientes compassivos, ou seja, que já foram submetidos a outros tratamentos, mas sem sucesso. Ou seja, o CAR-T é a última esperança. Nos próximos seis meses, outros dez pacientes deverão passar pelo mesmo tratamento.
Com Revista Veja e Folha de S. Paulo