Um grupo de cerca de 80 voluntários vai bater à porta da faxineira Dinéia, 50 anos, às 7h da manhã no próximo sábado, 7 de setembro, o dia da Independência, para uma ação que vai transformar a sua vida. A missão do grupo é reformar a sua casa, hoje em condições degradantes, e fazer dela um lar, um lugar onde um ser humano possa viver com um mínimo de dignidade.
A tarefa é, na verdade, a 15ª ação patrocinada pela ONG Reparação, que nasceu em 2013 em Bragança Paulista, por iniciativa do jovem arquiteto Leonardo finamor, na época com 24 anos, para fazer reformas de casas em áreas de grande vulnerabilidade social na cidade e que não ofereciam condições mínimas de habitabilidade.
A escolha da beneficiária desta nova ação, que mora na periferia de Bragança, foi feita após o grupo avaliar a situação de 30 pessoas que também vivem em situação precária.
“Das 30 famílias que visitamos, as condições da casa da Dona Dinéia eram as mais precárias e ela não tinha como sair dessa situação por meios próprios”, explica André Prata, da diretoria da ONG, ao Boas Novas. Segundo ele, a casa a ser reformada tem três cômodos, um pé-direito de menos de dois metros, telhado todo comprometido e como vaso sanitário a moradora usa uma lata de tinta. “São condições subumanas”, assinala André, que conta que a faxineira vive com três cachorros, um gato e um coelho.
Já no final do dia 8, domingo, Dona Dinéia terá um novo lar. Para conseguir finalizar o trabalho em dois dias, uma equipe precursora já realizou algumas obras, como aumentar a altura das paredes, reparar o telhado, com nova madeira e novas telhas, construção de um banheiro e o piso. Mais que uma nova casa, Dona Dinéia terá de volta sua dignidade, outro resultado muito concreto que a Reparação dá às famílias beneficiadas.
Veja aqui vídeo do trabalho feito pela ONG na 14ª Reparação:
Filhas da Reparação
ONG sem fins lucrativos, sem vínculos religiosos ou partidário, a Reparação se dedica a reformar casas de famílias ou pessoas muito carentes, exclusivamente no município de Bragança Paulista. Por ano, a entidade consegue realizar até três ações, uma vez que a equipe de organização é totalmente voluntária, além das limitações de recursos financeiros e de materiais para a execução das obras. Até hoje, foram feitas 14 reparações, mais a do próximo final de semana.
Embora a Reparação só atue em Bragança, seu trabalho começou a despertar o interesse de outras pessoas em várias partes do Brasil, com o desejo de realizar uma ação semelhante. Em quase todas as edições, grupos de observadores, de vários municípios brasileiros, costumam acompanhar o trabalho para replicar o modelo. No próximo final de semana serão 18 observadores. Como resultado, podem ser contabilizados alguns “filhos da Reparação” país afora, inclusive em Minas Gerais.
Já nasceram o Mão na Massa, em Primavera do Leste (MT), Melhor Ação, no município de Cosmópolis (SP), Doce Lar, em Campinas, Re.Juntar, em São Paulo, Reformular, em Itatiba (SP), Mãos na Obra, em Niterói (RJ) e Renovação, em Pará de Minas.
Multiplicar ações parecidas é outro objetivo da ONG, como explica o diretor André Prata. Segundo ele, a intenção é também buscar a transformação dos voluntários através do envolvimento social, do trabalho em equipe, disseminando a corrente do bem e motivando as pessoas a criar outros grupos que possam realizar trabalhos similares em outras cidades do país. E é o que já está acontecendo.
“Tudo pode ser reparado”
O jovem arquiteto Leonardo Finamor, hoje na casa dos 30 anos, já contou ao Boas Novas que sua intenção, ao criar a Reparação, ia além da reforma na casa das famílias. Seu propósito era, também, ajudar a recompor, a recuperar, de alguma forma “consertar” a dignidade das famílias atendidas.
“Como arquiteto, sempre achei que a casa é um lugar imprescindível para o bem-estar das pessoas. A Reparação nasce, então, fundamentada no sonho de que todas as famílias possam ter um lar digno para viver, que funcione não somente como uma barreira física, mas que seja também um invólucro emocional num mundo tão desigual”, assinala Leonardo.
E para quem imagina que trabalhos sociais como esse só beneficiam as famílias diretamente atendidas, os voluntários contam que, na verdade, eles recebem mais do que doam. Lição que o jovem empreendedor social Leonardo Finamor compartilha:
“A Reparação não repara apenas casas, mas constrói histórias, repara corações e estimula constantemente o conceito de que nada, nem ninguém, é descartável e que tudo pode ser reparado”.
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