Nova esperança para pacientes com Mal de Parkinson

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Axônios de neurônios corticais estimulados (em verde) projetam para a área escura e ativam neurônios (em rosa); os demais permanecem inalterados (azul) Imagem-Alexandre Magno / Faculdade de Medicina da UFMG
Axônios de neurônios corticais estimulados (em verde) projetam para a área escura e ativam neurônios (em rosa); os demais permanecem inalterados (azul) Imagem-Alexandre Magno / Faculdade de Medicina da UFMG

Mais uma esperança para os milhares de pacientes portadores do Mal de Parkinson. Pesquisadores da Faculdade de Medicina da UFMG descobriram que a estimulação de um subgrupo de neurônios localizados na superfície do cérebro, na região do córtex motor secundário, ameniza sintomas da doença. Segundo os pesquisadores, o tratamento pode resultar na melhora da função motora e cognitiva do paciente.

O resultado do trabalho da equipe mineira foi publicado recentemente no Journal of Neuroscience, periódico da Sociedade Americana de Neurociência, um dos mais respeitados do mundo. Os testes foram feitos em camundongos com a doença, que tiveram áreas específicas do cérebro estimuladas por meio da técnica Optogenética.

O termo optogenética refere-se a técnicas que combinam luz (ótica), genética e bioengenharia e permitem o estudo de circuitos neuronais e comportamentos atuando em células específicas.

Luiz Alexandre Viana Magno, do Programa de Pós-graduação em Medicina Molecular da Faculdade de Medicina, explica melhor a técnica: “Com ela, é possível modular apenas as células que estão ‘doentes’, por meio do uso de luz e de procedimentos de engenharia genética”.

Tratamento

Neurocientista Luiz Alexandre Viana Magno, da Faculdade de Medicina da UFMG
Neurocientista Luiz Alexandre Viana Magno, da Faculdade de Medicina da UFMG

De acordo com o pesquisador, que é biomédico, neurocientista e pós-doutorando, atualmente existem duas formas principais de tratar a Doença de Parkinson: medicamentos ou procedimento cirúrgico. Os remédios, entretanto, deixam de fazer efeito após alguns anos de uso.

Para os pacientes cujos medicamentos deixaram de fazer efeito, uma  a alternativa é a realização de uma cirurgia que emprega a estimulação elétrica para corrigir as áreas cerebrais com atividade alterada. O procedimento cirúrgico, entretanto, é de alto risco, pois impõe a necessidade de implantar eletrodos em áreas profundas do cérebro afetadas pela doença.

Outro problema, como explica o pesquisador, é que o emprego de corrente elétrica não consegue direcionar os estímulos para células específicas, fazendo com que todas as células próximas ao implante sejam afetadas, mesmo as saudáveis.

Na pesquisa da UFMG, o objetivo foi investigar o potencial terapêutico da estimulação em regiões superficiais do cérebro, desde que elas se conectassem com as áreas profundas disfuncionais.

“Descobrimos que a manipulação da atividade de áreas superficiais é suficiente para provocar a melhora. Essa observação indica que, futuramente, o procedimento cirúrgico passará a ser simplificado, diminuindo os riscos decorrentes da manipulação de áreas profundas do cérebro”, assinala Alexandre Magno. “Além disso, nossa técnica só afeta o tipo de neurônio envolvido na doença”, complementa o pesquisador.

Optogenética

A técnica de estimulação cerebral batizada de optogenética foi descrita recentemente por cientistas da Universidade de Stanford (EUA) e usada pela primeira vez para fins terapêuticos, na América Latina, no Laboratório de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da UFMG.

Para ativar os neurônios, foi realizado um procedimento cirúrgico nos camundongos, que envolve a injeção cerebral de um DNA que codifica a produção de opsinas (grupo de proteínas sensíveis a luz na retina).

Essas proteínas, quando estimuladas com luz, ativam os neurônios. Três semanas depois, outro procedimento foi realizado para a implantação de uma fibra ótica, que possibilita a liberação precisa de luz na região cerebral indicada. Os padrões da fotoestimulação são controlados por computador, fornecendo em tempo real a possibilidade de eventuais reajustes.

Os pesquisadores puderam observar, como conta Alexandre Magno, que o efeito terapêutico da optogenética é instantâneo. “Na primeira sessão, os animais recuperavam ou pelo menos melhoravam a sua atividade motora. Nós, inclusive, observamos que o procedimento também proporcionou diminuição dos déficits de memória, algo que nenhum outro procedimento dessa natureza foi capaz de conseguir”, revela o pesquisador.

Segundo \Luiz Alexandre Magno, a pesquisa é um ponto de partida para outros estudos. “Pode ser que a gente consiga encontrar outras áreas cerebrais, também localizadas na superfície do cérebro, que, quando estimuladas, proporcionem benefícios terapêuticos ainda maiores do que aqueles que nós observamos até o momento”, prevê o pesquisador.

Mal de Parkinson

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, 1% da população mundial acima de 65 anos tem o mal de Parkinson. No Brasil, a estimativa é que mais de 200 mil pessoas sofram da doença.

Na maioria dos pacientes, os sintomas começam a aparecer a partir dos 50 anos, sendo que a maior prevalência é entre idosos com mais de 70 anos.

O mal de Parkinson é uma doença degenerativa que ainda não tem causas conhecidas. O que se sabe é que ela é desencadeada por uma série de fatores, que podem variar de um indivíduo para o outro e que envolve diferentes genes, mas especula-se que fatores ambientais também podem desencadear a doença.

Com Assessoria de Comunicação da UFMG

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