O papel fundamental do futebol na luta contra o preconceito

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As camisas de futebol podem ajudar na luta contra o preconceito

Nos últimos dias, duas datas comemorativas me levaram à reflexão sobre quanto, cada vez mais, o futebol pode ser fundamental para ajudar a propagar boas mensagens e também disseminar entre seus fãs condutas que podem ajudar o mundo a ser bem melhor. As datas em questão são o Dia Internacional da Igualdade Feminina (26 de agosto) e o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica (29 de agosto).

Para fazer algumas mensagens chegarem de forma mais clara aos torcedores, nada melhor do que usar suas camisas. Não tem como o recado chegar mais abertamente do que nos mantos sagrados de cada fanático.

Sou colecionador de camisas e vou apresentar aqui duas peças da minha coleção que servem como exemplos perfeitos sobre o assunto.

Começando pelo Leganés, da Espanha. No ano passado, o clube entrou em campo em uma partida contra o Barcelona vestindo uma camisa com detalhes roxos e rosas. Na Europa, apenas em ocasiões especiais um clube usa seu uniforme reserva em partidas disputadas em casa. Mas o motivo era especial. Nas costas, um laço e os dizeres #NoAlaViolenciaDeGénero.

A campanha encampada pelo clube fez tanto sucesso que a prefeitura local entrou em contato com o Leganés com o objetivo de estabelecer um acordo de colaboração para estruturar ações de conscientização não só na sociedade como no mundo do futebol.

O Leganés, portanto, foi um clube da primeira divisão espanhola que usou toda a visibilidade de uma partida contra o Barcelona para mostrar seu apoio a mais uma data, o 25 de novembro, Dia Internacional Contra a Violência de Gênero. O impacto, claro, não poderia ter sido mais positivo.

A camisa do Legánes | Foto: acervo Frederico Jota

No dia da partida, um garoto e uma garota entraram em campo e ajudaram a divulgar uma campanha sobre o mesmo tema, mas dirigida aos adolescentes, chamada #HaySalida, que tinha como mote “Os maus tratos não chegam de repente”. Telões e microfones ajudaram a deixar ainda mais clara a mensagem.

A pergunta é: quem melhor do que o futebol para fazer algo dessa proporção? Detalhe: a partida foi transmitida para todo o mundo.

Igualdade

Um bom — e prático exemplo — sobre a igualdade de gênero veio da Inglaterra, também em 2017. Foi quando o pequeno Lewes FC se transformou no primeiro clube do mundo a equiparar os salários dos homens e das mulheres. Além disso, igualou também as condições de trabalho e ofereceu à equipe feminina investimentos em gramados e em equipamentos de treinamento.

Tudo como parte da campanha Equality FC, lançada pelo próprio clube, que frequenta tanto com os homens como com as mulheres as divisões inferiores do futebol inglês.

Já a Federação Norueguesa decidiu, também no ano passado, tratar os gêneros como iguais nas seleções nacionais, igualando os valores recebidos pelos atletas que estão a trabalho da equipe nacional. Quem também adotou a mesma medida foi a federação da Nova Zelândia.

Conscientização

No México, o tradicional clube Puebla, que é azul e branco, usou uma faixa rosa enorme em sua camisa reserva na temporada 2016. Na ocasião, a ideia era conscientizar a população local sobre o câncer de mama. Novamente, a utilização de uma camisa de futebol, sagrada para os torcedores, ajudou a difundir uma mensagem que talvez não chegasse de forma mais rápida ou clara para a grande massa.

A camisa do Puebla | Foto: acervo Frederico Jota

E, assim como foi no caso da camisa do Leganés, o número e o nome do jogador, além de detalhes como a marca do patrocinador esportivo e golas e mangas todas estavam em rosa. Mesma cor que, em vários momentos do futebol, foi rechaçada por diversos torcedores de forma homofóbica.

Tudo contra a homofobia

Homofobia é um tema cada vez mais combatido pelos clubes de futebol na Europa. Recentemente, Liverpool e Manchester City usaram em suas redes, atrás dos escudos, as cores do arco-íris para simbolizar o apoio à causa LGBT e a ações como a Parada do Orgulho Gay. Ainda na Inglaterra, até o ano passado existiam 27 torcidas gays reconhecidas oficialmente pelos clubes das três primeiras divisões.

Na terra da rainha, campanhas como o uso de braçadeiras com o arco-íris, placas de conscientização em estádios e até mesmo um aplicativo, criado pelas entidades que controlam o futebol local, que recebe denúncias contra o preconceito, mostram como é importante o papel do futebol nessa questão.

A Uefa também decidiu entrar de sola na briga contra a homofobia. Na cerimônia de sorteio da fase de grupos da Champions League, realizada nesta quinta, dia 30, o zagueiro geórgio Guram Kashia, que defendia o Vitesse, da Holanda, foi homenageado e se tornou o primeiro jogador a receber o prêmio #JogoIgual.

Kashia usou a braçadeira de capitão com as cores do arco-íris e colegas de profissão e até mesmo jornalistas de seu país o criticaram pelo gesto. O absurdo chegou ao ponto de Kashia receber pedidos para que renunciasse à seleção da Geórgia.

A posição firme de usar a faixa, mesmo sendo oriundo de um país com enorme resistência à comunidade LGBT, resultou na decisão da Uefa em premiar o jogador. Mais uma vez, o futebol foi o protagonista de uma ação de impacto e de grande visibilidade contra o preconceito. O esporte pode fazer muito. E mudar realidades.

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Sabe de alguma ação desse tipo, que usa o futebol para combater o preconceito? Entre em contato com a coluna. Histórias assim merecem ser contadas e divulgadas.

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