Mineira cria livraria virtual para obras brasileiras na Europa

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A Capitolina Books vende autores brasileiros na Europa

Há 17 anos vivendo na Inglaterra, a escritora mineira Nara Vidal usa somente a língua inglesa em seu dia a dia. Conforme ela conta, com o passar dos anos, o português ganhou uma conotação afetiva de “volta para casa” — por isso, nas narrativas que escreve, só usa a língua materna.

Para atender pessoas como ela, que sentem saudades do português, Nara fundou a Capitolina Books, uma livraria on-line que vende livros brasileiros fora do circuito comercial na Europa. Capitolina tem raiz na literatura brasileira. O nome vem de Maria Capitolina Santiago, a Capitu de “Dom Casmurro”, romance clássico de Machado de Assis.

Enquanto autores como Machado de Assis e Clarice Lispector são relativamente fáceis de ser encontrados fora do Brasil, aqueles lançados por pequenas editoras não chegam ao mercado internacional. “A minha intenção com a Capitolina, mais do que ser um negócio de venda de livros, é ser uma vitrine para escritores de editoras menores. Quero mostrar que se produz uma literatura de alto nível no Brasil”, afirma a escritora, que é de Guarani, que fica na Zona da Mata mineira, a 276 km de Belo Horizonte.

Com esse mesmo objetivo, ela publica, nas redes da Capitolina, a revista digital “Oblique”, sobre literatura brasileira. Além de crítica literária, a revista conta com entrevistas e traduções de trechos de livros, caso de um capítulo de “Rio–Paris–Rio”, de Luciana Hidalgo. “Faço questão de que a revista seja toda em inglês, como uma forma de quebrar esse muro entre nossa literatura e os leitores ingleses. Aqui temos pouquíssimas traduções, pois o mercado inglês é autossuficiente e autocentrado”, comenta a autora.

Nara Vidal fundou em Londres a Capitolina Books, livraria virtual
A escritora mineira Nara Vidal, criadora da livraria virtual Capitolina Books| Foto: Divulgação

Devagar, os trabalhos (que ela faz sozinha) começam a dar frutos. “Em pouco tempo, fui procurada por dois editores europeus que queriam contatar autores brasileiros disponíveis na Capitolina. De pouquinho a pouquinho, começa a se espalhar. Talvez um sonho seja uma tradução e a publicação de um deles no mercado europeu.”

Embora esteja na internet e seja fruto da tecnologia, o trabalho da Capitolina é muito mais artesanal do que pode parecer. Nas vindas ao Brasil, realizadas normalmente no período de férias, Nara faz uma seleção das obras lançadas — e leva tudo na sua bagagem. Por isso, o catálogo da Capitolina é pequeno, com um estoque reduzidíssimo, com cerca de duas unidades de 110 títulos. “Gostaria muito de manter esse perfil não necessariamente comercial”, diz.

Assim, embora o volume de vendas não seja tão grande, não é raro que os livros se esgotem — e sejam repostos somente na volta da escritora ao Brasil. Esse é o caso de títulos como “Todas as Coisas sem Nome”, de Walter Moreira Santos, e de “A Loucura dos Outros”, livro de contos da própria autora.

Projetos literários além da livraria virtual

Com filhos pequenos, de 6 e 9 anos, Nara se vê diante da dificuldade de ensinar português às crianças — uma língua estrangeira para elas, que têm o inglês como materna. A literatura a ajudou a quebrar essa barreira — e foi isso que acabou a projetando ao mercado literário.

Com narrativas bilíngues que escreveu para os próprios filhos, ingressou no mercado de obras infantojuvenis — e já conta 15 títulos publicados. Desde então, foram mais dois adultos, de contos. O primeiro romance está previsto para o ano que vem.

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