Tem um “turu turu” no meu peito

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Imagem - Pixabay

Com o Natal pertinho, o coração da gente ganha vida própria. Bate tão forte que quase sai do peito. É um tal de “turu turu” no meu peito” que não acaba mais. Muitas lembranças. Uma avalanche delas. Quase soterram a gente. E muito amor resgatado.
Dessa vez resolvemos inovar. Colocamos um Papai Noel em tamanho natural na varanda daqui de casa. Ficou meio desconjuntado. Tem uma perna mais gordinha que a outra, o ombro esquerdo está mais baixo que o direito, a cabeça está desproporcional ao corpo. Haja defeitinhos. Há até quem se incomode com o excesso de luzes. Ricardo passou a chamar a varanda de “Las Vegas”. Que seja!

Nesse caso prevalece a máxima “o que vale é a intenção”. E a nossa é a melhor possível. E que não é possível agradar a todos. Há uns que amam. Têm até conversado com o nosso Papai Noel. Outros, no entanto, odeiam.
No mais, “tudo continua como dantes no quartel dos Abrantes”. A exemplo dos anos anteriores, por aqui os preparativos começaram cedo. Lá para outubro o Natal já começou a pautar as conversas daqui de casa.
– E o Natal, heim? Tá pertinho, diz uma das irmãs.
– É mesmo, né? Confirma a outra.
– Ihhhh, esse vai ser mais um ano de lembrancinhas. Êta fase difícil! Nos últimos tempos tem sido assim.
– Que pena, lamenta a terceira, que sugere: o jeito é a gente apelar para o amigo oculto.
A mais pragmática diz:
– Isso dá trabalho, mas não há outra saída. A gente dá presentes para as crianças e os adultos entram no sorteio do amigo oculto. Temos que começar a pensar na montagem da árvore, nos enfeites da casa, na ceia.
– Pra ceia nem precisa, uai! O cardápio é o mesmo desde que a gente se entende por gente, diz a outra.
Todas riem da afirmação. É quase uma piada familiar.
– E você, Gisele, que é dada a invencionices na cozinha, nem ouse excluir a farofa de biscoito cream cracker. E nem pensar em cortar o tutu de feijão. Isso vai dar briga na certa. O Beto e o Bernardo não vão nos perdoar, orienta uma das seis irmãs.
Quando Papai estava por aqui sempre entrava nessa parte da conversa e dizia:
– Ceia tem que ter pernil e frango assado. É de lei. Afinal, essa é uma família mineira.
– Pode deixar a sobremesa comigo. Vou fazer a mousse de vinho igualzinha aquela do ano passado. Na nossa família, todo mundo ama, né? Não pode faltar, lembra uma das sobrinhas.
E lá vem a pragmática de novo:
– E ainda tem as frutas, as castanhas, as bebidas. Precisamos fazer uma lista.
A partir daí os dias passam a correr acelerados até que novembro chega e com ele o Advento. Fim do planejamento. Hora de botar a mão na massa de fato.
Papai se preocupava com as luzinhas da varanda. A Denise, com a árvore. Detalhe: ela quer sempre uma árvore maior. Nunca está satisfeita. Sempre quer uma bem grandona, igual aquelas dos filmes da Sessão da Tarde. Bobagem. De tanto ela reclamar, atualmente temos uma com quase dois metros de altura. Tá de bom tamanho.
Com a árvore montada, os galhos começam a ganhar vida. Os enfeites são lindezas que herdamos da mamãe. Pedacinhos de saudade. Outras peças vieram na mala. Recortes de uma viagem inesquecível. Impossível deletar da memória a visita à Feira de Natal de Salzburgo. E não é só a feira. A Áustria inteira parece mesmo um presépio. Por lá tudo é muito lindo. Não resisti à delicadeza dos enfeites de madeira pintados à mão. Comprei alguns.
A árvore ficou linda. Mas falta o toque da Jacq. É pra ficar mais encantadora ainda. Já sabemos que ela vai colocar aquele monte de urso para compor a cena.
– Aí, me Deus! Rezando aqui pra Jacq esquecer daquele bem grandão. Acho que não vai caber, receia a Denise. Desconfio que esse irmão vai “tomar chá de sumiço” por alguns dias. A conferir.
O presépio também já foi instalado. Está em um lugar de destaque na casa. Estratégia pra ninguém esquecer do sentido da festa. O Menino Jesus permanece deitadinho na manjedoura. Mas, tadinho! Deve estar mortinho de frio. Continua à espera das palhas que não virão. Tem sido assim desde que crescemos. Quando crianças, a cada boa ação realizada, a cama do Menino Jesus ganhava mais uma palha. Ideia de gênio da Mamãe. Era para trazer um pouco de paz à família. E dá-lhe palha. No Natal era tanta palha que mal se via o Jesus Menino. Ele ficava praticamente soterrado. Mamãe, irônica que só ela, elogiava:
– Filhos de ouro. Uma legião de “anjinhos”. Só que têm data de validade. Depois do Natal a vida voltará ao normal. E é só Deus na causa.
Até tentamos resgatar a tradição com os sobrinhos. Nada feito. São outros tempos. Fomos vencidos pelos Robloxs, K-pops…. Sem drama. É assim mesmo.
Só como curiosidade, bora fazer uma busca na internet para conferir os preços das cestas de Natal, outra tradição da família. Impossível. Preços nas alturas. Fica pro ano que vem. Nesse, a exemplo do ano passado, do retrasado … nada de cestas. Tem problema não.
Se não tem cesta, que nos fartemos com as lembranças das cestas da nossa infância. Presentes do Tio Chico. Vinham lá do Rio de Janeiro. Chegavam pelo Correio dias antes do Natal. Vovô Nenen fazia desse presente mais um ritual. No dia 25, logo após o almoço, abria a cesta em uma mesa com banquinhos. Ficava no fundo do quintal, à beira do rio Pará. A gente se embolava ali com os brinquedos que Papai Noel tinha deixado na árvore e haja doces, biscoitos, castanhas pra dar conta de tanta gula … tudo era uma delícia. Tudo era mágico. Como o Natal.

1 COMMENT

  1. Sua família é encantadora!!! Queria ser uma ” joaninha ou uma Borboletinha”para ver como as coisas acontecem aí na sua casa😄😄😄
    Eu também amo o Natal ❤️

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