Do que são feitos os sonhos?

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De que são feitos os sonhos? Gisele Bicalho dá o seu palpite. Imagem - Pixabay
De que são feitos os sonhos? Gisele Bicalho dá o seu palpite. Imagem - Pixabay

Se tem uma coisa que me intriga e me encanta é a relação da poesia com a cozinha. Vivo em busca de significados, de referências. Quer um exemplo? Por que alguém chamaria uma refeição mais elaborada de banquete? Pesquisa daqui, pesquisa dali, quem me deu a resposta foi a escritora Ana Roldão. Banquete vem do Italiano banchetto, um diminutivo de banco. Referia-se a uma pequena refeição para comer sem necessidade de se acomodar à mesa.
A mudança de hábitos e de costumes alterou completamente o seu sentido. Será? É que me lembrei que em uma das minhas muitas incursões pela origem das palavras vi que banquete tem a ver também com saciar apetites da alma e do estômago. Lá pelos anos 564 a.C., Esopo dizia que “um pedaço de pão comido em paz é melhor do que um banquete comido com ansiedade”. Ou seja, naquele tempo, lá na Grécia, banquete era banquete mesmo. Vai saber, né?
Voltando à Ana Roldão – eu a conheci num programa do Rodrigo Hilbert – a escritora e pesquisadora diz que quando o momento exige que se vibre na frequência do amor ela corre pra cozinha e se deixa levar pelas receitas que confortam o coração”. Uai, Ana! A gente se conhece pessoalmente? De onde? Dessa vida? Tenho certeza que não. Quem sabe de outras, né? É que a gente é muito parecida. Comigo é bem assim. O mar não tá pra peixe? O clima pesou? A vida perdeu o brilho? Lá vou eu pra cozinha, que é lugar de resgatar o viço.
Por falar nisso, em outras vidas (lembrando que muita gente não aceita, discorda, não acredita …, mas aí já são outros quinhentos, como diria a Vovó Cocota.) certamente a gente já se esbarrou. Afinal, falamos a mesma linguagem. Penso do seu jeitinho. Que nem.
Voltando à vaca fria, a verdade é que o sentido das palavras me fascina. E se for sobre comida, então? Piro geral. O que dizer de “amor aos pedaços”? E de “papo de anjo”? Imagine você, bem terrena, bem pé no chão, de prosa com um anjo:

  • Hello, baby? O que há de novo aí em cima? O Todo Poderoso tá de boa? Melhor nem perguntar. Pelo que estou vendo por aqui, acho que Ele vai ter que intervir naquele quiprocó entre o Putin e o Volodymyr Zelensky. Credooo! Como dão trabalho! Esconjuro três vezes. Isso tá chegando perto demais da gente. Que se entendam, claro, com a interveniência divina.
  • Em se falando sobre a paz, Deus é mesmo o melhor mediador. Ele tá de olho nesses dois, retruca o anjo.

Voltando pra cozinha e pelos nomes das delicinhas da Terra Brasilis, temos” Beijinho”. Hummm! Temos também “Brigadeiro”? Amo, mas o nome não é lá tão afetivo, assim, né? Dizem que teve origem nos anos 40. Nasceu durante a campanha presidencial do Brigadeiro Eduardo Gomes. Na época, um grupo de mulheres da alta sociedade organizou um evento para arrecadar fundos para a campanha do candidato. Uma dessas mulheres era a esposa de um brigadeiro, que criou um doce em homenagem ao marido e o chamou de “brigadeiro”. O docinho servido no evento fez tanto sucesso que logo se espalhou por todo o país.
E o que dizer de “palha italiana”? Não se deixe enganar pelo nome. A palha italiana é um doce 100% brasileiro. Vai saber o porquê ganhou esse sobrenome? Ah, temos o “bolo de rolo”. Mas, não se afobem. Não se trata de nenhum “pega pra capá”, de nenhuma contenda. O bolo de rolo é somente um doce tradicional da região Nordeste do país, mais especificamente de Pernambuco. Consiste em uma massa fina e delicada de pão de ló, que é enrolada com um recheio doce, geralmente de goiabada cremosa. Uma delícia! Iarinha, mineirinha da gema, faz um bolo de rolo divino.
E sobre “sonhos? Você costuma sonhar? Eu, não. Infelizmente. O apagão se deu depois que passei a tomar hemitartarato de zolpidem, popularmente conhecido como Patz, Stilnox, entre outros. Se sonho, não me lembro. Uma pena! Pra compensar, consumo sonhos. De todos os tipos, principalmente os de padaria. Por que não faço?

Uai, porque tudo o que tem que fritar dá trabalho. Você faz a massa, esquenta o óleo. Aí vai colocando as colheradas de massa. Um caos. A gordura espirra, a gente se queima inteira, salpicada de manchinhas vermelhas. Medicada e com a cozinha e o fogão limpos, a gente vai para os finalmente. Depois de fritos os bonitos são recheados, para, em seguida, rolarem no açúcar com canela. Huuumm! Amo! Mas na padaria tem. E aí, né? Vale a lei do pequeno esforço.
Sonhos, brigadeiro, beijinho … a lista é infinita. Poderia ficar aqui por horas puxando pela memória. Mas prefiro deixar o assunto em “banho-maria”. Quem sabe a gente volte com essa prosa em outro momento? E se você é uma cozinheira de “mão-cheia”, assunto é o que não vai faltar. Espero por você. Enquanto isso vá pesquisando. Há muita história a ser contada. Inté!

3 COMMENTS

  1. Amoooo bolo de rolo.
    Quando fui em Pernambuco comi o original. Perfeito! E ainda trouxe para comer em Minas.
    Adoro fazer o bolo de rolo também. Da trabalho. Mas é muito bom.

  2. Uai, Gisele, fiquei até com fome diante de tantas delícias…. o sonho é realmente um sonho de tão bom!!! Adoro, é uma pena que fazê-lo dá muito trabalho!

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