Conceição do Pará, julho de 2022

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Imagem - redes sociais
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Oi, Mãe!
Está tudo bem por aí? Acredito que sim. Só perguntei mesmo pela força do hábito. Aliás, por falar em hábito, retomei esse aqui. Decidi lhe escrever uma carta. É que a senhora anda sumida. Pouco tem aparecido nos meus sonhos.  Sinto falta da sua presença, dos seus conselhos, da sua companhia.

Estou lhe escrevendo para falar sobre cinema. Lembra do filme “O estranho caso de Benjamin Button”? Pois, então! O Velho Osvaldo incorporou o personagem. Anda aprontando. Agora deu para rejuvenescer.  Ainda outro dia li um texto de um querido, o Daniel Fabris. A senhora iria gostar muito dele. No texto, ele diz que um dia “dormiu filho e acordou pai”. É assim mesmo.  No texto, Daniel fala sobre a inversão de papéis. Na verdade, ele fala sobre amor, sobre a entrega, sobre doação.

Acredito que a história dele é a mesma nossa e de centenas de outras famílias. “As mudanças são gradativas, homeopáticas no começo, um pouco afoitas no ciclo intermediário e então, de repente, avassaladoras em curto intervalo de tempo. Quando me dei conta, estava marcando médicos, acompanhando em consultas, controlando remédios, coordenando a casa e contas, rebolando pra conciliar meu trabalho, guerreando pra manter, pelo menos dentro de um registro mínimo, vida pessoal.”

É assim mesmo. De uns tempos pra cá o nosso “Benjamin Burton” se entregou sem reservas em nossas mãos. Trabalho? Nenhum. Sinal de que ao longo desses muitos anos de convivência desenvolvemos com o nosso querido uma relação de extrema confiança.

Mas não fique aí do alto, em meio a essa imensidão celeste, pensando que estamos lidando com um serumaninho cem por cento dócil, que se deixa levar para onde o vento vai. Que nada! O “Velho do Rio” que a senhora conheceu como a palma da mão de vez ainda insiste em dar as cartas. Quer se impor, principalmente quando deseja tomar uma “branquinha”. Aí é um Deus nos acuda. Mas, a senhora sabe bem como é. A gente acaba cedendo. Nunca resistimos ao charme dele.

Lembra como ele gostava de dançar? Gostava, não. Gosta. E como. Aquele dançarino que fazia o maior sucesso nos salões de baile ainda resiste bravamente. É só ouvir um acorde que já quer sair bailando pelo quintal ou pela casa. E se for tango e bolero então? Aí é que o bicho pega. E como dança bem! É o meu parceiro de dança preferido. O melhor. Olha eu aí falando de algo que a senhora sabe muito melhor que eu. Formavam um par maravilhoso. O mais lindo que já bailou por aqui.

Mas como nem tudo é um mar de rosas, tenho que lhe contar que a fase “vovô pilateiro”, infelizmente, ficou para trás. Os noventa estão pesando nas costas. Se a senhora estivesse por aqui talvez ele até se animasse, mas … Melhor mudar de assunto. Vamos falar de coisa boa.

Quer vê-lo alegre é receber a visita dos netos e bisnetos. Para todos há um sorriso, um gesto, uma palavra de carinho, um apelido carinhoso. E quando se demoram a vir a gente já sabe que tem pergunta no ar:

  • E a minha menininha? Por que não está aqui? Pergunta, insistentemente, referindo-se à Juju, à Gabriela ou à Lorena, que, não sem motivos, enchem o vovô de beijos e de muitos abraços quando se encontram.

Agora é que me dei conta que estou me alongando demais. Vai ver tem muitos afazeres e eu fico aqui lhe ocupando com as coisas terrenas. Então vou me despedir. O nosso papo sobre cinema fica para outro dia. Mas, antes de ir, um pedido. Vê se no aniversário do nosso Velho Osvaldo a senhora aparece pelos sonhos dele. Faça com que ele ria um pouco. Aproveite para dar uns conselhos. Peça apara comer melhor e resistir por mais noventa. A gente anda carente de colo. E o dele é o melhor.

Fique com Deus! Ops! Esqueci que a senhora já está com ele. Dê um beijo em Nossa Senhora por mim. Tenha paciência com os anjos. Imagino o trabalho que dão.
Com amor.
Gisele

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