“Em época de cancelamentos diários e sentimentos que mudam num piscar de olhos, celebre as relações que resistem bravamente ao duro passar dos tempos. São elas que, no final das contas, nos ajudam a seguir em frente e acreditar em dias melhores.”
Tá bom! Já sei. Aprendi nas aulas da PUC Minas que a gente não deve começar um texto com aspas, citação ou qualquer outro nome que se dê a essa (má) prática literária. Mas, abrindo uma exceção, pedindo licença aos meus mestres – salve, salve! – vou me permitir.
É que o texto da Fernanda Mello cabe direitinho no meu momento. Nos últimos anos perdi de vista um monte de “amigos” (ops!). Seria culpa dos algoritmos? Talvez. Se for, a fatura desse “ocaso virtual” vai pro Mark Zuckerberg. Ou seria pro Steve Jobs? Ou até mesmo pro Bill Gates? Vai saber, né?
A questão é que nesse jogo do “perde & ganha”, a medalha de ouro brilha no pescoço daqueles que permaneceram. Daqueles que não se renderam ao distanciamento e às mazelas da vida. Vamos de exemplo que é pra simplificar. Nos últimos dias, ameaçados pelo aumento de vazão das águas do Rio Pará, um amigo conquistado nos tempos do Senado, final da década de 1990, reapareceu como se a gente tivesse se visto no dia anterior. Assim que soube da enchente ele reapareceu na minha timeline. Estava preocupado conosco.
- Como vocês estão? E seu pai? Está bem?
Colegas da PUC – a maioria não vejo há anos – também tornaram-se presenças constantes no Whatsapp.
- Gisele, estamos preocupados com vocês. Está tudo bem?
E o meu primeiro chefe e ex-professor da PUC?
- Giza, estamos preocupados. Dê notícias.
Os colegas que conheci no primeiro emprego. E alguns poucos que vieram depois.
Seria injusto citar nomes. Há muitas outras pessoas nessa lista que explode de amor. Centenas de mensagens. Telefone não parou de tocar. Conclusão óbvia que encheu meu combalido coração de alegria: não estou sozinha. Ebaaa! O algoritmo não me venceu. Os melhores sobreviveram. Os leais. Os verdadeiros. Sempre eles. Ainda bem, né?
Quer saber? Gracas a Deus essa avalanche de amor não tem a ver só comigo. Não estou sozinha. Outras pessoas também estão conseguindo sobreviver a esse tsunami de desamor. Quer saber? Nelson Rodrigues é que estava certo. “Toda unanimidade é (mesmo) burra”.
Pra você ter uma idéia do proporção desse tal cancelamento, lá na Coreia do Sul há um caso emblemático. Quem é “dorameira” conhece bem essa história. Em novembro do ano passado o meu “Oppa” do coração foi cancelado. Dois meses depois do ocorrido, o meu “crush sul coreano” deu a volta por cima. Já ganhou vários prêmios e passou a liderar os rankings de popularidade em vários países.
Tudo isso graças aos fãs espalhados pelo mundo afora. O ator, cantor e modelo foi vítima da ex-namorada. Ressentida com o fim do relacionamento, a moça passou a disseminar inverdades sobre a vida privada do casal pelas redes sociais. Como consequência, o artista foi imediatamente cancelado. Perdeu papéis em filmes e em séries de TV. Perdeu tambem vários contratos publicitários. Afinal, que empresa iria querer associar a sua marca a um cancelado? O mercado se fechou para ele. A reação veio dos amigos verdadeiros. Foram eles que se encarregaram de divulgar os prints de várias conversas, que desmentiam a ex-namorada. Os fãs se juntaram aos amigos e reagiram em cadeia.
Aos poucos, pra minha alegria, o meu querido “Oppa” vai se resgatando. Quem viveu (ou vive) esse tipo de banimento sabe que o processo de cura é muito lento. Apesar de já estar de volta ao set de filmagem o meu “oppa” ainda se mantém calado. Permanece longe dos holofotes. Recusou, inclusive, outros papéis em anúncios e séries. Não dá entrevistas e nem tem interagido com os fã clubes como fazia antes. Processo doloroso. Falo de cadeira. Experiência própria.
Veja só! Por aqui, na Rádio Alvorada, a Ana Carolina insiste em perguntar:
“Eu só quero saber em qual rua a sua vida vai se encostar na minha? (…)”.
Eu não tenho a menor idéia. Quem sabe quando a gente souber como desinventar esse tal do cancelamento? Quem sabe ai a gente possa se ver? Enquanto isso não acontece, procuro levar a minha vida celebrando as relações que resistem com bravura. Seguindo em frente. Acreditando em dias melhores nesse mundinho dos (des) cancelados!
👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻ABAIXO O CANCELAMENTO!
Amado, continuo por aqui. Insisto em viver no universo paralelo, no mundo habitado pelos que cultuam o amor. Um dia, tenho esperança, anda vamos nos sobrepor ao rancor e ao ódio. Beijos. 🥰
Sempre.
Bacana, Gisele. Eu, como sou de outra época, ainda vivo numa dimensão analógica, apesar de até usar, comedidamente, coisas como facebook e whatsapp. Instagram, twitter e outros de jeito nenhum. E os amigos, só os que gosto e sempre gostei. Às vezes, muitas aliás, fico entediado com tantas futilidades e equívocos digitalizados. Muitos deles de pessoas das quais gosto. Mas como ninguém é perfeito e respeito a liberdade alheia, vejo , leio, mas finjo que não vi nem li. Até pra não gerar polêmicas inúteis num mundo hoje carregado de ódio, preconceitos e fake news tratadas como verdades. Nem direita, nem esquerda, muito menos centrão. Onde habito há música, poesia, paz e esperança. Fiquei honrado com a velhice temperada com senso crítico. E cultivo diamantes que são amigos sempre, intelectualizados e os sensíveis e doces, como vc, como velhos amigos que jamais serão cancelados e produzirão sempre flores pra minha alma. Dentro da perspectiva de um país lindo, quente, solidário e de amores. Sou de um país, sempre serei, de gente que soma, como caetano, gil, como chico e bituca, gal e bethania, como elis, como elza, clube da esquina, djavan, joão bosco, e novos baianos , como dorival, raul, paulinho da viola, pixinguinha, noel, cartola, tom, vinicius, drummond, quintana, manoel de barros, fernando brant, adélia e tantos outros. Esse sim é o meu referencial de Brasil. Todos analógicos, verdadeiros, autênticos e eternos. Beijos.
Amado, continuo por aqui. Insisto em viver no universo paralelo, no mundo habitado pelos que cultuam o amor. Um dia, tenho esperança, anda vamos nos sobrepor ao rancor e ao ódio. Beijos. 🥰