Se é Cica bons produtos indica

Era pra ser um jantar como outro qualquer. Pura rotina. Só que não. Entre uma garfada e outra, o Beto comentou:

– Tudo dessa marca Etti é bom.

Todos concordaram, até que alguém à mesa comentou:

– É boa, sim. Concorre com a Cica.

– kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Se você ainda não entendeu o motivo de tanta risada talvez seja porque você não se liga em marcas.  A Cica (Companhia Industrial de Conservas Alimentícias) foi extinta, pasmem, em 2003. (Hellooo, Gisele!!! Olha o micooo!)

Sabe aquela marca de massa de tomates? A Elefante? Pois, é! Era da Cica. Tinha até um slogan: “Se a marca é Cica bons produtos indica”. Viu como a Publicidade funciona? A gente praticamente repetiu o slogan na mesa de jantar. A marca foi comprada pela Arisco há 18 anos. A empresa, por sua vez, foi adquirida, em 2000, pela americana Bestfoods, posteriormente incorporada à Unilever. O extrato de tomate Elefante continua a ser produzido no Brasil pela Cargill. E como é que eu sei disso tudo? Google, uai!

Fico aqui pensando se esse vínculo “afetivo” que a gente tem com a marca é só por causa da qualidade da massa de tomate (olha o merchan, aí gente!). Ou será que é porque na década de 1970 a Cica produzia marmeladas e goiabadas em Delfim Moreira, no Sul de Minas. Nesse caso, já entra o componente bairrismo. Minas, mineiro, mineiridade, coisas de Minas … Vai saber, né?

Ah, se você também é saudosista sugiro que corra até o supermercado mais perto da sua casa. Com certeza lá você vai encontrar a polpa de tomate Pomodoro. Acredita que esse atomatado ainda traz a marca Cica? Como é que eu sei disso? Uai! Porque eu sou dessas que lê tudo o que está escrito na embalagem.  Leio, sim. A maioria. Gosto de embalagens, da cor, do design, gosto daquelas que embrulham as balas. Sou louca por elas. Já reparou como são lindas?

Falando nisso, você conhece como se dá o processo criativo por trás de uma embalagem ou de uma marca? Pois, vou lhe dizer. É doloroso. Resultado de muito suor, lágrimas e criatividade. Um esforço cerebral imenso. Uma hora dessas eu conto os detalhes aqui.

Voltando à mesa do jantar, a conversa entrou pela noite adentro. Foi um tal de citar marca disso, marca daquilo. Acredito que você conheça a maioria. Quer ver? Aposto que ainda se refere à pasta de dente como Kolynos. Aliás, essa marca foi comprada pela Colgate-Palmolive em 1997, que depois a substituiu pelo Sorriso. História longa. Conto outra hora.

Conversa daqui, conversa dali, a gente acabou lembrando de uma série de marcas que ainda sobrevivem. A maioria, pasme, se confunde com o produto. Vamos lá! Quando bate aquela preguiça de cozinhar você, obviamente, apela pro Miojo. Ou vai me dizer que você nunca se deixou seduzir por um pacotinho de macarrão instantâneo? Duvido.

Ah, e se bateu aquela fominha no meio do dia? Sempre há um Danone por perto. A panela tá pedindo um brilho extra? Só o Bombril resolve. E aquele Zíper que vive dando problema? Aquele mesmo, que não para fechado. É cada mico que a gente paga.

Pela manhã, um Leite Ninho com Sucrilhos é sempre bem-vindo. Para manter a embalagem fechada é sempre bom ter um Durex à mão. Cortou o dedo? Band-aid nele. Outra coisa: aposto que na sua bolsa sempre tem Chiclete. Na minha é figurinha carimbada. E aquela vontade de comer um docinho? Receita fácil, rápida e infalível:  chocolate com manteiga e Leite Moça. Ai é só misturar, levar ao fogo e esperar dar o ponto. E dá-lhe brigadeiro. Não há TPM que resista.

Acabou? Que nada. Tem ainda Isopor, Cotonetes Xerox, Catupiry, Caldo Knorr, Super Bonder, Modess, OB, Jeep, Rimmel, Velcro, Jacuzzi , Tupperware, Vaselina e Botox . A lista é imensa. Não vou cansar você. Mas, só pra finalizar, a verdade é que a popularidade do produto faz com que a marca se torne um termo genérico para o material. Ponto para os publicitários de plantão.