Pesquisa da UFMG identifica espécies chaves para recuperação do Rio Doce

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Rio Doce foi devastado por lama de barragem da Samarco em 2015. Foto - redes sociais
Rio Doce foi devastado por lama de barragem da Samarco em 2015. Foto - redes sociais

No decorrer de quatro anos de pesquisa, um estudo conduzido na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) identificou espécies vitais da vegetação ribeirinha do Rio Doce, essenciais para a restauração do ambiente após o desastre ocasionado pelo rompimento da barragem do Fundão, em 5 de março de 2015, na região de Mariana.

As conclusões, destacadas no artigo “Reference sites of threatened riverine atlantic forest in upper rio Doce watershed”, publicado recentemente na revista Nation Conservation Research, também apontam para o perigo iminente de homogeneização ambiental caso a restauração das matas ciliares não seja conduzida de forma adequada.

Uma das maiores tragédias ambientais do país matou 19 pessoas. A lama tóxica da Samarco percorreu cerca de 600 km. Atingiu o Rio Doce, comprometeu o abastecimento de água em cidade de Minas Gerais e do Espírito Santo, matou várias espécies de peixes e chegou ao Oceano Atlântico.

Efeitos do desastre

O estudo da UFMG, realizado no âmbito do Projeto Biochronos, liderado pelo professor Geraldo Wilson Fernandes do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, visa compreender os efeitos do desastre ambiental que afetou a bacia do Rio Doce.

João Carlos Figueiredo, doutorando em Biotecnologia na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e um dos autores do estudo, explica que a pesquisa tinha como objetivo investigar as espécies e sua abundância na vegetação ciliar nativa das áreas preservadas próximas ao epicentro do desastre.

Utilizando a técnica de “fitossociologia”, o estudo avaliou áreas de mata selecionadas, onde todas as plantas foram meticulosamente medidas, catalogadas e identificadas por especialistas botânicos. A análise da vegetação e coleta de solo foram realizadas em três distritos de Mariana: Santa Rita Durão, Monsenhor Horta e Camargos.

Nos fragmentos florestais de referência, que não foram afetados pela lama, foram identificadas 174 espécies de árvores adultas e 189 espécies de plantas jovens. Segundo Figueiredo, essa região apresenta uma rica diversidade florística característica da Mata Atlântica.

Entretanto, mesmo em áreas tão próximas, os trechos de mata ciliar analisados demonstraram diferenças significativas tanto na composição florestal quanto nas características do solo. A pesquisa revelou que poucas espécies são compartilhadas entre esses trechos, indicando uma alta heterogeneidade de espécies entre os locais. Isso levanta preocupações sobre as práticas de restauração que empregam apenas um grupo restrito de espécies para o plantio, podendo levar à homogeneização ambiental.

Saúde ambiental

O artigo ressalta a importância de estudos semelhantes em toda a bacia do Rio Doce, a fim de estabelecer ecossistemas de referência para orientar a restauração e monitorar seu sucesso. Em um texto de opinião no Portal UFMG, o professor Geraldo Wilson Fernandes, coordenador do Centro de Conhecimento em Biodiversidade, alertou sobre os riscos da homogeneização ambiental, enfatizando a necessidade de considerar as características únicas de cada área a ser restaurada e priorizar a diversidade de espécies vegetais.

O Projeto Biochronos, desenvolvido pelo Laboratório de Ecologia Evolutiva e Biodiversidade (LEEB) da UFMG em colaboração com várias instituições, tem como objetivo avaliar e monitorar a evolução da paisagem e a saúde ambiental da região afetada pelo desastre da barragem do Fundão.

A restauração ecológica da bacia do Rio Doce busca aumentar a biodiversidade e melhorar as interações ecológicas, visando o funcionamento adequado do ecossistema. Por meio de metodologias inovadoras, o projeto busca entender e atuar em diferentes níveis ecológicos para promover a recuperação efetiva do ambiente.

Com informações da UFMG

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