Quando a poesia fazia folia em minha vida

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Imagem - Pixabay
Poesia

Quando a desesperança assume o protagonismo, Deus dá as caras e aponta o dedo em riste:

  • Você não tem vergonha nessa sua cara lavada. Levante a cabeça que eu trago boas novas. Você vai ser tia avó de novo. A Rafaela vai nascer em poucos dias. Pensa que acabou? Lá para maio tem mais gente nova no pedaço. Ainda estou decidindo se será um menino ou uma menina. Vê se segura essa sua ansiedade.

Olha eu aqui com a cara de tacho. Enquanto ando por aqui toda murchinha, o Todo Poderoso está sinalizando para o renascimento. Para vida nova.

Que sorte tem esses dois serzinhos de luz. Vão nascer protegidos pelo amor dessa família enorme e barulhenta. Aliás, proteção é o que não vai faltar. Vacinas, alimentação saudável e cuidados.

E por falar em vacinas, lembrei aqui da minha infância. Se não me falha a memória, já contei essa história antes. No meu tempo da delicadeza vacinar as crianças da família era uma verdadeira odisseia. A parte boa era a viagem. Papai e Mamãe juntavam a trupe e lá íamos nós em direção a Belo Horizonte. Horas de viagem interrompidas por paradas estratégicas para o lanche. Em Beagá, depois de abraçar meus avós e guardar a bagagem, a próxima parada era o Parque Municipal. Naquele tempo, as famílias vinham do interior e faziam fila dentro do parque. Era dia de vacina. Isso foi bem antes do SUS, a política pública de saúde mais inclusiva do mundo. Obviamente, 30 anos e tantos anos depois de criado o sistema precisa de ajustes. Mesmo assim é show. Hoje, para ser imunizado, basta ir à unidade bem do lado da sua casa. O SUS ainda rende bastante prosa. Conto outra hora.

Sobre o Parque, além dessas, tenho muitas outras memórias. Há fotos também, entre elas, uma que adoro particularmente. Eterniza Guilherme em cima de um cavalinho, um clássico do Parque. Quem nunca, né? Tenho memórias olfativas também. Impossível abrir uma melancia e não me lembrar dessas novas incursões em dias de vacina. Cheiro de melancia é um passaporte para o passado. Fatia cortada e lá vou de volta para o baú de memórias. E não é só de melancia. Tenho uma memória olfativa apurada que vai além. E como sou dessas, fui apurar a causa dessa minha esquisitice. Pesquisa daqui, pesquisa dali, constatei o óbvio: “bastam apenas poucos segundos para que os aromas nos façam reviver experiências, sejam elas boas ou ruins. A memória olfativa é uma das mais duradouras, ultrapassando a capacidade da visão e da audição de reter referências. A intensa conexão entre o cérebro e o olfato gera recordações imediatas.”

Não vou me estender aqui, mas li que a memória olfativa tem a ver com um tal de sistema límbico, com o córtex olfativo e com o hipocampo, seja lá o que isso tudo signifique.

Outro estudo aponta que os cheiros associados às lembranças ruins são mais fáceis de ficarem guardados na memória. Tô quase apostando que a minha memória olfativa é seletiva. Só ando me lembrando das coisas boas. E não é de hoje.

Explicações à parte, a verdade é que com toda essa conversa me bateu uma saudade louca de “quando o meu mundo era mais mundo e todo mundo admitia”. Epa! Baixou o Peninha aqui, minha gente! Também pudera. Ele é do tempo em que a poesia realmente fazia folia em minha vida.

Ah, sobre a dor da picada da agulha? Esqueci. Lembra que tenho memória seletiva? Mas do perfume da melancia, ahh, desse eu me lembro sim. Que delícia! Isso é que era recompensa pra quem abafasse o choro na hora da picada.

E, já que estamos falando em recompensas, talvez possamos retomar essa conversa em um outro dia. Então ficamos assim. Até lá!

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