Sou a louca dos programas de Gastronomia. Assisto a todos, até mesmo os repetidos, reproduzo receitas, palpito. Por falar nisso tenho uma dica para a produção do Claude Troigros. Aqui em casa tem um “chato pra comer”. Alguém que odeia carne com osso. Seria um ótimo personagem para o “Que marravilha”. Pensando bem, melhor não. Tudo em nome das boas relações familiares.
- Uai! Mas você ainda assiste TV?
Não só assisto, como gosto muito. Minha família não consegue entender esse meu apego. Dizem que sou vintage etc e tal. Pode até ser. Gosto de jornais também. Sou daqueles que sofre com a decadência da mídia impressa. Dia desses, caminhando pela Savassi com uma das minhas irmãs, vi uma pilha modesta exposta em uma banca. No local, havia poucos exemplares de um famoso jornalão. Estavam ali timidamente, disputando espaço com acessórios e capas de celulares, balas, chocolates e com mais uma infinidade de produtos. - Gisele, veja! Aqui ainda vendem jornais. E eu que pensava que agora todos são on line, disse a Gilda verdadeiramente surpresa.
Conversa vai, conversa vem, o dono da banca, entre saudosista e conformado, comentou que os poucos exemplares ainda encalham. E que para não ficar no prejuízo vende o que sobra por R$ 15,00 o quilo. Quem compra usa para forrar as gaiolas de passarinho ou como tapetes para pets.
Tristezas a parte, voltando às minhas preferências televisivas, ando carne e unha com a Paola Carosella. Será que é porque eu tenho Alma de Cozinheira? Gosto do cenário – uma belíssima casa de Niemayer – amo as receitas, todas muito práticas. Mas, gosto especialmente da forma como ela recebe os convidados. De como conduz a conversa. Há muita delicadeza e sutileza no trato. No fim, todos estão super a vontade, prato cheio para a entrevista ping-pong que vem na hora da sobremesa. Para encerrar, todos lavam os pratos. Como é comum nas nossas casas (ou como deveria ser).
E se não sou famosa, muito menos bloguerinha, já me conformei. Jamais serei convidada para o programa da Paolla. Sendo assim, decidi me auto entrevistar. Sem mais, vamos às perguntas e às respostas: - Uma lembrança doce.
De quando brincava com minhas irmãs no quintal dos nossos avós. - Como encontrar sabor quando a vida está insossa?
Cozinhando e escrevendo. - Pra quem você daria uma colher de chá?
Para quem reconhecesse que está errado e fizesse o caminho de volta. - O que você faz quando está só o bagaço da laranja?
Faço bolos. - Ao segurar uma batata quente você resolve o problema ou passa pra frente?
Tento resolver. Fico, como diz os meus irmãos, colocando pano quente. Meu lugar nesse mundo é o meio de campo. Já me conformei com essa posição. - Uma receita para um coração partido.
Asas nos ombros e rodinha nos pés. Viajar, flanar pelo mundo. - Um dia em que você se sentiu a rainha da cocada?
Quando recebi a Medalha do Mérito do Cosems-MG. Obrigada, Mauro Junqueira! - Um dia em você que pirou na batatinha?
Ihhh, melhor abafar o caso. - Como você venderia o seu peixe?
Sou boa no que faço. Só preciso de portas abertas e espaço para voar. - Quem é você na fila do pão?
A que está sempre tentando melhorar. - Que tipo de programa é um prato cheio?
Uma linda mesa, compartilhando uma ótima refeição com pessoas queridas. - Qual o bolo que você levou e nunca esqueceu?
Aconteceu no meu baile de debutantes. O namorado da vez não apareceu. Tenho fotos para provar. Um dia conto tudinho. - Na adolescência que personalidade você achava um docinho de côco?
Tostão, você acredita? Para quem não sabe nadinha de futebol o Tostão, ou melhor, Eduardo Gonçalves de Andrade, foi e ainda é um dos maiores ídolos da história do Cruzeiro. Colecionava tudo dele. Vovô Nenê contribuía com recortes de notícias publicadas no caderno de esportes do Diário de Minas; Seu Inhozinho também era meu fornecedor do meu acervo com de flâmulas, cartazes e fotos. Foi meu primeiro crush. - Quando contam uma fofoca você consegue fazer boca de siri?
Na maioria das vezes, sim. - O que fazer nos dias em que acorda azeda?
Respirar, inspirar, respirar, inspirar … - O que faz quando alguém passa do ponto?
Tento ignorar. Mas se for uma pessoa muito amiga, dou um toque. Vai que ajuda, né? - Qual é a cereja do bolo em um relacionamento?
Confiança e lealdade. - O que lhe adoça a alma?
Demonstração de amor, lealdade e afeto. - Um lugar que é de comer com os olhos.
Paris. Sempre. - Se você é o que você come quem é você?
Bolo. De todos os sabores, cores e formas. - Um dia em que sentiu como um cão chupando manga?
Todos aqueles nos quais me senti injustiçada. - Que tipo de comportamento você acha o mais indigesto?
Aqueles que têm no seu DNA a deslealdade, a mentira e a injustiça. - O que lhe deixa como uma manteiga derretida?
Gestos de amor e demonstrações de pura amizade. - Uma vez em que você meteu o pé na jaca?
Ihhh! Incontáveis. Muitas, impublicáveis. - Uma constatação amarga.
Que a justiça dos homens muitas vezes é falha. - O que fazer quando a batata está assando?
Pé no freio e muita calma nessa hora, que é pra tomar a melhor decisão. - O que fazer quando a pessoa se acha a última bolacha do pacote?
Se valer a pena, insista no relacionamento. Mas que isso é chato, isso é. - O que esquenta o seu coração?
Abraço, demonstração de amor e de amizade. - O que lhe faz esfriar a cabeça?
Ficar quietinha no meu canto com meus livros e minhas formas de bolo. Agora, se a conta bancária não estiver no vermelho, pé na estrada porque viajar faz muito bem. - Um lugar de comer com os olhos?
Mais uma vez, Paris. Viveria lá com prazer. - Ao descascar uma cebola você deixa o choro vir?
Siiimmm! Aproveito a oportunidade para colocar tudo pra fora. - O que lhe faz mudar da água para o vinho?
Gestos de amor. - Uma lembrança doce.
Mamãe me vestindo com camadas e camadas de roupa debaixo da camisola de anjo para me manter quentinha durante a coroação de Nossa Senhora. Naquela época fazia muito frio em Conceição do Pará. Amava também quando Mamãe me cobria. - Na cesta básica da vida o que não pode faltar?
Família e amigos sinceros.
Entrevista encerrada, mais não digo.
Ah, mas antes de ir, já que falei na Paola, uma receitinha ótima que aprendi no Alma de Cozinheira: - Brócolis queimado com molho de tahine
Ingredientes:
• 1 brócolis
• Azeite de oliva a gosto
• 4 colheres de sopa de molho tahine (molho de gergelim)
• Suco de meio limão-siciliano
• 1 dente de alho fresco ralado
• 100 mililitros de água com gás
• Pimenta calabresa a gosto
• Páprica defumada a gosto
• 1 punhado de folhas de coentro
Modo de fazer:
Separe e lave as flores do brócolis. Aqueça uma frigideira com um fio de azeite de oliva e doure os brócolis dos dois lados por 2 minutos. Abaixe o fogo e deixe refogar até caramelizar. Quando estiverem bem dourados, desligue o fogo e tempere com sal e pimenta calabresa.
Molho
Em uma tigela adicione as colheres de tahine, um dente de alho ralado, uma pitada de sal, o suco do limão e água com gás. Misture com uma colher até ficar uniforme. Para servir coloque o molho de tahine por baixo e as flores de brócolis por cima. Finalize com coentro picado, um fio de azeite e páprica defumada polvilhada.
Obs: brócolis pode ser substituído pela couve-flor, pelo jiló ou pelo quiabo.
Eu, ao contrário, adoro a uma série e podcast no YouTube.
TV aberta não vejo por um bom tempo. Não me faz falta nenhuma.
Penso que dá pra conciliar. Uma coisa não invalida a outra. É organizar a agenda. Rsss!
Adorei sua entrevista!
Me identifico
Também amo programas de culinária.
Alma de cozinheira? Sim
Mas ainda aprendiz diante da habilidade, competência,criatividade de Gisele Bicalho
Que comentário mais carinhoso. Sinto-me abraçada, acolhida. Obrigada, Bia! Beijo pro cê.
Gisele, se você não existisse teríamos que inventa-la! Gosto muito do seu jeito de sentir a vida. Admiro até. Que bom que somos amigas!!!
Adorei a entrevista e a receita! Obrigada pela sua presença constante.
Lucianara querida, muito obrigada! Fico tão feliz com seus comentários. Beijos abraçadinhos pro cê.