Fico aqui pensando que a língua portuguesa é mesmo muito rica, muito diversa. O substantivo luto é um bom exemplo. Quando flexionado vira verbo que, por sinal, é rotineiro. Por aqui, a gente luta por justiça, luta para manter a família de pé, luta para ter um bom emprego, luta para sobreviver, luta para ser feliz. E se por acaso alguma coisa sai fora de ordem, haja luto.
Nada diferente do que o Guimarães Rosa escreveu. “Viver é um rasgar-se e remendar-se.” É um rasgar de corações, emoções, sentimentos e corpo. É colcha de retalhos, é mosaico; é arte feita com os pedaços que a vida faz da gente, e que a gente deixa, porque deseja viver e pagar o preço, que é sempre pago, e nem sempre baixo”.
Mas, se há dias de luta também há dias de glória. Nos piores o que mais desejo é colo, dengo, máquina do tempo para um retorno à infância. Por falar nisso, dia desses li um texto da safra do Elton Luiz Leite de Souza que tem tudo a ver com essa prosa. Ele contou que sonhou estar se preparando para uma cirurgia cardíaca. Angustiado, pensava que não sobreviveria à operação. Mas, ao se deparar com o cirurgião o medo desapareceu. O médico era nada mais nada menos que o poeta Fernando Pessoa. No princípio, achou estranho. Depois percebeu que aquilo fazia sentido. Afinal, nada melhor que um poeta travestido de cirurgião de corações angustiados. Procedimentos feitos, quando o cirurgião-poeta abriu o peito do sonhador o coração dele não sangrou, nem houve dor. Para surpresa do sonhador foi preciso enfiar as duas mãos para conseguir tirar o coração do seu peito. Pediu explicações.
- Está pesado como um paralelepípedo! Preciso extrair o que lhe pesa, afirmou o cirurgião-poeta, para, em seguida, diagnosticar:
- O que lhe pesa não é coisa física; o que lhe pesa é a mágoa com o passado, a decepção com o presente, o medo do futuro e a descrença nos homens.
Mas, prepare-se. Não acabou ainda. Quando o sonhador olhou para a mão do cirurgião-poeta voltou a surpreender-se. Desta vez com o tamanho. O coração era minúsculo, pouco maior que uma semente. - Com esse coração pequenino não vou sobreviver, protestou o sonhador.
- Ele está assim pequeno porque deixei apenas o coração da criança, concluiu o poeta-cirurgião.
Finalizado esse diálogo, o sonhador despertou com um barulho. Era o livro “O eu profundo e outros eus” escrito por Fernando Pessoa, que havia caído ao lado de sua cama.
De volta ao mundo real acabei de me lembrar que temos um livro de interpretação de sonhos em algum lugar aqui de casa. Já foi muito consultado. Depois ficou esquecido em alguma estante. Talvez em alguma gaveta. Vou ver se encontro. Vai que algum sonho sinalize para caminhos menos tortuosos. Vai que com um mapa fique mais seguro seguir em frente. Afinal, como diz Pessoa, “navegar é preciso; viver não é preciso”.
Ah, ainda sobre viver, sobre desafios, caminhos tortuosos ou não, nunca é demais lembrar de um recadinho do bruxo Carlos Castaneda. Diz ele que antes de embarcar em qualquer jornada, é preciso perguntar se este caminho tem um coração. Se a resposta for não a gente saberá. Ai então deve-se escolher outro caminho.
Olha o coração ai de novo. Sempre ele.
linda essa comparação do coração. Amei!
Obrigada por ler e comentar. 🥰
O luto pode ser superado com a adoção de um novo objeto de amor ou de valor, que pode ser uma pessoa, um animal, um trabalho, um lugar, etc.
Esse poema diz tAqui eudo:
“Luto”
Luto é a dor que não tem fim,
É a saudade que não tem fim,
É a tristeza que não tem fim,
É a lágrima que não tem fim.
Luto é a dor que nos faz sofrer,
É a saudade que nos faz chorar,
É a tristeza que nos faz lembrar,
É a lágrima que nos faz recordar.
Luto é a dor que nos faz crescer,
É a saudade que nos faz amar,
É a tristeza que nos faz aprender,
É a lágrima que nos faz perdoar.
(Autor desconhecido)
Luto é tudo isso mesmo. Obrigada por comentar. Beijo.
“Viver é um rasgar-se e remendar-se.” Do luto a luta…
Bem assim, né Jacq!
O coração e suas razões.
Amei.
São muitas as razões, né mesmow Eta coração!
Pois é!
Bem assim, né.
No fundo, no fundo, o que a gente queria é quer ninguém se perdesse de ninguém. Mas ai já é argumento para uma nova prosa. Obrigada por comentar. Abraços.
Adorei a imagem dos pequenos corações!!! Quanto ao meu,estou sempre seguindo suas instruções.❤️❤️❤️
A gente tem estar sempre atento. Que é pra não nos perdermos na caminhada. Às vezes (ou muitas vezes) fico sem foco. Beijo.