“Se o ano tem tempo para as flores e tempo para os frutos porque a vida não terá também o seu outono? (…)”
Não há como discordar do Padre Vieira. Começamos a morrer quando nascemos. Esse é o ciclo natural da vida. Só não é natural a dor de quem sobrevive à perda.
O que fazer com as nossas histórias? O que fazer dos momentos que construímos ao longo da nossa existência? E dos laços de afeto que estabelecemos?
Para responder a essas e a outras infinitas perguntas o escritor Joaquim Pessoa propõe uma volta à origem: “Procura-me com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram.”
Essa volta à origem talvez seja mesmo um bálsamo para acalmar a nossa dor.
- Você lembra disso? E aquela vez, heim?
A verdade é que a nossa infância foi boa demais. A juventude e a maturidade também. Haja lembrança. Todas permeadas pela força de nossa Mãe e pela “pseudo rigidez” do nosso Pai. Nessa nossa família muito unida, mas também muito engraçada, acreditem, quem dava as cartas era a Mamãe. Ela, sim, fazia o papel de durona para domar a tropa de dez filhos. Papai, ao contrário, era doce como mel. Doçura e amorosidade que só aumentaram com a idade. Duvidam? Perguntem aos netos e bisnetos.
É só a gente se juntar para que as histórias voltem com a força das cachoeiras em dias de tempestade. Nessas horas as lágrimas não são de dor.
Estranho falar sobre risadas quando a ausência do nosso Pai está doendo demais. Há quem acredite que o tempo cura tudo. Ouvimos muito essa frase de amigos que desejam apaziguar a nossa alma. Agradecemos a intenção. Só que sobre isso não há consenso. A escritora Martha Medeiros diz que não é bem assim: “o tempo não cura tudo; o tempo apenas tira o incurável do centro das atenções”.
Vai ver é bem assim mesmo. A verdade é que nosso amor maior se foi. E pra essa ausência, pra esse vazio que ficou, não há medicamento ou poção mágica que dê jeito. Só a fé nos faz seguir em frente. Sem o colo de Deus, sem o manto protetor de Nossa Senhora para nos abrigar, não estaríamos de pé.
Se a fé nos fortalece, há também os amigos e parentes. Orientados pela sabedoria dos nossos pais construímos pontes. Não há palavra, não há gesto que recompense a presença de vocês nesse momento de tanta dor. As manifestações de amizade chegam a todo momento. Muitas presencialmente; centenas de outros por emails, mensagens de Whatsapp ou posts nas redes sociais.
Uma dessas mensagens é a mais perfeita tradução do nosso Velho Osvaldo. Veio de uma amiga que nem conhecemos pessoalmente. A Eliane Teixeira disse que aquilo que aprendemos com o nosso pai não se deu apenas com palavras, mas pela sua bondade ao transformar nosso coração em terra fértil; primeiro ele cuidou de nós, depois tivemos o privilégio e a honra de cuidar dele. E aprendemos que não perdemos as pessoas que amamos. O amor transfigura a morte em semente que, de novo nasce, cresce espiga e amadurece. Hoje percebemos nosso pai no ar que respiramos, na chuva, nos animais, nas árvores e nos frutos da terra. Sua companhia nos alegra e nos enche a alma de luz. Tudo isso apesar da dor.
Para agradecer a todos vocês que mais uma vez recorremos a Padre Vieira:
“(…) a terra boa são os corações bons ou os homens de bom coração; e nestes prende e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por um…”.
Obrigada pela presença aqui nesse minifúndio, obrigada pela amizade. Papai está vivo no amor de cada um de vocês. Que Deus e Nossa Senhora os protejam e guardem.
O que me dá alegria é a certeza que senhor Osvaldo semeou boas sementes E elas vão brotar,crescer,florir…e este ciclo se perpetuará.
Então é isso:
” Ele está vivo em vocês e estará sempre conosco”
O amor foi o fertilizante deste plantio.E não há como os frutos não serem os melhores.
Com amor a gente vai seguindo.
Abraço vocês com todo meu coração ❤️
Obrigada, minha amiga querida.