Essa vida é mesmo muito louca

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Imagem - Pixabay
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Tarde dessas Papai contou que até o nascimento da primogênita, as roupas dele e da mamãe eram todas organizadas. Tudo arrumadinho. Depois que Gyslaine nasceu fez-se o caos. Os dois não tinham tempo pra nada. Era um tal de ir à Pitangui para comprar músculo e leite em pó, trabalhar, cuidar da casa. Papai usava as poucas horas de folga para construir o carrinho pro Boneco passear com a bebezinha.  Tá, mas quem era esse Boneco? Uai, era o cabrito que puxava o carrinho.

E eu fico aqui matutando que esse Senhor do Tempo é um danado. Mexe mesmo com a gente. Ainda outro dia li um texto do Cláudio Chinaski em que ele fala sobre isso.

” (…) A noção de que um mês já se passou não se encaixa na minha cabeça e nem em minhas memórias (…) Quantos anos se terão passado quando o sol surgir outra vez? Cada noite de sono é uma década, cada mínimo deslocamento do sol no céu azul do planalto central são meses que escorrem não se sabe para onde. Como prender o tempo, me pergunto, e uma coruja pia na mata fechada.

Para que prender o tempo, me pergunto, e volto a buscar a lua no horizonte, mas ela já se foi. Já é outra noite, outro tempo, outro o planeta azul e o véu de estrelas que o cobre. Outro eu. Talvez.

Volto a caminhar no escuro na esperança tola de me encontrar comigo mesmo já voltando de onde eu ainda não fui.

Essa vida é muito louca. Só me resta tirá-la para dançar de vez em quando. Agora já existe claridade. Mas só por alguns instantes.”

Voltando à relação do Papai com o tempo, penso naquilo que o mantém apegado à vida. Acredito que seja a sua incompletude. Ele sempre foi assim. Inquieto. Diria que Papai já fez de um tudo na vida. Conduziu boiadas guiado pelo som dos berrantes, dirigiu caminhões Brasil afora, abriu trilhas em matas para que a Cemig instalasse torres de transmissão, foi dono de padaria, mercadinho, serraria … Foi até prefeito.

Não me espantaria se alguém dissesse que Manoel de Barros se inspirou no Velho Osvaldo quando escreveu que ele não se contentava em ser apenas um sujeito que abria portas, que puxava válvulas, que olhava o relógio e que comprava pão às 6 da tarde, entre outras coisas. “Perdoai. Mas eu preciso ser Outros”, eternizou o poeta.

Papai é assim. Para vencer o tempo se reinventa todos os dias. Mesmo que o fio condutor dessa reconstrução sejam as lembranças. Talvez ele esteja em busca desse “outro eu”. E nessa aventura ele tira a vida pra dançar no salão de baile da varanda. E ai é vida que segue. Graças a Deus!

8 COMMENTS

    • Você é convidada de honra desse baile. Papai adoraria dividir uma dança com você. A varanda, a cozinha e o quintal de casa estão sempre abertos para quem ele ama. Beijo pro cê.

    • Obrigada, Marcel! Compartilhar a histórias, os causos do Velho Osvaldo, me deixa feliz. Ele também gosta e está sempre perguntando:
      – Quantas curtidas, Gisele?
      Fofo, né? Beijo pro cê.

  1. Gisele, como deixar de se inspirar neste “Velho Osvaldo”? Ele lhe conduz através de um amor tão lindo, tão pleno que só temos a agradecer-lhe por nos fazer sentir o quão valoroso é estar em família.

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