“Uber” de abelhas? Sim, ele existe no Brasil, foi criado por uma startup de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, e já pode ser acionado. Por meio de um aplicativo, a empresa Agrobee coloca em contato criadores de abelhas com agricultores interessados em alugar colmeias para polinizar suas culturas. Vantagens? Inúmeras. Entre elas, aumento da produtividade, que pode chegar a 30%.
No caso das plantações de café, por exemplo, a empresa constatou que o uso das abelhas para polinizar as plantações representou um aumento médio de 8,8 sacas por hectares, o que representaria uma economia média de R$ 3.960 ao proprietário rural (também por hectare).
Já o uso das abelhas nas culturas de morango mostrou um aumento de quase 13% no peso médio dos frutos e de 19% no teor de açúcar – ou seja, morangos mais doces. Outro detalhe importante: sem as abelhas, o índice de deformação nos frutos pode superar 76%, o que representa grande prejuízo para os produtores. Com a polinização, esse índice caiu para 23%.
Segundo Cristiano Menezes, pesquisador da Embrapa especialista em abelhas, no caso das lavouras de café que foram polinizadas por esses insetos, o fruto apresenta duas sementes, o que explica o aumento da produtividade. Sem a polinização, o fruto normalmente apresenta apenas uma semente.
“Essa plataforma digital da Agrobee nasce para integrar o criador de abelhas, que tem os insetos disponíveis para serem usados na polinização, com os agricultores, especialmente produtos de café, que precisam dessas abelhas. Em síntese, a ideia é aproximar quem tem as abelhas de quem precisa das abelhas”, ressalta Menezes.
Investidores
A plataforma criada pela Agrobee desperou o interesse de investidores. Em julho, a empresa fez um acordo com um clube de investimentos, administrado por famílias do agronegócio interessadas no desenvolvimento tecnológico do setor. Com o aporte de recursos, a Agrobee pretende desenvolver novas ferramentas para o aplicativo e ampliar o negócio para todo o Brasil.
Uma das novas ferramentas vai permitir que os técnicos da empresa avaliem a qualidade das colmeias que serão alugadas por meio de fotografias enviadas por celular pelos produtores. Hoje, essa avaliação é feita presencialmente, o que acaba gerando mais custos e até mesmo atraso na liberação dos insetos.
A Agrobee também define a escolha das espécies corretas para cada tipo de lavoura, a quantidade de caixas adequadas, que é baseado no tamanho da área, bem como o local mais adequado para a instalação das colmeias.
“Fazemos também auditoria nas colmeias para ver se elas atendem os requisitos exigidos, como quantidade de abelhas, sanidade, se estão produzindo cria – porque aí elas vão necessitar de alimento e não servem para a polinização”, explica Arthur Nascimento, biólogo da startup.
A expectativa da Agrobee é ampliar, nos próximos dois anos, o acesso ao “uber” das abelhas para outras lavouras, como de soja, girassol, laranja e morango”.
Ganhos ambientais
Além do comprovado aumento da produtividade, o uso das abelhas como polinizadores trás também outros ganhos. De acordo com os biólogos da Agrobee, ao criar uma cultura em prol da polinização natural, os produtores podem controlar melhor o que é usado no combate às pragas (geralmente, produtos químicos, a maioria muito tóxicos). Ou seja, ganha o meio ambiente.
Há também ganho em relação às mudanças climáticas. Com mais produção por hectare, a necessidade de ampliar a área de lavoura e, consequentemente, gerar algum tipo de desmatamento, tende a diminuir.
Com agência Fapesp