A doutora Angelita Habr-Gama, de 88 anos, uma das mais renomadas gastroenterologistas do país e referência mundial na sua especialidade, achou que não sobreviveria à Covid-19, que a deixou por 50 dias na UTI do hospital onde trabalha, parte deles entubada. “Não achei que resistiria. Era um quadro muito grave”, disse a médica.
Angelita não só conseguiu vencer o vírus, como voltou a realizar cirurgias no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo (SP), onde ela trabalha há 60 anos, menos de 30 dias após receber alta. Ela foi internada no dia 18 de março e dois dias depois, com um quadro grave da doença, teve que ser entubada. “A partir dali, não me lembro de mais nada”, contou ela à BBC Brasil.
A médica acredita que pode ter sido infectada em duas circunstância. Numa viagem internacional que ela fez junto com o marido, o também médico Joaquim José Gama, em fevereiro. Eles retornaram do tour pela Europa e Israel no dia 28 de fevereiro.
Em 8 de março, Angelita deu uma festa para cerca de 400 pessoas em comemoração ao lançamento de sua biografia “Não, não é resposta”, assinada pelo escritor Ignácio de Loyola Brandão. Na ocasião, ela lembra que abraçou e beijou muitos dos convidados.
Vírus muito agressivo
Na data em que foi internada, o Brasil tinha, segundo dados do Ministério da Saúde, 428 casos do novo coronavírus e quatro mortes confirmadas. Quando ela deixou o hospital, 50 dias depois, o número de infectados já havia passado de 161 mil e os mortos eram 11 mil.
“É um vírus muito agressivo. Ele se propaga com muita facilidade e como ainda não se conhece muito sobre as características dele, é mais difícil tratar. Mas é preciso ser otimista. É grave, mas nem sempre é letal”, afirma a otimista doutora Angelita.
No dia em que recebeu alta, Angelita ganhou também uma homenagem da equipe do hospital onde trabalha. “Angelita Gama é uma referência para todos nós. Vê-la curada, depois de uma intensa batalha contra o vírus, renova nossa confiança na medicina, na ciência, na luta para salvar vidas e traz imensa alegria a todo o corpo clínico e assistencial da instituição”, disse um comunicado emitido pela direção do hospital.
No dia 1º de junho, 20 dias após sair do hospital, doutora Angelita já estava atendendo seus pacientes no consultório particular e no dia 4 fez a primeira cirurgia. Até agora, ela acredita que deve ter feito umas dez operações no mês de junho. “Foi uma delícia voltar a trabalhar”, comemora.
Há projetos para se aposentar? Nem pensar. “Não foi fácil vencer a covid-19, mas depois que venci essa barreira, as coisas se tornaram ainda mais agradáveis. Eu quero continuar exercendo a minha profissão. Estou bem de saúde e intelectualmente. Assim, vou levando a vida”, anuncia doutora Angelita Habr-Gama.
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