Somos todos retirantes do nosso local original. O homem é por si só um ser migratório. Saímos do que hoje convencionou-se chamar de África e fomos ocupando territórios à medida que os recursos findavam, os conflitos cresciam. Com o tempo, fomos perdendo esse hábito, pois começamos a domar os recursos disponíveis. Aprendemos a plantar, melhoramos nossa habilidade de caça, nossa tecnologia de processar alimentos.
Se por um lado deixávamos de viver a mercê da natureza, do outro criávamos disputas novas. É como se trocássemos de algoz. As tempestades não direcionavam tanto nossa vida, mas a hierarquia social, o poder e a capacidade de influência do grupo sim.
E começa novamente a “roda da vida” e as diásporas que vemos hoje. Campos de refugiados espalhados pelo mundo, povos sendo bombardeados para controle de poder. O mais irônico é que, ainda que sejamos todos “migradores”, não conseguimos compreender esse fenômeno mais. Não olhamos com empatia as “mães sem avós”, os “filhos sem pai”, os “meninos sem pai”
Cultura e paladar perdidos
Estranho pensar num país que acolheu meus antepassados libaneses, os bisavós italianos de meu filho, uma imensa colônia de japoneses, turcos, judeus, espanhóis, portugueses (em vários momentos da história) de repente passe a comungar de ideias xenófobas.
Perdemos culturalmente e perdemos em paladar. O país hoje recebe venezuelanos, haitianos, cubanos, angolanos, sírios. Pensem em quanto poderíamos compartilhar? Quantos temperos, sabores, texturas…
A Venezuela e sua arepa, a cozinha síria que traz consigo toda a exoticidade do Oriente Médio construída pela influência de Armênia, Egito, Grécia, Israel, Irã, Iraque, Jordânia, Palestina, Turcomenistão e Turquia em diferentes épocas. A cozinha haitiana que conseguiu fundir a culinária indígena, europeia e africana. Cuba e seu “mojo”, uma combinação de azeite, alho, cebola, especiarias como orégano e laranja amarga que pode ser servido com carne e acompanhado de um refrescante e perfumado mojito.
Reservei uma parte especial do texto de hoje para falar da muamba de galinha, prato angolano que tanto se parece conosco. A ideia é exatamente essa, mostrar que temos mais similaridades que discrepâncias. Aproximar, unir… Nem que seja pelo estômago.
Receita de muamba de galinha de Angola
Ingredientes
- 1 frango ou galinha
- 3 tomates
- 1 folha de louro
- 1 cebola
- 3 berinjelas
- 3 abobrinhas
- 3 dentes de alho
- 1 limão
- 100 gramas de quiabo
- 250 gramas de farinha de milho
- 6 colheres de sopa de óleo de dendê
- Pimenta malagueta
- Sal a gosto
Como fazer
O frango ou galinha deverá ser cortado em pedaços e temperado com sal a gosto. Coloque uma panela no fogo contendo os alhos e as cebolas devidamente descascados e picados. Adicione nessa panela também a folha de louro, o óleo de dendê, piripiri (pimenta malagueta) e o sumo de limão.
Deixe no fogo até observar que os ingredientes estufaram. Ao observar que o frango começou a ficar tenro, você deverá cortar e adicionar as berinjelas e as abobrinhas. Mexa a panela e aguarde enquanto está cozinhando.
Assim que estiver quase cozido, é necessário acrescentar os quiabos, que deverão estar devidamente limpos e cortados em rodelas. Para que o caldo fique mais grosso, adicione farinha de milho previamente dissolvida em água. Em paralelo, você deverá colocar 1 lito de água numa panela no fogo com um pouco de sal. Aguarde enquanto ferve. Metade da farinha deverá ser desfeita em água morna, acrescentado a água que está fervendo.
Com uma colher de pau, mexa bem para que os gomos que forem se formando sejam desmanchados e aguarde enquanto ferve por cerca de 5 minutos. O resultado será um creme espesso, então despeje num prato e o cubra com outro prato. Quando for servir retire o prato que está de tampa e desenhe uma cruz em cima. O frango (galinha) com legumes é servido à parte.
Sugestão: prepare ao som de “Diáspora”, d’Os Tribalistas.
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