A proposta desta coluna é indicar, a cada semana, três livros de um determinado tema. Livros que podem se agrupar em um assunto, uma expressão, uma ideia. E que fujam das listas dos mais vendidos e das resenhas publicadas com frequência em jornais, revistas e blogs.
Nesta semana, indico três livros que recriam a vida de Cristo.
O Evangelho Segundo o Filho, de Norman Mailer
Não é dos melhores livros de Mailer, mas a história de Cristo narrada pelo olhar do personagem até traz algum frescor. Em capítulos curtos, Mailer conduz a história de forma breve, sem grandes investimentos. Funciona bem como exercício de imaginação. Ele é um ótimo escritor, com prosa firme e que sabe conduzir o leitor pelo caminho que quiser — basta ler a coletânea de reportagens políticas “O Super-Homem Vai ao Supermercado” ou “A Canção do Carrasco”. Se a perspectiva muda, ao deixar o personagem principal narrar e discordar da “história oficial” dos evangelhos, pouco se acrescenta nessa versão, polêmica à época de seu lançamento (1998). Soa como uma tentativa quase juvenil de recontar uma fábula.
O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago
Esta é, sim, uma leitura mais elaborada da recriação dos quatro evangelhos fundadores, Mateus, Marcos, Lucas e João. Não é um livro fácil, portanto, sua leitura exige mais do leitor — devo dizer que não sou fã nem leitor regular de Saramago, sua prosa não me agrada, com exceção de “Ensaio sobre a Cegueira”. A introspecção do narrador sugere uma história sendo contada pela primeira vez, com fluxos que permitem um simbolismo mais amplo, sem se preocupar com a herança religiosa que permeia o senso comum. Saramago provocou uma espécie de refundação do mito.
A Última Tentação, de Nikos Kazantzákis
O autor grego foi excomungado pela Igreja Ortodoxa Grega à época do lançamento, em 1954 — o livro entrou para a lista de títulos proibidos pela Igreja Católica Apostólica Romanda, o Index Librorum Prohibitorum. Se o livro de Mailer emerge como reducionista, este vai além ao inserir um tom engajado, de questionamento ideológico. O autor explora os embates que Jesus enfrentou em sua caminhada e o coloca como um homem comum. Quase panfletário, tem boas passagens, mas fica aquém do prometido. O livro inspirou Martin Scorsese e filmar “A Última Tentação de Cristo”.
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